Alguns leitores me alertaram que o personagem da minha
última crônica – o Joãozinho – poderia me processar. Achei muito estranho.
Nunca tinha visto na história da literatura um personagem processar o seu
autor. Mesmo assim, fiquei preocupada e fui me informar a respeito para ficar
preparada para minha defesa, caso isso realmente acontecesse.
Depois de uma busca minuciosa pelos arquivos históricos nas
bibliotecas mais conceituadas do país, descobri que (pasmem!) existem muitos
casos de personagens que processaram seu autor. Imaginem que a Capitu, uma das
personagens femininas mais famosas da Literatura Brasileira processou Machado
de Assis. Consta no processo que a personagem do livro Dom Casmurro afirma que Machado denegriu sua
imagem, fazendo os leitores acreditarem que ela tinha traído seu marido
Bentinho com seu melhor amigo, o Escobar. Capitu olhou para o juiz, com olhos de
cigana obliqua e dissimulada, e começou a chorar dizendo que todos os leitores estavam
acreditando que ela era uma piriguete. Depois
de muita polêmica, o processo foi arquivado porque a justiça entendeu que em
momento algum do livro, Machado de Assis afirma que Capitu realmente traiu seu
esposo. “ Foi coisa que colocaram na
cabeça de Bentinho”, disse o juiz.
Descobri também que
numa obra mais recente “A hora da estrela”, a personagem Macabéa também
processou sua autora, Clarisse Lispector. Fiquei chocada! Justo a Macabéa, tão
ingênua! Pesquisando melhor descobri que aquele vigarista do Olímpico de Jesus
é que estava por trás. Lógico, dinheirista do jeito que ele é, queria levar uma
graninha da Clarice. Coitada da Macabéa, foi usada! No processo
constava que Macabéa se sentiu humilhada pela maneira como Clarice a
descreveu. A autora deu a entender que Macabéa era muito relaxada ao dizer que
ela comia o frango que deixava debaixo da cama à noite ; que suas roupas eram
encardidas e que ela sujava as folhas que colocava na máquina para
datilografar. Mas o processo também não deu em nada porque na hora do
julgamento a única coisa que Macabéa conseguiu falar foi “O senhor me desculpe
o aborrecimento” e acabou retirando a queixa contra Clarice.
No final do século XIX, o marido da Sra. Emma Bovary, o médico Charles Bovary,
também entrou com um processo contra Gustave Flaubert. Madame Bovary, como
ficou conhecida, certamente teria, ela mesma, processado seu autor se não
tivesse cometido suicídio no final da história. Charles alega que Flaubert
acabou com a saúde da sua esposa e com o
seu casamento feliz inventando aquelas calúnias. Onde já se viu – argumentava Charles
– Emma Bovary era uma senhora de respeito e Flaubert a descreve como uma pervertida.
Não tive acesso a esse processo, mas dizem
as más línguas que Flaubert teve de indenizar Charles por danos morais. Flaubert até que tentou se defender dizendo a
célebre frase "Emma Bovary c'est moi” (Emma Bovary sou eu), mas
não adiantou.
Porém, não poderia me
basear apenas em romances já que meu texto em questão era uma crônica. Então fui
pesquisar os cronistas brasileiros mais conhecidos e descobri que quase todos
já sofreram algum tipo de processo. Imaginem que o Homem Nu (ele não tem nome)
processou Fernando Sabino; O Homem Trocado (Lírio ou Lauro?) processou Luiz
Fernando Veríssimo; Rubem Braga também já sofreu alguns processos; até Carlos Drumond de Andrade e Manuel
Bandeira já foram processados!
Então, que venha o Joãozinho com suas acusações! Acho que estou
preparada. Procurei os melhores advogados da Literatura para me defender.
LOL
ResponderExcluirElenice, volte a atualizar o seu blog. Não desperdice seu talento de escrever! ;)
ResponderExcluir