sábado, 19 de maio de 2012

Um casamento e um quase funeral




Hoje em dia, com todo o aparato tecnológico usado como extensão da nossa memória, agenda de todos os tipos apitando em nossos ouvidos, nos avisando dos nossos afazeres, é difícil nos atrasarmos ou perdermos algum compromisso, certo? Errado. Todo tipo de lembrete eletrônico de nada adianta se há defeito na peça que fica em frente ao aparelho, ou, como diriam os técnicos, problema de USB (Usuário Super Burro).  Se o usuário faz confusão ao anotar os horários, os aparelhinhos não fazem milagre, ainda.
Mesmo com tantos lembretes, ainda é normal, para algumas pessoas mais desligadas, chegar atrasado a uma reunião, esquecer de buscar o filho na escola, deixar de ir a uma consulta médica,  perder o casamento de uma amiga... Perder o casamento de uma amiga? Não. Isso não é normal. A pessoa tem que ser muito desligada para conseguir essa proeza. Mas algumas conseguem.
Casamento não é como uma consulta médica que você pode ligar e marcar para outro dia. De maneira geral, as pessoas costumam casar uma única vez. Quando se casam mais de uma vez, geralmente não é com a mesma pessoa, nem na mesma igreja e a noiva não usa o mesmo vestido. Por isso fiquei muito triste, quando cheguei à igreja e dei de cara apenas com as pétalas de rosa no chão e uma senhora avisando que o casamento tinha acontecido duas horas atrás.  Depois de ter andado tanto para procurar um sapato que combinasse com o meu vestido e que ficasse bom no meu pé e no meu bolso!
Fiquei parada na escadaria da igreja em dúvida se cortaria os pulsos ali mesmo ou esperaria o  pessoal que estava comigo me enforcar. Não tinha muito o que dizer, então olhei para eles e disse “Gente, acontece!”. Claro que não acontece com todo mundo. Só comigo. Mas acontece! Estava tentando convencer a mim mesma de que não era nada assim tão grave. No outro dia falaria com a noiva e explicaria que nem olhei o convite, só anotei o horário errado porque entendi errado quando ela me disse. Simples assim!
Ela entenderia, lógico! Não. Ela não entenderia. Entrei no carro e no caminho de volta para a casa comecei a pensar como explicaria isso para ela. Pensei em dizer quetorci o pé quando estava fechando o portão (afinal estava de sapato novo!), que aconteceu um acidente na esquina quando estava saindo de casa e fiquei presa no trânsito, que meu filho teve uma crise súbita de dor de barriga, que levei um choque com o secador de cabelo... Depois de pensar em quinhentas mil desculpas, resolvi que era melhor contar a verdade.
Durante algum tempo tive de aguentar calada a gozação e a reclamação da família e dos amigos. Para ajudar, minha cunhada (tinha de ser a cunhada!) me lembrou de que ninguém mais marca casamento para às 19h30. Valeu pelo aviso!  É que fazia tanto tempo que eu não ia a um casamento que não sabia mais quais são os horários costumeiros. E, ao que tudo indica,vou continuar sem ir por um bom tempo. Acho que depois dessa, meus amigos vão excluir meu nome da lista de convidados.

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