O sinal abriu para pedestres. Aproveitei para me enfiar no
meio da multidão e atravessar a rua. Decidi ir pelo calçadão, parecia menos
perigoso aquele horário. Quase seis da tarde. Ainda tinha sol. Quer dizer, sol
não, ainda estava dia. Porque sol, nessa cidade, é algo que nunca vi. Mentira,
vi uma vez. No mesmo dia em que me disseram bom dia no açougue e no caixa da
loja de departamentos. Inesquecível!
Enquanto subia, no meio dos que vão e vêm, dois homens em
minha direção, vestidos de tanga vermelha – nada mais – empurravam uma bicicleta
e caminhavam naturalmente. Ambos altos. Um magro, meio barrigudo, outro com
músculos bem definidos. Os dois suavam. E eu sentia frio. Desviei-me deles. Tive
vontade de rir. Na minha terra iam dizer que isso é muito guei.
Além de mim, um grupo de 4 ou 5 adolescentes, cabelo caído
nos olhos, observavam os dois tangas-vermelha e riam. Na minha terra iam dizer
que aquele cabelo escorrido também é muito guei.
Muitos andavam apressados, indiferentes aos homens de tanga
ou aos meninos de cabelos escorridos. O engravatado falava ao celular e parecia
preocupado. A senhora loira segurava a bolsa com as duas mãos. Lembrei-me da
minha tia avisando pra eu tomar cuidado. Segurei mais forte a minha.
As lojas anunciavam descontos de até 50%. Melhor não ficar
olhando vitrines. Segui. A multidão me deixava invisível. Ainda bem! Assim ninguém
observava meu tênis encardido, pé vermelho.
A mulher de burca amarelo-ouro parecia procurar algo na
bolsa. Burca aqui? Pra mim isso só se via no oriente médio! Do outro lado, um grupo de tatuados dos pés à
cabeça, vestidos de preto e com pedaços de metal por todo corpo, andavam imponentes
em meio aos apressados.
A senhorinha de olhos puxados e meio corcunda caminhava
vagarosamente, numa ausência misteriosa. Como se sua vida estivesse num outro
compasso. Observei-a. Queria essa calmaria. Mas a vida me apressava, o sinal abriu
e eu tinha de tomar o ônibus.
É, essa é nossa Curitiba! Acostume-se!! Beijos e boa estadia!
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