quarta-feira, 29 de junho de 2011

Nostalgia

“E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.”


Quase sempre quando me lembro da minha infância vêm à cabeça esses versos de Drummond. Não sei se ele escreveu isso porque temos uma tendência a achar o passado sempre lindo ou se é porque entendeu logo que Robinson Crusoé era um tremendo capitalista, explorador (o pobre do Sexta-Feira sabe bem) e por isso a história desse “náufrago” não é assim tão bonita.
Porém, quase sempre, porque essa coisa de recordação depende da forma como você olha o passado e, eu diria que do momento que você está vivendo quando essas lembranças vêm à tona. Geralmente idealizamos nossa infância, dando um toque romântico às coisas banais.
Minha infância foi uma desgraça. Se fosse contar as passagens tristes em tom pessimista choraríamos todos. Mas, prefiro reinventá-la e dizer que era tudo muito divertido. E acho até que era mesmo. Criança tem dessas coisas de se divertir até nos momentos trágicos. Penso que é essa ingenuidade que torna a infância divertida. O velório da minha vó, por exemplo, para mim foi uma festa: minhas primas todas reunidas para brincarmos de roda e pão com mortadela à vontade (coisa rara naquela época). Além disso, lembro que minha mãe estava tão carinhosa comigo naquele dia!
O meu maior sonho quando era criança era ter televisão. Nossa primeira TV foi comprada quando eu tinha 11 anos. Uma Telefunken  (preto e branca, lógico) que precisávamos ligar uma hora antes da novela para ir esquentando. Mas hoje conto para os meus filhos como era bom não ter TV em casa e repito (quando eles não estão assistindo desenho) algumas histórias que meu pai contava após a janta, sob a luz fosca da lamparina, sempre regadas a chimarrão.
A sensação de não podermos reviver esses momentos, sejam eles tristes ou alegres, é que os torna especiais. Penso que a nostalgia é uma forma de reinventarmos o passado. Adoro essa palavra. Teve uma época que eu achava feia. Não sei por que, mas ela me lembrava enjôo. Passava mal quando lia ou ouvia alguém pronunciando. Hoje faço questão de usá-la sempre que me é conveniente. Acho que a idade nos torna mais sensíveis a momentos nostálgicos.
Igrejinha que eu frequentava quando era criança. Achava um  saco ter que ir todo domingo cedo, ouvir minha mãe cantando no coral desafinado e o padre Estanislau falando uma mistura de polonês com português, mas hoje  considero um lugar mágico, cheio de paz.

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