domingo, 31 de julho de 2016

O café de Paraty


Sou daquelas que acredita que o dia só começa mesmo depois de um bom café. Mesmo que seja domingo e o café seja feito na hora em que habitualmente é o almoço.
Na última vez que estive em Paraty – e primeira, diga-se de passagem (perdoem-me o trocadilho) – resolvi comprar um suporte com um coador minúsculo, para apenas uma xicrinha de café. Comprei porque era o mesmo suporte que usavam na cafeteria que nos reunimos – as locas da excursão - para tomar café. Comprei porque acreditei que trazendo o coador, toda vez que fizesse café teria um pouco de Paraty, especialmente daqueles momentos de conversa na cafeteria, na minha casa. E para isso que a gente paga o triplo do preço nas lembrancinhas de viagens: acreditamos que com elas vêm um pouco da história, das belezas e da cultura do local onde estivemos visitando.
Mas hoje, ao coar meu café - no coador de Paraty, claro - para minha decepção, a bebida não tinha o mesmo gosto do café da cafeteria mencionada. Alguma amiga poderá dizer que lógico que não vai ter porque usei o café da marca da cooperativa que compro no mercadinho perto de casa e não aquele carrérimo que eles usam lá. Mas não é isso: faltou-me o bolo de fubá com goiabada para acompanhar, a carne louca; faltou o cansaço, as bolhas nos pés após um dia todo andando por uma cidade com ruas tortas de pedras irregulares; faltaram as piadas, os oompas loopas que dirigiam o micro-ônibus; faltou a história de Paraty contada por quem faz parte dela; faltou a beleza dos casarões do Brasil império, observada com o vagar de quem acompanha uma amiga que anda com o pé quebrado, mas anda; faltou o barco que afunda na areia; faltou o espírito aventureiro das jovens senhoras que num ato de rebeldia extrema deixaram seus filhos por um final de semana para viajar com as amigas.
Faltaram as amigas. Faltaram as amigas! Do café de Paraty ficou só a saudade – e o coador. Que nunca nos falte tempo para um café com as amigas, seja onde for.


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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Quando o filho tem insônia


Acordo meio assustada. Tem alguém do lado da minha cama. Mãe, mãe, não consigo dormir, diz uma vozinha meio triste. Ele passa a mão no meu cabelo como quem diz “me deixa ficar aqui”. Tem como dizer que não? Meio sonolenta, olho o celular. São quase três da manhã e ele me diz que não pregou o olho ainda.
O que deixaria uma criança com insônia? Talvez a ansiedade por ter que voltar à aula no dia seguinte depois de duas semanas de greve; ou porque não comeu a pizza que o tio tinha prometido; ou jogou muito videogame durante o dia (mas isso ele faz sempre).
Abre um sorriso e vai se aconchegando ao meu lado, dividindo o travesseiro comigo. Abraço aquele pequeno corpo e tento dizer que está tudo bem, que pode dormir tranquilo, que eu estava ali para protegê-lo. A respiração dele está acelerada, o coraçãozinho agitado, o corpo inquieto, o pé fazendo movimentos repetitivos como se estivesse ouvindo uma música agitada. Não falo nada. Só acaricio sua testa. Aos poucos, a respiração vai ficando lenta e o corpo se estica. Derruba o braço sobre meu rosto. Apagou.
Agora, eu é que estou com insônia. Pensando que nem sempre estarei por perto para fazê-lo dormir.
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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Brasileiros vão ter que aprender a usar redes sociais ou terão suas contas excluídas, diz dono do Facebook



Depois de ver os absurdos que os brasileiros andam publicando nas redes sociais, o dono do Facebook , Mark Gutenberg, decidiu aplicar uma espécie de avaliação aos usuários dessa rede. Assim que se acalmarem os protestos no Brasil, segundo ele, os usuários serão observados durante um mês para constatação se estão ou não aptos a usar o Facebook. Ele disse que agora, no calor dos ânimos, seria injustiça fazer isso, pois muita gente seria reprovada e ele não quer perder tantos usuários.
Os avaliadores verificarão se durante esse período o usuário cometeu alguma das seguintes gafes:
- Postar notícias fake de sites humorísticos e comentar como se fosse verdade;
- Postar notícias ou fotos de mais de dois anos como se fosse recente e distorcer os fatos;
- Compartilhar frases idiotas assinadas por Fernando Pessoa, Clarice Lispector, entre outros escritores falecidos, ou ainda vivos, mas que não fazem a menor ideia de quem escreveu aquilo;
- Compartilhar posts assinadas por apresentadores de TV, colunistas de jornalecos conservadores, políticos famosos... que “qualquer um percebe” que eles jamais teriam dito aquilo;
- Compartilhar e defender a opinião de grupos preconceituosos e reacionários sem se dar conta da manipulação.
A lista contempla outros itens que Mark não quis divulgar. Ele disse que a equipe ainda está formulando a avaliação e que novos itens podem ser acrescentados. Mark afirmou que por enquanto não vai avaliar os grotescos erros de português porque isso não é o pior dos males. Ele citou a frase do poeta nordestino conhecido por Patativa do Assaré “ é melhor escrever errado a coisa certa do que escrever certo a coisa errada” (fez questão de frisar que pesquisou em sites confiáveis pra se certificar de que a frase é desse autor mesmo).
A adolescente de 17 anos, Inocência Winchester da Silva, que costuma compartilhar tudo o que vê e só lê o título das notícias, não concorda com a medida. “Esse cara é um babaca. Se ele excluir minha conta eu volto pro Orkut e ele vai ficar pobre”, ameaça a garota.
Já o pesquisador da área de Engenharia Civil do Instituto Brasileiro de Pesquisa Superior Aplicada, Professor Doutor Armando Pontes,  concorda com Mark mas disse que está com medo de ter sua conta excluída, pois ele também compartilha coisas sem ter certeza se é verdade. “Sabe como é né, nessa correria que a gente vive, pressionados pelo CNPq, muitas vezes não dá tempo de verificar a fonte da notícia (já basta ter que ficar correndo atrás das fontes das pesquisas) e quando eu concordo com o título, acabo compartilhando”, argumenta.
A estudante de Paisagismo, Margarida Aquino Jardim, também concorda com a medida, embora ela admita que tenha de mudar seu comportamento nas redes sociais. “Eu não costumo compartilhar nada que eu não saiba se realmente é verdade, mas costumo desabafar e, muitas vezes, criticar as pessoas que fazem isso, o que também não é um comportamento adequado”.

Obs. Só para esclarecer, caso alguém não tenha percebido, essa é uma notícia fake
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terça-feira, 4 de junho de 2013

Mentira de pós-graduando


Sim, menti. E agora estou morrendo de remorso. Remorso, não. Vergonha, eu acho.  Pois quando descobrirem, vou ser chamada de mentirosa e isso vai ser muito feio de ouvir. Aprendi desde pequena que não se deve mentir. Não me lembro mais quais são os dez mandamentos, mas acho que em algum lugar na Bíblia diz que mentir é pecado.

Primeiro foi pra prima, depois pra tia e agora pra vizinha. Até pra vizinha! Por isso fico trancada em casa durante o dia, sem deixar a menor pista de que tem alguém lá. Sem luz acesa, sem cortina aberta, som alto nem pensar, muito menos barulho de louça sendo lavada ou algo parecido.  Dureza viver assim com esse peso na consciência!

Qual foi a mentira? Disse que estava trabalhando normalmente.  Muito complicada essa história de ficar explicando pra parentes e vizinhos que estou “só” estudando.


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domingo, 14 de abril de 2013

Apenas uma quadra



O sinal abriu para pedestres. Aproveitei para me enfiar no meio da multidão e atravessar a rua. Decidi ir pelo calçadão, parecia menos perigoso aquele horário. Quase seis da tarde. Ainda tinha sol. Quer dizer, sol não, ainda estava dia. Porque sol, nessa cidade, é algo que nunca vi. Mentira, vi uma vez. No mesmo dia em que me disseram bom dia no açougue e no caixa da loja de departamentos. Inesquecível!
Enquanto subia, no meio dos que vão e vêm, dois homens em minha direção, vestidos de tanga vermelha – nada mais – empurravam uma bicicleta e caminhavam naturalmente. Ambos altos. Um magro, meio barrigudo, outro com músculos bem definidos. Os dois suavam. E eu sentia frio. Desviei-me deles. Tive vontade de rir. Na minha terra iam dizer que isso é muito guei.
Além de mim, um grupo de 4 ou 5 adolescentes, cabelo caído nos olhos, observavam os dois tangas-vermelha e riam. Na minha terra iam dizer que aquele cabelo escorrido também é muito guei.  
Muitos andavam apressados, indiferentes aos homens de tanga ou aos meninos de cabelos escorridos. O engravatado falava ao celular e parecia preocupado. A senhora loira segurava a bolsa com as duas mãos. Lembrei-me da minha tia avisando pra eu tomar cuidado. Segurei mais forte a minha.
As lojas anunciavam descontos de até 50%. Melhor não ficar olhando vitrines. Segui. A multidão me deixava invisível. Ainda bem! Assim ninguém observava meu tênis encardido, pé vermelho.
A mulher de burca amarelo-ouro parecia procurar algo na bolsa. Burca aqui? Pra mim isso só se via no oriente médio!  Do outro lado, um grupo de tatuados dos pés à cabeça, vestidos de preto e com pedaços de metal por todo corpo, andavam imponentes em meio aos apressados.
A senhorinha de olhos puxados e meio corcunda caminhava vagarosamente, numa ausência misteriosa. Como se sua vida estivesse num outro compasso. Observei-a. Queria essa calmaria. Mas a vida me apressava, o sinal abriu e eu tinha de tomar o ônibus. 
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quinta-feira, 28 de março de 2013

Bacalhau na Sexta-Feira Santa? Você está fazendo isso errado!



Toda Semana Santa me lembro da bacalhoada do Sr. José, o mesmo português da sopa de marmita da outra crônica. Incrível, mas ele abria a mão para fazer bacalhau na Sexta-feira Santa – delicioso, diga-se de passagem.  Ele, apesar de nunca ter pisado numa igreja, seguia a tradição cristã.
Segundo o cristianismo, na Sexta-Feira Santa, dia em que Cristo foi condenado e crucificado, é dia de sacrifício. Assim, os cristãos não devem comer carne vermelha. Isso porque, na época, a carne era artigo de luxo. Coisa rara na mesa dos mais pobres. Já o peixe era abundante e barato, por isso comum nas refeições dos mais humildes.
Sacrifício comendo bacalhau? Opa, Sr. José e demais “cristãos” que alongam a fila do peixe no supermercado na Semana Santa, acho que vocês estão fazendo isso errado! Qual é mesmo o preço do quilo de bacalhau? Se fosse uma refeição comum na mesa dos pobres, acho que eu saberia.


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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Desabafo - As mães são culpadas



Duas mulheres, no ponto de ônibus, conversavam sobre filhos. O quanto eles dão trabalho. O quanto são exigentes. A pauta do momento era a compra do material escolar. Uma delas disse, com ares de reclamação e ao mesmo tempo de ostentação, que gastou horrores. Fiquei chocada quando ela contou que pagou na mochila, para a filhinha de seis anos, o preço da lista inteira de material que comprei para os meus dois filhos. Por que uma mochila tão cara? Não era uma mochila qualquer, segundo ela. Era da personagem que é a moda desse ano.
Mochila: uma espécie de saco, geralmente feita em lona, costurada, com zíper, algumas divisórias e alças; serve para carregar o material escolar (e outras coisas). Mas alguém resolve colocar a foto de um personagem ou algum símbolo esquisito que todo mundo já viu por aí, e o objeto ganha valor, o preço vai lá nas alturas, trocentas vezes mais que uma mochila sem dezenhozinho famoso, mas que serve para os mesmos fins.
A filhinha não aceitaria se fosse outra mochila. Tinha de ser aquela! A outra ouviu e tentou fazer de conta que o problema dela era ainda maior. O filhinho mal sabe falar, mas já exige as coisinhas dele. Coisinhas de personagenzinhos também.  
Ali do lado, engolia minha vontade de me meter na conversa. Como assim exige? Não aceitaria outra? Desde quando os filhos é que dão ordens às mães para comprarem o que eles querem? Infelizmente, a julgar pelo que tenho visto, faz um bom tempo que isso vem acontecendo e a coisa só tem piorado. O que mais me incomoda é a naturalidade como as mães falam disso e, pela forma como se expressam, vêem nessa atitude certo status. “Olhem só, faço parte do grupo de mães que compram as mochilas mais caras para suas filhas. Eu sou foda!”. E mais. “Não vou deixar que a minha filha faça parte do grupo de filhas que tem as mães que não compram mochilas da moda!”
Fico indignada quando vou ao comércio e vejo crianças birrentas e pais e mães fazendo todas as vontades dos reizinhos. Sou mãe e, certamente, tanto eu quanto meus filhos somos influenciados pelo mundo consumista. É difícil sair ileso desse bombardeio capitalista. Mas, não sei se é porque sou “a cara da pobreza” ou é reflexo do “bulling” que sofri quando era adolescente e não tinha nada igual ao que os outros tinham (e não me fez falta) que me revolto quando vejo a necessidade mortal que os pais de hoje tem de atender as exigências dos filhos, mesmo que fiquem endividados. Criar um filho já não é tarefa fácil. Torna-se bem mais complicado quando deixamos que ele dite as regras.
Sei o quanto é difícil ignorar os comerciais bonitinhos nos intervalos dos desenhos animados. Sei como é seu filho chegar te pedir algo e dizer “mas todo mundo tem, mãe”. Felizmente, passei por isso poucas vezes, mas sei. A resposta, bem clichê: você não é todo mundo! É isso que tenho procurado passar aos meus filhos: eles não são todo mundo. Não precisam usar a roupa da marca x (eles já passaram da fase de pedir mochila da galinha pintadinha, ainda bem) para serem especiais. Tem funcionado. E, quando ainda parece que não entenderam o primeiro recado, uso outra tática que funciona perfeitamente. Explico, educadamente, que quando eles estiverem trabalhando e ganhando o dinheirinho suado deles, podem comprar o que quiserem. Por enquanto, quem decide de onde sai e pra onde vai o dinheiro sou eu. Penso que eles não vão me amar menos por causa disso. E também não vão ficar traumatizados por não terem o que todo mundo tem. Muito pelo contrário. Vão aprender a dar mais valor nas pessoas e não nas coisas que elas têm. Pelo menos é o que eu, uma mãe utópica, vivendo num mundo dominado pelo consumismo, espera. 
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domingo, 20 de janeiro de 2013

Bloqueio criativo? Existe sim.


Estava no meio  da entrevista. Depois de ter sido bombardeada pela outra professora – a minha terceira opção – que tinha cara de boazinha, mas era, na verdade, uma torturadora sem ressentimentos, finalmente ouvi a voz do meu quase futuro orientador.
__ Gostaria que você falasse um pouco sobre sua atuação como blogueira.
Hã? Como assim? Ai, meu Deus, ele lê meu blog! Ele vê as besteiras que escrevo!
Ele ainda complementou a pergunta. Disse algo sobre a minha relação com a literatura nas redes sociais, eu acho. Não me lembro.
Esperava qualquer pergunta, menos essa. Mas, se ele perguntou, queria mesmo que eu respondesse. Não me recordo do que disse. Estava muito nervosa para me lembrar de qualquer coisa que eu tenha falado naquele momento. Devo ter respondido o óbvio. Só me lembro de ter ficado cutucando minhas unhas – isso sempre me acalma quando estou impossibilitada de tacar os dedos na boca e roê-las todas, até sangrar.   
Fiquei imaginando que meu orientador – agora oficialmente - lia meus textos e ficava analisando cada vírgula das minhas crônicas. Parei de escrever! Melhor deixar que pensem que você é idiota do que publicar seus textos e não restar dúvidas (ouvi algo parecido em algum lugar).
Na verdade, mais alguns acontecimentos me fizeram fugir da escrita. Dias antes da entrevista, tinha participado de uma oficina de crônicas com um escritor famoso e ele me fez acreditar que meus textos não chegam aos pés dos seus. Talvez sem intenção, mas fez! A partir desse dia parei de escrever para o jornal que publicava minhas crônicas toda semana.  Decidi ficar só com o blog. Pelo menos aqui é um espaço para o qual vem quem quer, ao contrário do jornal onde minhas crônicas saiam junto com outras publicações tão importantes, como as notas de falecimento.
Outra coisa que me afastou da minha “produção literária” foi o fato de eu ter parado de lavar a louça. Fiquei um tempo com a mão machucada e descobri que meu filho, quando pressionado e chantageado, faz esse serviço direitinho. Deixei que ele continuasse mesmo depois que a mão sarou. Mas o que isso tem a ver com escrever? Explico. Cada escritor tem sua maneira de produzir. Alguns se sentam em frente ao computador e escutam Pink Floyd enquanto olham para a tela em branco; outros fumam e tomam coca-cola compulsivamente; outros, ainda, só conseguem pensar no silêncio da madrugada. Eu produzo enquanto lavo louça. Não que eu seja, assim, uma escritora, mas é como as ideias surgem para mim: ao esfregar os pratos!
Meu filho está viajando e já faz quase um mês que estou sendo forçada a fazer terapia para curar meu bloqueio criativo. E que se dane se meu orientador pensar que escrevo besteiras!  Quanto ao cronista fodão da Folha e da Uol, ele não vai ler meus textos mesmo. Acho que estou curada, por enquanto. Filho, volte logo! Não aguento mais lavar louça. 
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sábado, 20 de outubro de 2012

Desculpa, meus amigos. Não assisto novelas


Então, eu, inocente, acreditava que com a chegada da Internet, TV a cabo com trocentos canais, somado à reclamação geral de falta de tempo até para ir ao mercado, as novelas da Globo estariam com os dias contados.
Doce ilusão!  Isso é como uma praga. Não tem como escapar. Até quem nem tem Globo em casa (por opção) é obrigado a saber o que está acontecendo nas benditas novelas. E um dos motivos é porque toda hora tem um amigo diferente comentando na rede social o “desenrolar da trama”. Fazer o que? Não assisto novelas, mas gosto de redes sociais. Vícios são vícios.
Quando era adolescente adorava os folhetins. Passava boa parte das minhas noites em frente à TV. Sentava às seis e levantava lá pelas dez. Hoje acho que foi uma tremenda perda de tempo. A maioria dos meus amigos discorda, eu imagino, pois até hoje fazem isso.
Quando era criança não sabia o que era novela. Tinha uma vaga ideia do que era televisão.  A primeira novela que vi foi Tieta, quando tinha onze anos. Andava, todas as noites, um bom trecho, cheio de buracos e matos. O caminho iluminado por uma fubica (fubica, pra quem não sabe, é uma espécie de lanterna feita com vela e lata de óleo). Ia com minha vó - eu morava com ela na época - ao sítio vizinho com o único objetivo de ver Tieta. Os donos do sítio eram a elite da região porque tinham TV. Uma Telefunken 14 polegadas, em preto e branco, claro. Na hora da novela, alguém tinha de ficar girando a antena para conseguirmos decifrar alguma imagem em meio aos chuviscos. Mas ficávamos lá estáticos. Extasiados.
No ano seguinte mudei pra cidade. Finalmente, “luz” em casa (não, eu não sou tão velha!). E, entre comprar um fogão novo, uma geladeira, colocar vidros nas janelas de casa, ou comprar um chuveiro que esquentasse direito, decidimos que a televisão era mais urgente.  Pra nossa alegria, meu pai comprou logo o aparelho. Usada, é claro. Tínhamos de ligar uma hora antes da novela pra ela ir esquentando. Mas funcionava. A imagem era até melhor que a da Telefunken da vizinha da minha vó.
As novelas me acompanharam por um bom tempo. Mas, em um determinado momento – nem me lembro quando, acho que foi quando comecei o curso de Letras  – descobri que tinha muita coisa interessante pra se fazer das seis às dez – e todos os dias. Lógico que foi um pouco difícil entender que estudar semântica, linguística, latim, teoria literária, ler romances e poemas poderiam ser mais interessantes. Acho que meus professores tiveram um pouco de culpa pela minha indiferença às novelas hoje. Imaginem que eles viviam repetindo que quem ficava acompanhando novelas era alienado. É, devo ter internalizado isso de alguma forma porque ás vezes me pego dizendo essa frase aos meus filhos.
Hoje, quase não tenho tempo de ver TV. E quando “sobra” um tempinho, tenho uma infinidade de canais à minha disposição (pago, infelizmente) e vejo como um completo desperdício de tempo, dinheiro, visão, audição, e outras coisas mais... assistir às novelas da Globo.
Sorry, my friends! Plagiando a frase do meu irmão: “Às vezes fico sem ter o que conversar. Não assisto novelas!” 
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sábado, 22 de setembro de 2012

To falido - poema do Vitor selecionado no Festival Poético


O resultado da vigésima oitava edição do Festival Poético de Cornélio Procópio saiu na semana que o Vitor (meu filho) fez 9 anos. E ele, pela segunda vez consecutiva, ficou entre os três primeiros da idade de 7 a 10 anos, categoria outras cidades. 
Orgulho de ter um filho com essa veia poética! 





To falido

To pobre, sem dinheiro
Parecendo um brasileiro
Assaltei o leiteiro
Acabou a água do chuveiro
Fui morar no bueiro
E agora?
Falta mais o que
pra me enlouquecer?
Não tenho dinheiro o suficiente
Pra comprar uma escova de dentes
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domingo, 9 de setembro de 2012

De repente, candidato



O Sr. Floriano acordou um dia inspirado e pensou que seria bacana ser prefeito de Itabiboca e decidiu ser candidato. Mas como não tinha muita experiência nessa coisa de sair pedindo votos, ouviu os conselhos da mulher e contratou o Pescoço para ser seu coordenador de campanha. Pescoço conhecia todo mundo na cidade e sabia mentir como ninguém.
__Então, o que temos para hoje, Pescoço?
__ Iremos pedir votos para os moradores do Santa Mônica.  É aquele conjunto novo lá na saída. Lá vai ser fácil passar a conversa. Arruma um tênis velho, uma calça rasgada e encardida e coloca um boné. Vamos pegar o golzinho do Marcão. É bem capaz que ele estrague por lá e isso será muito bom pra nós.
Sr. Floriano continuou atento às dicas do seu assessor.
__Abrace todas as mulheres e criancinhas. Beije-as se não te der nojo. Depois você enxagua a boca com álcool. Se te oferecerem café ou chimarrão, aceite. Se te convidarem para entrar, entre. Ouça as histórias das velhinhas. Eu sei que muitas delas nem votam mais, mas podem convencer os filhos e os netos.  Para as mães você promete creche 24 horas; para as velhinhas, você diz que vai aumentar o número de médicos e horários de atendimento no postinho e não vai deixar faltar remédio. Para os senhores aposentados, diga que você vai construir uma quadra de malha e vai por umas mesas na pracinha pra eles jogarem truco e beberem uma pinguinha; para aqueles piás ranhentos que ficam na rua o dia inteiro, diga que você vai construir um campo de futebol e vai dar bolas de graça (eles não votam, mas os pais votam). Ah, vamos levar uns pirulitinhos pra eles.
__ Quantos eleitores deve ter por lá?  
__ Vamos fazer as contas. Umas quinhentas casas. Em média quatro eleitores por casa (as casas são pequenas, mas as famílias são grandes!).Uns 2000 eleitores.
__Hummm
__  Mais uma dica: tente conquistar os donos do mercadinho. Se eles ficarem do nosso lado é batata! Dizem que além de alimentos, eles vendem drogas e, por isso, mandam no bairro. E se mandam, é porque tem gente que obedece.

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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ficando velha, ficando chata




Quando percebi, estava reclamando para o segundo desconhecido do quanto estava cansada e do quanto era penoso ficar trabalhando de cedo à noite, sem jantar e sem tomar banho, e que nem era pra eu estar lá, e que ninguém nem se lembrou de agradecer, e que... Parei de falar quando me dei conta de que nem eu mesma estava aguentando ouvir minha própria voz.
A palestra estava para começar e, pelo menos, o tema parecia interessante. Fizeram questão de me avisar que a palestrante era quase uma pós-doutora. Não sei foi para deixar bem claro o distanciamento que existe entre nós, pobres mortais, e ela, ou se era uma espécie de aviso para ficarmos atentos, pois uma quase pós-doutora poderia ter exigências bastante específicas. Lembrei –me de uma celebridade, num outro evento, que  na última hora resolveu pedir que providenciássemos algodão cor-de-rosa. Claro. Tão fácil conseguir algodão cor-de-rosa no início da noite!
Mas a palestrante quase pós-doutora foi muito simpática e não exigiu quase nada. Só pediu uma cadeira para se sentar.  Achei estranho. Estamos acostumados com palestrante que falam com a voz e com o corpo. Que andam, mexem os braços, se aproximam da plateia...  Assistir a uma palestra onde o palestrante fala sentado não me deixa muito confortável. Mas, enfim, vai que ela tem algum problema de saúde, pensei.
Ela pediu para usar o projetor multimídia, mas trazia uma pilha de papel, que colocou sobre a mesinha do lado da cadeira em que se sentou. Começou a falar. Com uma voz suave e sempre no mesmo tom, foi lendo, a princípio, as legendas das imagens do telão. Lindas imagens! Fiquei encantada. Mas, terminando as imagens, ela pegou a pilha de papel e começou a ler, página por página. Começou a leitura assim: “no bairro onde eu moro...”. A princípio pensei que se tratasse de uma crônica ou de um conto. Mas não. Era a palestra! Eram as experiências da palestrante numa folha de papel narrada em primeira pessoa. Olhei para o lado, alguns amigos com uma cara de “sério que ela vai ler tudo aquilo?”. E ela continuou.
Aquela voz de contadora de história juntou-se ao meu cansaço e não deu outra: cochilei. Fiquei lutando com Morfeu. Ora, ouvia a palestrante lendo suas experiências, ora trechos de poemas de Drumond, ora trechos de romance de Jorge Amado... De repente já estava ouvindo professora que me esculachou no corredor por causa da greve (como se a culpada fosse eu!) e o meu filho reclamando porque eu não parava mais em casa. Não sei o que foi real e o que foi sonho. Acho que os trechos dos romances de Jorge Amado ela realmente leu.
Devo ter acordado no final quando começaram a fazer perguntas e ela respondeu sem ler. Descobri que ela era muito inteligente e sabia ser espontânea quando queria. E tinha um sorriso muito bonito!
Ao final, alguém comentou que a palestra foi maravilhosa. Devo estar ficando velha e chata mesmo. Saí de lá com uma dúvida cruel: será que só eu dormi? 
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domingo, 19 de agosto de 2012

Aniversário duas vezes ao ano, como?




Atualmente, quando nasce uma criança, em alguns lugares é possível fazer a certidão de nascimento já na maternidade. Mas nem sempre foi tão fácil assim “registrar” uma pessoa. Houve um tempo – não muito distante – em que os pais demoravam meses ou até mesmo anos para fazer a certidão de nascimento dos filhos. O agravante dessa demora não era apenas o fato da criança não existir oficialmente. O problema é que até pouco tempo atrás, os pais que atrasavam para registrar seus filhos tinham de pagar multa pelo atraso. Então, para se livrarem da multa, mentiam sobre a data de nascimento do filho.
É comum encontrarmos entre os mais antigos (não tão antigos assim) pessoas cuja data de nascimento real não coincide com a data de nascimento que consta na certidão. Já ouvi muitas histórias de amigos que têm esse probleminha e ficam confusos com a data do próprio aniversário. Na certidão de batismo consta uma data, na certidão de nascimento outra e, em alguns casos, os pais ainda dizem que é uma terceira.  O lado bom disso é que podem comemorar o aniversário mais de uma vez ao ano.
Sempre que chega o mês de agosto me lembro dessas histórias porque esse mês me deixa confusa também.  No início da segunda quinzena começo a receber parabéns. Aí me lembro de que todos meus documentos dizem que meu aniversário é em agosto. Mas meu pai e minha mãe juram de pés juntos que nasci em março. Como sou da geração pós-multa e de uma época em que as coisas já estavam um pouco mais fáceis (já tinha jipe para ir à cidade) minha história não é a mesma das pessoas que mentiram para não pagar multa. Segundo meu pai, eu fui registrada com a data certa. Mas logo minha certidão desapareceu e ele precisou providenciar uma segunda via. A segunda via saiu com a data errada. Só fomos perceber isso quando precisei fazer a identidade. Aí ficou tudo errado. Pelo menos meu nome está certo. Porque já ouvi cada história de pais que chegavam ao cartório e, além de mentir a data de nascimento, confundiam o nome dos filhos.
Antes eu perdia um tempão dando explicações sobre as minhas datas de nascimento. Agora comemoro meu aniversário duas vezes ao ano: em março com a família e em agosto com os amigos do trabalho e com outras pessoas que por algum motivo tiveram de consultar meus documentos. O lado triste disso (só comecei a me incomodar com depois dos trinta) é sermos lembrados duas vezes por ano que estamos envelhecendo. 
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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Enfim, fim de férias


Logo nos primeiros dias das férias escolares, todas as manhãs, antes mesmo das oito horas, lá estava o filho do vizinho berrando no portão, chamando meu filho. Não contente em me acordar, ficavam o resto do dia virando a casa de cabeças para o ar e apostando quem me irritava mais.
No terceiro dia já estava com minha paciência esgotada. Quando ouvi o grito do menino, levantei rápido, abri porta com força e gritei “cai fora daqui, piá chato!”. Meu filho, que estava do meu lado, olhou para mim espantado. “Não precisava ter falado com ele daquele jeito”, disse com uma voz de medo e vergonha. “E você fica quieto, senão vai ficar de castigo”. Respondi tentando lembrá-lo da minha autoridade de mãe. Castigo é quase uma palavra mágica. Ela quase sempre põe fim entre uma discussão entre mãe e filho. Quase. “Mas eu não fiz nada”, retrucou com ares de injustiçado. E saiu resmungando algo que não entendi direito, mas parecia ter dito que eu era muito chata.
Não disse mais nada. Só olhei para ele com aquele olhar de que seja o que for, mãe sempre tem razão. Aprendi essa verdade inquestionável com a minha mãe. Lembrei-me de quando ela vivia expulsando minhas amigas que iam me chamar para brincar. Passei tanta vergonha que prometi para mim mesma que quando fosse mãe não ia fazer isso com meus filhos. Mas, o tempo passou e agora eu estava na posição inversa. E aquele menino não tinha nada que ficar me enchendo antes do café da manhã.
Talvez tenha exagerado um pouquinho. Depois fiquei pensando que o menino poderia ficar traumatizado. São tantas coisas que psicólogos e pedagogos colocam nas nossas cabeças! Fiquei até com medo do pai dele me processar. Na época da minha mãe, ela chamava minhas amigas de tudo quanto é nome feio e ficava com a consciência tranquila, mas os tempos são outros. Pensei em falar com o menino. Dizer que ele podia voltar no dia seguinte, mas não tão cedo. Porém, o moleque não apareceu mais naquele dia.
Fui dormir aliviada achando que não acordaria com os gritos dele. Mas, aquela mente vingativa teve tempo de sobra para elaborar um plano maligno contra mim. Reuniu todos os meninos da vizinhança e os convenceu a acordarem cedo e fazer companhia a ele. Não, eles não foram chamar o meu filho. Foi bem pior. Era pouco mais de sete horas, quando acordo com um barulho infernal. Era um tec-tec-tec-tec irritante em frente à minha casa em meio a conversinhas e risinhos de moleques. Abri a Janela para espiar. Tinha uma meia dúzia de meninos. Cada um com um objeto pendurado na mão. Duas bolinhas unidas por um cordão que batiam uma na outra produzindo aquele som azucrinante.
Resolvi permitir que todos jogassem videogame na minha casa. Desde que mantivessem aquele brinquedinho esquecido pelo resto das férias. Mesmo assim, algumas vezes ainda cheguei a pedir, educadamente, para não traumatizar ninguém, que enfiassem aquela porcaria no lugar onde o sol não bate, senão eu ia fazê-los engolir aquelas bolinhas sem direito à agua.
Para a felicidade das mães,  as férias de julho duram pouco. E nos últimos dias de férias não me lembro de ter ouvido ninguém usando o tal brinquedo. Não sei se esqueceram das bolinhas ou se eu estava tão preoocupada com meus problemas sentimentais, políticos, sociais, trabalhistas... que não me deixei afetar pelo barulhinho chato.

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sábado, 28 de julho de 2012

Grevistas perdidos


Quase todo mundo que está de fora acha que fazer greve é só alegria: folga, festa... Às vezes é isso mesmo, depende da maneira como os fatos são encarados. Uma viagem de protesto à Brasília pode ser vista com um grande sacrifício em nome da categoria, ou uma grande diversão. Como se não bastasse os servidores públicos federais estarem sem rumo por conta da ignorância do governo, alguns ainda se perdem, literalmente, quando tentam fazer algo para pressionar quem deveria dar um direcionamento.
Era quase duas da manhã e o ônibus continuava circulando. Passando por lugares que aparentemente já tinha passado, embora eu não tivesse certeza pois, depois dos últimos acontecimentos, não tinha certeza de mais nada. A confirmação veio do andar de baixo do busão. “O motorista está um pouco perdido”, disse o companheiro que subiu para dar a notícia. Um pouco ou muito perdido, que diferença isso faz mesmo? Pelo menos sabíamos que estávamos em Goiânia, apesar de eu estar achando aquela cidade muito parada para uma capital. Não se via uma alma viva ou um carro na rua!
O ônibus estragou na rodovia. Alguma peça nele estava esquentando demais e o veículo não aguentaria rodar por muito tempo. Diante da situação, paramos para fazer uma assembleia (servidor público adora assembleia) e deliberamos por procurar um hotel em Goiânia. No dia seguinte, arrumariam o carro e seguiríamos viagem. Mas, encontrar um hotel numa cidade desconhecida àquelas horas e que coubesse mais de 30 pessoas não era tarefa das mais fáceis. E ainda tinha de ser um hotel barato.
Perguntaram se os passageiros conheciam alguém em Goiânia que pudesse nos ajudar. Felizmente, várias pessoas responderam que sim. Quando começaram a citar o nome dos conhecidos, percebi que não me eram estranhos: Leonardo, Bruno e Marrone, Jorge e Mateus, Guilherme e Santiago, João Lucas e Marcelo... Inúmeras as opções, mas os apreciadores do rock and roll (a maioria no ônibus) se recusaram a pedir ajuda para duplas sertanejas. E assim continuamos a procurar um hotel.
Comecei a ficar com medo, pois o ônibus estava entrando em uns becos muito estranhos. Passamos em frente a uns “dormitórios” que pareciam cenário de filme de terror. Algo me dizia que se resolvêssemos dormir ali íamos dar de cara com o Jack, o Estripador no meio da madrugada. Acho que era o cansaço!
Agora estávamos em frente a um hotel chamado Cabiúna. O hotel aparentemente era bom, mas não quiseram parar ali porque precisávamos de espaço para 32 pessoas e, segundo uma companheira, ali só cabia “una”. Essa foi mais uma das piadinhas da noite. A galera do busão continuava animada e fazendo piadinha de tudo, o que me fez lembrar de um verso da música do Frejat : “rir de tudo é desespero”.
Depois de muita procura, finalmente um hotel com espaço e preço “adequados”. Não era, assim, um cinco estrelas, mas pelo menos tinha banheiro. O que era muito confortante já que a maioria dos viajantes estava há, pelo menos, três dias sem tomar banho. Estava tão cansada depois da longa viagem de ida, da marcha embaixo do sol escaldante de Brasília e da tentativa frustrada de retorno, que cai na cama e apaguei. Nem ouvi o povo roncando, colegas matando baratas ou incomodados com as pulgas.
No dia seguinte, descobri que Goiânia era legal. Tinha gente! E eles eram simpáticos. Nossa previsão de voltar às 8h se estendeu para as 18h. Alguém deve ter ouvido errado. Acho que teríamos ficado mais uma noite se não fosse pela corajosa companheira que entrou no carro do dono da empresa de transportes e foi conferir in loco o que estava acontecendo com o busão que não ficava pronto nunca. Depois ela ficou conhecida com a primeira dama do transporte goianense, mas isso é outra história.
Foram tantos acontecimentos em Goiânia que até esqueci o que tínhamos ido fazer em Brasília e, quando, finalmente, conseguimos entrar no ônibus para voltar, estava me sentindo como o João do Santo Cristo. Não consegui o que queria. Queria mesmo era falar com a presidenta pra ajudar toda essa gente... Mas, de longe, ela deve ter nos ouvido, porque o barulho foi grande. Ou pelo menos a sua amiga, a Arrogantíssima Ministra do Planejamento, deve ter escutado, já que em frente a esse ministério o barulho foi maior.
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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Só o amor não basta


Aviso: esse post é um desabafo. Algo muito pessoal, por isso, se não gostarem de coisas piegas, não leiam, hahaha.

Ontem lia uma frase que dizia mais ou menos assim: para não chorar, vou gostar de quem gosta de mim. Interessante, mas tem dois problemas aí. Primeiro: parece tão simples escolher de quem gostar e sabemos que não é. Segundo: quem disse que não choramos quando gostamos de quem gosta de nós?
Sempre ouvi dizer que o amor supera tudo, que quando duas pessoas se amam elas enfrentam os obstáculos, as diferenças... Também não acredito mais que isso seja verdade. Espero mudar de ideia um dia. Tomara que essa opinião seja uma coisa momentânea, frustração de fim de relacionamento.
Por falar em fim de relacionamento, cada pessoa encara isso de uma forma diferente. Mas todo mundo sofre. Entre escrever e cortar os pulsos, preferi escrever. Desabafar faz bem. Mesmo que seja para a tela do computador. Ordens médicas, rsrs.
Não é uma novidade. Já passei por outros “fins”, mas nenhum me deixou tão pessimista em relação a recomeçar qualquer coisa. É difícil entender quando um relacionamento chega ao fim não porque o amor acaba, mas porque algumas coisas parecem ser mais fortes que o amor. Isso é muito triste. Nós somos tão fracos que deixamos que o egoísmo, as diferenças, superem tudo e por isso sofremos, sofremos. É mais triste quando sabemos que a outra pessoa também sofre, mas apesar de querer estar junto prefere acreditar que é melhor a separação.
É a vida! As coisas não são como num conto de fadas. Finais felizes não existem. 
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domingo, 22 de julho de 2012

Não era uma bolsa qualquer




As letrinhas vermelhas na vitrine da loja com a palavrinha mágica - promoção - me convidavam para entrar. Não era uma loja qualquer. Era aquela loja que tinha umas bolsas lindas que custavam o que o meu salário não era capaz de pagar. Mas agora, dizia o recado na vitrine, as bolsas estavam pela metade do preço. Bolsas, 50% off, era o que estava escrito. Não sei porque, sempre em inglês.
Entrei. Estava mesmo precisando de uma bolsa. Mulher sempre precisa de uma bolsa nova. Aliás, de sapatos também. Fiquei meio perdida dentro daquela loja chique. Lojas chiques não me deixam muito à vontade. A vendedora me olhando com aquele sorriso falso. Pobre, não consegue disfarçar que é pobre. É uma marca que carregamos para todo lugar, como dizia um amigo, até no jeito de andar.
Mesmo pela metade do preço, as bolsas ainda estavam muito caras. Olhei, olhei. Peguei uma para ver com as mãos. Abri, fechei, olhei todas as divisórias. O tamanho era ideal para quem, como eu, enfia tudo e mais um pouco dentro da bolsa. A vendedora disse “essa está muito barata!”. Ela deve ter desconfiado que eu estivesse mesmo procurando a mais barata. E continuou “ela não é uma bolsa qualquer”. E disse a grife da bolsa como se fosse a coisa mais incrível do mundo, e pela metade do preço! Eu tentei fazer uma cara de naturalidade. Não podia deixar que ela percebesse que aquela bolsa custava a metade do meu salário. Sabia que aquela era uma marca famosa. Tinha visto em, pelo menos, dois filmes. Concordei com a vendedora quando ela disse que eu não podia perder aquela oportunidade. Peguei a bolsa novamente. Coloquei no ombro. Olhei para o espelho. Olhei para a bolsa. Depois para a vendedora. Depois, para a bolsa de novo... Aquele momento que antecede uma grande decisão. Não dava mesmo para perder aquela oportunidade. E ainda podia parcelar no cartão de crédito em suaves prestações. Na hora nem me toquei que ficaria um ano pagando a bendita da bolsa. Comprei.
Quando cheguei em casa e fui namorar mais um pouquinho meu novo presentinho, abri o guarda-roupa e descobri que não tinha nada para vestir que combinasse com a bolsa nova. Mas, e daí? Aquela bolsa caríssima tinha obrigação de combinar com tudo. Decidi que ia usá-la com qualquer roupa. Lembrei-me do meu namorado, falando do tal “custo-benefício”. Dizia ele que se uma coisa custa caro, ela tem de ser usada bastante para valer a pena.
A primeira vez que saí com a bolsa nova no meu bairro, doida para que alguém percebesse que eu estava com ela, minha amiga, muito gentilmente, disse que adorou minha bolsa. Mas acabou com a minha alegria quando perguntou se eu tinha comprado no camelô. Ela disse que tinha uma parecida lá. Fiquei com vergonha de dizer onde tinha comprado. Disse a ela que comprei numa lojinha no centro e comecei a me arrepender da minha compra. Depois de uma semana com a bolsa, descobri que ela era pesada demais e que as alças eram muito duras. Devia mesmo era ter comprado a de R$19,00 no camelô, se não gostasse, pelo menos não ia me sentir tão culpada pensando nas 12 prestações que tinha para pagar.
Para ajudar na minha tomada de consciência, olho para a tela do computador e vejo uma citação de Marx que alguém postou na rede social. Era algo sobre como o capitalismo deixa as pessoas endividadas com aquilo que elas não precisam. Tudo bem que Marx disse isso há um tempão, mas ele tinha razão. Tarde demais! Quem sabe me lembre disso da próxima vez.

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sábado, 7 de julho de 2012

Pra ganhar a eleição vale tudo?


Ela se aproximou de mim rapidinho com o olhar de quem tinha uma fofoquinha básica, urgente, para me contar.
__Amiga, lembra daquele  político charmoso, bonitão que te falei?
__Sim, sei.
__ Então, ele foi lá em casa.
__Ok, agora me conta uma novidade! Sim, porque dizer que políticos foram nos visitar nessa época é a mesma coisa que olhar para o céu com nuvens escuras e dizer que pode chover mais tarde.
Ela fez uma cara de que percebeu meu mau humor (não costumo falar com minhas amigas assim, com tanta sinceridade), mas continuou empolgada contando sua história.
__ Menina, ele me adicionou no Facebook, disse que ia tomar um café comigo...
Continuei em silêncio e ainda esperando alguma novidade. Agora eles descobriram que as redes sociais são ferramentas eficientes na briga pelos votinhos.
__ Há dias ele vinha falando comigo no face.  Perguntou quando eu ia estar sozinha para ele ir me visitar. Achei estranho né...Por que ele queria que eu estivesse sozinha? Mas tudo bem. Não acreditei muito que ele ia, mas, na terça-feira, à noite, não é que o homem apareceu!  Ai, amiga, ele é tão simpático! Fala umas coisas tão bonitas...
Continuei ouvindo, com uma vontade enorme de interrompê-la e dizer algo do tipo “acorda, criatura, esse homem só quer seu voto”, mas ela nem me deixou falar. Mulher carente, às vezes é um alvo muito fácil.
__ Aí, ele me abraçou e ficou um tempão falando comigo e segurando a minha mão... Perguntou sobre a minha vida pessoal. Começou a me elogiar. Disse que eu era bonita, inteligente, esforçada, gentil... e, amiga, começou a me fazer umas propostas indecentes.
__ Sério! Mas ele não é casado?
__ Não, não. Ele se separou.
__ Estranho! Vi recentemente no jornal uma foto dele ao lado da esposa.
__ Ah, sabe como é né... Na política, esse negócio de família é muito importante.
__ Entendi. Quer dizer, não entendi não. Mas, deixa pra lá.
Ela me contou em detalhes o que o político bonitão tinha dito naquela noite e as conversas entre os dois que antecederam aquele encontro. Algumas mulheres tem essa necessidade de compartilhar tudo com as amigas. E, coitada, ela realmente acreditou que ele ia levá-la para tomar um vinho depois da eleição. Enquanto ela ia falando, lembrei-me de uma reunião política que participei uma vez, na qual o coordenador da campanha aconselhava os cabos eleitorais e os candidatos. Ele dizia, aparentemente sem nenhum peso na consciência: “Pra ganhar a eleição, meus amigos, vale tudo!” 
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sábado, 30 de junho de 2012

Honestidade dá audiência



 O bilhete escrito pelo taxista aparecia na foto junto com R$10,00 e um cartãozinho da empresa de taxis. A foto imediatamente se espalhou pelas redes sociais chegando a milhares de pessoas que pareciam não acreditar num gesto tão nobre. No bilhete, o taxista explicava o porquê dos R$10,00. A cliente teria pago a corrida que custou R$120,00 com R$150,00 e ele devolveu de troco apenas R$20,00. Estava pedindo desculpas e devolvendo o restante.
Comovidos com tal atitude, os internautas faziam questão de compartilhar e comentar elogiando o feito e escrevendo expressões como “Ainda há esperanças!”. Isso me trouxe à memoria outros casos parecidos que fizeram sucesso na mídia há algum tempo: o faxineiro que devolveu uma maleta com dólares que encontrou no aeroporto; o aposentado pernambucano que devolveu R$160,00 que encontrou no quintal da sua casa; o motorista de ônibus que encontrou R$70.000,00 e devolveu à passageira... Todos, atos heroicos. Dignos de “ohhhhs”
Mas por que mesmo que ficamos tão extasiados quando vemos fatos como esses serem noticiados em rede nacional? Por que consideramos esse tipo de atitude como um fato extraordinário, um ato heroico? Não estamos acostumados com a honestidade. Não é o que acontece normalmente, então, quando acontece, vira notícia! Parece-me que há uma inversão de valores. O que deveria ser normal, corriqueiro torna-se um fato raro. Crescemos acreditando que é um processo natural tomar posse do que não nos pertence. E quando alguém resolve fazer a coisa certa, o que tem de ser feito – devolver aquilo que não é dele – acaba sendo aclamado herói.
Nosso espanto com atitudes honestas não se limitam às devoluções de objetos ou dinheiro encontrado. Até uma ajuda sem pedir nada em troca nos surpreende. O  “normal” é querer levar vantagem em tudo, como manda a famosa Lei de Gerson.  Recentemente um amigo ficou espantado por ter encontrado um policial que não aceitou ser corrompido. E quando se fala em políticos, então! Nossa comoção é grande ao nos depararmos com algum ato de honestidade nesse meio. E o motivo é simples: nosso referencial de político é o antônimo de honesto!
Já que atos de honestidades vão parar na mídia, quem sabe aqueles que adoram aparecer não se espelham nesses atos e começam a fazer o mesmo. Se não for por questão de consciência, pelo menos pelos quinze minutos de fama. Quem sabe isso não vai contagiando as pessoas tão influenciáveis pelas celebridades!
Espero, sinceramente, que chegue o dia em que atos de honestidades não mereçam destaques na capa do jornal, nem sejam a matéria principal do horário nobre, nem tenham milhares de compartilhamentos nas redes sociais. Não porque eles não aconteçam, mas porque seja algo tão corriqueiro, trivial, que não precise ser noticiado.

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sábado, 23 de junho de 2012

Ouvir rap dá cadeia? E o sertanejo universitário?



Numa notícia dizia que ele ouvia rap. Na outra, dizia que ele ouvia funk. Ninguém soube explicar qual era, de fato, o som que o cara ouvia no celular no início da manhã, quando foi preso. Também não entendi direito qual foi o motivo de sua prisão. Se foi o fato dele irritar os policiais ouvindo esse tipo de música logo cedo, se foi o fato dele estar sem identidade e ter um apelido esquisito, ou ainda, se foi por terem encontrado munições na casa dele. Talvez pelo fato dele ter saído da cadeia há poucos dias, acharam que ele deveria voltar.
Mais tarde, outra notícia afirmava que o que ele ouvia era mesmo rap e que ele foi abordado porque estava com atitude suspeita (mas não dizia qual atitude suspeita era essa, talvez a roupa e o jeito de andar) e que, “além disso”, a  música que ele estava ouvindo fazia apologia ao crime. Mas não citaram um trecho da letra, então fiquei sem saber qual crime. Mas a lei é a lei e, se existe algum artigo que diga que quem ouve música que faz apologia ao crime deve ser preso, então, cumpra-se.
Os comentários entusiasmados sobre o caso começaram a aparecer. Diziam “bem feito para ele que ouve rap, porque se ele estivesse ouvindo sertanejo universitário não seria abordado”. Pensei que fosse ironia, mas não, a pessoa que disse isso falou sério. Também disseram que deveriam ser presos todos os que usam blusão largo de capuz. Interessante essa relação semântica. Ouve rap, então usa blusão largo de capuz e é bandido. E eu que não sabia que blusão largo de capuz era roupa de bandido. Parece-me que Carlinhos Cachoeira anda meio fora de moda!
Fiquei imaginando se a moda pega. Se resolverem sair por aí prendendo todo mundo que ouve música que faz apologia ao crime, haja espaço na cadeia! Já ouvi várias vezes que rap é coisa de bandido. Mas, o que dizer do sertanejo “universitário”? Se é para rotular, para criar estereótipos, então vamos lá:  seria, o sertanejo universitário, coisa de playboy que está na faculdade com o objetivo de torrar o dinheiro do papai? Ou dos que nem entraram na universidade ainda, mas já se acham PhD? Não concordo com nenhum desses rótulos. Tanto meus amigos que curtem rap quanto os que curtem sertanejo universitário são honestos e inteligentes. Mas, se o rap tem letras que fazem apologia ao crime, o sertanejo universitário também tem (crime não é só roubar e matar). Poderia escolher qualquer estilo musical e analisar algumas letras. Mas, por birra pessoal, tomarei como exemplo, o tão venerado sertanejo universitário:
Violência contra a mulher/cárcere privado: na muié eu dei um jeito, corretivo do meu modo/No quarto deixei trancada, quinze dia aprisionada e com ela não incomodo”. E na mesma música, preconceito/homofobia: “Sistema que fui criado ver dois homem abraçado pra mim era confusão/Mulher com mulher beijando/Dois homens se acariciando, meu deus que decepção”. Isso sem falar no assassinato da Língua Portuguesa!
Adultério: “Falei pra minha patroa/Que a farra é boa e bem comportada [...] Que pescar que nada/Vou beijar na boca/Ver a mulherada na madrugada/Ficando louca”
Poderíamos ainda citar a apologia ao alcoolismo: “E daí se eu quiser farrear tomar todas num bar, o que é que tem”, “beber, cair, levantar”, “Eu bebo pra ficar mal”;  A vulgarização da mulher (que é o que mais deixa indignada): “Mulherada rebola, bebe, dança se descontrola/Quer mais cerveja vai até embaixo/Já mostra o pedaço da sua calcinha/Vem uma cerveja e elas tão louca”; e outros enunciados presentes nesses tipos de músicas que podem até não fazer apologia direta ao crime, mas são um incentivo a ações, no mínimo, imorais.
Se for aplicar a lei para todos, tanto os que ouvem rap no celular sem fone de ouvido, quanto os que passam de madrugada em frente às nossas casas ouvindo sertanejo universitário na mais alta potência (talvez para mostrar que o som do carro é bom) deveriam ir para a cadeia, se não for apologia ao crime, pelo menos por perturbação do sossego. Mas, como a polícia da minha querida cidade deve estar ocupada demais cuidando dos assaltos que estão acontecendo aos montes, infelizmente (ou felizmente, como queiram), não terão tempo de se preocupar com o tipo de música que os cidadãos ouvem.
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