Então, eu, inocente, acreditava que com a chegada da
Internet, TV a cabo com trocentos canais, somado à reclamação geral de falta de
tempo até para ir ao mercado, as novelas da Globo estariam com os dias
contados.
Doce ilusão! Isso é
como uma praga. Não tem como escapar. Até quem nem tem Globo em casa (por
opção) é obrigado a saber o que está acontecendo nas benditas novelas. E um dos
motivos é porque toda hora tem um amigo diferente comentando na rede social o “desenrolar
da trama”. Fazer o que? Não assisto novelas, mas gosto de redes sociais. Vícios
são vícios.
Quando era adolescente adorava os folhetins. Passava boa
parte das minhas noites em frente à TV. Sentava às seis e levantava lá pelas
dez. Hoje acho que foi uma tremenda perda de tempo. A maioria dos meus amigos discorda,
eu imagino, pois até hoje fazem isso.
Quando era criança não sabia o que era novela. Tinha uma vaga
ideia do que era televisão. A primeira
novela que vi foi Tieta, quando tinha onze anos. Andava, todas as noites, um
bom trecho, cheio de buracos e matos. O caminho iluminado por uma fubica
(fubica, pra quem não sabe, é uma espécie de lanterna feita com vela e lata de
óleo). Ia com minha vó - eu morava com ela na época - ao sítio vizinho com o
único objetivo de ver Tieta. Os donos do sítio eram a elite da região porque
tinham TV. Uma Telefunken 14 polegadas, em preto e branco, claro. Na hora da
novela, alguém tinha de ficar girando a antena para conseguirmos decifrar alguma
imagem em meio aos chuviscos. Mas ficávamos lá estáticos. Extasiados.
No ano seguinte mudei pra cidade. Finalmente, “luz” em casa
(não, eu não sou tão velha!). E, entre comprar um fogão novo, uma geladeira,
colocar vidros nas janelas de casa, ou comprar um chuveiro que esquentasse
direito, decidimos que a televisão era mais urgente. Pra nossa alegria, meu pai comprou logo o
aparelho. Usada, é claro. Tínhamos de ligar uma hora antes da novela pra ela ir
esquentando. Mas funcionava. A imagem era até melhor que a da Telefunken da
vizinha da minha vó.
As novelas me acompanharam por um bom tempo. Mas, em um
determinado momento – nem me lembro quando, acho que foi quando comecei o curso
de Letras – descobri que tinha muita
coisa interessante pra se fazer das seis às dez – e todos os dias. Lógico que foi
um pouco difícil entender que estudar semântica, linguística, latim, teoria
literária, ler romances e poemas poderiam ser mais interessantes. Acho que meus
professores tiveram um pouco de culpa pela minha indiferença às novelas hoje.
Imaginem que eles viviam repetindo que quem ficava acompanhando novelas era
alienado. É, devo ter internalizado isso de alguma forma porque ás vezes me pego dizendo essa frase aos meus filhos.
Hoje, quase não tenho tempo de ver TV. E quando “sobra” um
tempinho, tenho uma infinidade de canais à minha disposição (pago,
infelizmente) e vejo como um completo desperdício de tempo, dinheiro, visão,
audição, e outras coisas mais... assistir às novelas da Globo.
Sorry, my friends!
Plagiando a frase do meu irmão: “Às vezes fico sem ter o que conversar. Não
assisto novelas!”