(isso não é um manual
de instruções feito pelo pediatra ou uma cartilha do Programa Cegonha Feliz)
Quando o primeiro filho nasce, além dos desafios de cuidar
do bebê que, diga-se de passagem, não são nada fáceis, os recém-papais/mamães
também têm de aprender a lidar com os comentários de amigos e parentes que se
acham no direito de opinar sobre como cuidar da criança. Todo mundo tem alguma
coisa a ensinar para os papais amadores. Todo mundo se considera expert quando o assunto é cuidar de
filhos – dos outros.
Nos primeiros meses, todas as atenções são para o
bebezinho. A mamãe pode estar despenteada,
perna cabeluda e roupas rasgadas que ninguém vai notar. Os comentários se
repetem, os mesmos clichês de sempre sobre quão linda é a criança. Algumas mães
até acham estranho se alguém olhar para o bebê e não falar que ele é lindo! Já
ouvi gente dizer “que pessoa invejosa!” para alguém que olhou para seu filho e
não disse que ele era fofinho, lindinho, ou outro sinônimo no diminutivo. Mas,
o que incomoda um pouco as mamães, principalmente as amadoras, é a mania que o
povo tem de querer contribuir de alguma
forma, dando dicas de cuidados para o bebê. Até os que nunca tiveram filho se
acham experientes o suficiente para opinar. Talvez por terem assistido alguma
entrevista com um pediatra, por terem lido um trecho de um livro de Piaget, ou
uma matéria na revista Pais e Filhos.
Quando a mãe tem cara de novinha é bem pior, todo mundo acha
que ela não sabe nada da vida (às vezes não sabe mesmo). Se ela sair com o bebê
com pouca roupa, vão falar que o bebê esta com frio; se ela colocar mais roupa,
o próximo que a encontrar vai dizer que o bebê está com calor; se estiver
passeando no sol com a criança, vão falar que é perigoso; se estiver na sombra,
vão dizer que o bebê está pálido e precisa de sol; se o bebê estiver deitado no
colo, vão falar que ele precisa ser estimulado e a mamãe precisa deixa-lo em pé;
se ele estiver em pé, vão falar que ele é muito novinho ainda e pode forçar os
ossinhos... Sempre haverá alguém que vai dizer que o melhor é fazer diferente.
Dias desses presenciei uma cena típica de tarde de domingo,
com direito à família reunida e todo mundo babando em volta do mais novo membro
da família. Avós, tias, primas... todos queriam compartilhar alguma experiência
sobre cuidados com bebês, mesmo os inexperientes. Estava tudo muito bem até que
o bebê começou a chorar desesperadamente. A mãe, por mais que tentasse convencê-los
de que estava tudo sob controle, começou a se desesperar também. Só não chorou junto
com o bebê porque ficou envergonhada. As
avós brigavam entre si para ver quem tinha o diagnóstico certo. As tias também
arriscavam palpites. Esgotaram-se todas as possibilidades: banho, troca,
remedinho para dor de ouvido, remédio para cólica, massagem, passeio pelo
jardim... e o bebê continuava chorando. A mãe se sentia, ao mesmo tempo,
aliviada porque a sogra também não tinha conseguido acalmar a criança e
preocupada porque parecia que o problema era mesmo sério.
O pai do bebê chegou e viu toda aquela mulherada sem saber o
que fazer. Pegou o menino no colo e, meio desajeitado, levou-o para frente da
TV. Os pais são assim: não perdem o futebol nem que o filho esteja em
desespero. Começou a balançar o menino, prestando mais atenção no jogo do que
na criança. Alguns minutos depois o bebê estava quietinho.
Uma avó disse que foi o chazinho que ela deu para o bebê
tomar. A outra disse que foi a massagem na barriga que ela fez. Uma das tias
disse que foi o remedinho para o ouvido que ela deu. A outra tia disse que o
bebê estava com calor e só se acalmou porque ela deu banho. A mãe ficou em
silêncio. O pai passou o resto da semana falando que a única coisa que
conseguiu acalmar o seu filho foi ver o Santos jogar.
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