domingo, 14 de abril de 2013

Apenas uma quadra



O sinal abriu para pedestres. Aproveitei para me enfiar no meio da multidão e atravessar a rua. Decidi ir pelo calçadão, parecia menos perigoso aquele horário. Quase seis da tarde. Ainda tinha sol. Quer dizer, sol não, ainda estava dia. Porque sol, nessa cidade, é algo que nunca vi. Mentira, vi uma vez. No mesmo dia em que me disseram bom dia no açougue e no caixa da loja de departamentos. Inesquecível!
Enquanto subia, no meio dos que vão e vêm, dois homens em minha direção, vestidos de tanga vermelha – nada mais – empurravam uma bicicleta e caminhavam naturalmente. Ambos altos. Um magro, meio barrigudo, outro com músculos bem definidos. Os dois suavam. E eu sentia frio. Desviei-me deles. Tive vontade de rir. Na minha terra iam dizer que isso é muito guei.
Além de mim, um grupo de 4 ou 5 adolescentes, cabelo caído nos olhos, observavam os dois tangas-vermelha e riam. Na minha terra iam dizer que aquele cabelo escorrido também é muito guei.  
Muitos andavam apressados, indiferentes aos homens de tanga ou aos meninos de cabelos escorridos. O engravatado falava ao celular e parecia preocupado. A senhora loira segurava a bolsa com as duas mãos. Lembrei-me da minha tia avisando pra eu tomar cuidado. Segurei mais forte a minha.
As lojas anunciavam descontos de até 50%. Melhor não ficar olhando vitrines. Segui. A multidão me deixava invisível. Ainda bem! Assim ninguém observava meu tênis encardido, pé vermelho.
A mulher de burca amarelo-ouro parecia procurar algo na bolsa. Burca aqui? Pra mim isso só se via no oriente médio!  Do outro lado, um grupo de tatuados dos pés à cabeça, vestidos de preto e com pedaços de metal por todo corpo, andavam imponentes em meio aos apressados.
A senhorinha de olhos puxados e meio corcunda caminhava vagarosamente, numa ausência misteriosa. Como se sua vida estivesse num outro compasso. Observei-a. Queria essa calmaria. Mas a vida me apressava, o sinal abriu e eu tinha de tomar o ônibus. 
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