segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Dieta



Ela estava acabando de se servir na fila do buffet. Já passava do horário habitual do almoço e a fome estava demais. Percebeu que o prato tinha ficado enorme. Restaurante self-service é assim, não adianta pegar só um pouquinho de cada coisa que no final o prato sempre fica gigantesco, mas agora já foi, pensou. Do outro lado da fila, surge, do nada, o Paulão, seu companheiro de academia.
- Carol, você parou com seu regime? Gritou o moço, nada discreto, fazendo todo mundo olhar para Carolina e sua montanha comestível.
A garota, toda sem graça, olhou para seu prato engolindo a culpa pelo fracasso. Agora, a balança revelava o peso da sua gula. Saiu caro. Ficou calculando mentalmente quantas calorias teriam cada grama de tudo o que estava no recipiente. Por alguns instantes pensou em acertar a conta e sair correndo, sem tocar na comida. Comprar algo no mercado e comer no carro, bem escondidinha. Mas aquela mistureba de massas e carnes parecia muito saborosa. Seria um pecado desperdiçar!
Em meio a uma garfada e outra, e aos olhares de condenação do Paulão e de outros conhecidos e desconhecidos que estavam no restaurante (em cidade pequena não se pode nem comer em paz!), tentava entender porque não conseguia levar adiante a porcaria da dieta que já estava na milésima tentativa. Parecia tão simples. Era só seguir o cardápio do dia na agenda do celular: salada verde e frango grelhado para o almoço e, para sobremesa, um copinho de gelatina (diet é claro!). Mas, por que não resistia às massas?
Talvez fosse culpa da genética. Sua mãe passava o dia todo comendo e fazendo comida. Sua vó, além de fazer o que sua mãe fazia brigava com todo mundo para comer o tempo todo! Sorriu ao lembrar da Nona lhe dando bronca: “Mas não ta comendo direito, vai ficar doente, hã!”. E a Bisa então! Era daquelas que achava que para ser belo tinha que ser gordo. Lembrou de quando a Juliana (sua prima) chegou cansada da academia e a Bisa, olhou-a dos pés à cabeça e disse “ta bonita, gorda!”. A menina queria morrer. Fazia um tempão que ela estava tentando perder uns quilinhos e ter que ouvir um comentário desses! Logicamente, a Bisa não entendeu a saída repentina e cabisbaixa da moça. Que bom seria se todos naquele restaurante pensassem como a Bisa!
Enquanto recordava o passado, o prato ficou vazio. Precisava pagar a conta e sair depressa. Ainda tinha que passar comprar os ingredientes para fazer aquele macarrão que prometeu aos amigos. E o Paulão, é claro, não estava na lista dos convidados. Recomeçaria o regime na segunda-feira.

Texto publicado no jornal Correio do Cidadão no dia 17/12/11.
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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ah, então é uma zona!

Era sábado à tarde. Estávamos, minha amiga, eu e nossos filhos, passeando. Paramos em frente a um boteco com umas características meio suspeitas.
_ Desconfio que este lugar é um antro! Disse ela olhando para o bar e para mim.
Meu filho, todo curioso, se aproxima de nós duas e pergunta:
__  O que é um antro?
Olhamos uma para a outra, rimos e ficamos caladas por alguns instantes. Até que ela começou:
__ Antro, Gabriel, é um lugar para onde, geralmente, os homens vão para beber, se divertir... é um lugar onde ficam algumas mulheres não muito descentes, com um comportamento não muito aceito pela sociedade...
E continuou, procurando todo tipo de expressões que explicassem a palavra “antro”. Ficou meia hora tentando fazer o garoto entender, numa linguagem talvez não muito didática, mas que ela acreditava ser apropriada para crianças menores de 10 anos. Agora os três meninos estavam atentos à explicação. Até que, finalmente, o garoto pareceu entender.
__Ah, então é uma zona!
Melhor não subestimar a inteligência das crianças.
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