sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tudo na vida tem um lado ruim

É impressionante como algumas pessoas conseguem ver um lado ruim em tudo na vida. Dias desses estava conversando com uma amiga cuja característica principal é ser vítima do mundo. Fazia tempo que não nos víamos e quando a encontrei a primeira coisa que me disse foi que estava muito mal. Meu Deus que papo tenso! Mais de uma hora me contando em detalhes todos os seus problemas. Tentei convencê-la de que ela tinha uma vida maravilhosa: era bonita, inteligente, tinha um emprego bom, uma casa, uma família um marido bonito, inteligente e paciente (e isso é um caso raro). Mas não adiantou. Até que eu é que fui convencida de que a vida dela era uma tragédia mesmo e quase começamos a chorar juntas.
O seu trabalho estava acabando com ela. Servidor público sofre muita pressão mesmo. Imagine que o chefe ousou pedir para que ela cumprisse seus horários!
Estava com um terrível problema de saúde. Há anos sofria de dores nas pernas, toda vez que ia para a academia (aproximadamente uma vez por mês). Tinha muito medo de andar de cadeira de rodas. O que seria dela? Quem iria empurrá-la quando fosse ao shopping?
O marido era o homem mais ingrato que existia. Ele não parou de jogar futebol depois que casou! Todos os domingos de manhã ele deixava a sogra e a esposa sozinhas e ia para o campo. E o pior é que só aparecia na hora do almoço e depois ia dormir. E quando acordava era capaz de ficar assistindo futebol na TV se ela deixasse. Como se não bastasse, outro dia teve o descaramento de aceitar sua ex-namorada no Orkut. É um sem-vergonha mesmo. Tudo bem que eles namoraram na quinta série, mas estes namoros de crianças são os mais perigosos. Não custava nada ele abandoná-la para ficar com a ex. Justo ela que fazia de tudo por ele.  Ligava toda hora para saber como ele estava. Colocou até uma foto dos dois no jornal para todo mundo ver que eles tinham ido a Paris.
Estava tão azarada que naquelas férias foi à praia e choveu. Foi a um restaurante caríssimo e a taça do vinho estava trincada. Vê se pode! Taça trincada! Os restaurantes estavam todos contra ela. Num outro, o garçom demorou uma eternidade (quase 5 minutos) para atendê-los,
Comprou um carro novo, mas ia demorar uma semana para chegar. E ainda vinha sem ar-condicionado. Isso sem falar que sua carteira de habilitação estava vencida e ela nem ia poder usar o carro novo durante alguns dias porque aquele povo incompetente do Departamento de Trânsito nem para ligar avisando que sua habilitação estava perto de vencer. Era muita coisa para a sua cabeça.
Tentei lembrá-la que apesar de tudo ela tinha motivos para comemorar. Acabara de ser aprovada no mestrado, por exemplo. Mas ela me lembrou o triste fato de que teria estudar até aos finais de semana. Pobre coitada!
Nisso chegou outra amiga toda sorridente. Essa não reclamou de nada. A vida deveria estar muito boa. Afinal não tinha emprego. Não tinha marido. Não tinha dinheiro nem para almoçar num restaurante simples, muito menos para viajar para a praia. Não tinha carro, aliás nem carteira de habilitação.  Não ia ter problemas com o mestrado tão cedo, pois não tinha nem conseguido entrar na faculdade ainda. Estava feliz.  Que inveja dela! A vida é tão injusta. Uns com tantos problemas e outros numa boa!
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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Insônia

Os anjos dormem
Respiram, suspiram
sonham com papagaios amarelos despencando do penhasco
Há um cachorro...dois... quatro...dez
Eles latem...latem...
Uma orquestra canina numa sinfonia desafinada
Afinal um cão sozinho não tece uma madrugada
Mas alguns andam solitários pelo bairro,
solidários a mim nesta  noite interminável
a vida e tão curta e a noite tão longa!
E eu que não durmo o sono dos anjos...
O dia será tenso
E a noite será serena
E a serenidade da noite me desperta e me enlouquece.
(poema selecionado no varal de poesias da UTFPR-CM)
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Bicho carpinteiro

De tempo em tempo ele aparece. Como diria a minha mãe, é um bicho carpinteiro que fica comichando (nunca soube o que é bicho carpinteiro, mas tudo bem). Por mais que as coisas pareçam  estar bem, esse bichinho fica perturbando, dizendo que algo tem que mudar. Uma amiga disse que é mal de pisciano. Gostamos de coisas  novas, enjoamos de tudo muito rápido. Acho mesmo é que gostamos de sofrer. Vemos poesia no sofrimento. Quando tudo parece normal ficamos entediados. Odiamos coisas normais. Que beleza há na normalidade? Nenhuma história normal foi parar nos livros. Ninguém se emociona com coisas normais!
É isso. Estava tudo muito normal. Perdeu a graça. É necessário  procurar novos horizontes. A mesmice não te da calafrios. A mesmice irrita. A felicidade prolongada demais se esvazia. Os dias sempre iguais te deixam cheio de nada.  Temos um descontentamento eterno. Na montanha queremos o mar. No mar queremos a cidade.
“por alguns instantes, sinto como se estivesse correndo atrás da liberdade, uma liberdade que anda ao meu lado, mas que me amedronta” 
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