segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Enfim, fim de férias


Logo nos primeiros dias das férias escolares, todas as manhãs, antes mesmo das oito horas, lá estava o filho do vizinho berrando no portão, chamando meu filho. Não contente em me acordar, ficavam o resto do dia virando a casa de cabeças para o ar e apostando quem me irritava mais.
No terceiro dia já estava com minha paciência esgotada. Quando ouvi o grito do menino, levantei rápido, abri porta com força e gritei “cai fora daqui, piá chato!”. Meu filho, que estava do meu lado, olhou para mim espantado. “Não precisava ter falado com ele daquele jeito”, disse com uma voz de medo e vergonha. “E você fica quieto, senão vai ficar de castigo”. Respondi tentando lembrá-lo da minha autoridade de mãe. Castigo é quase uma palavra mágica. Ela quase sempre põe fim entre uma discussão entre mãe e filho. Quase. “Mas eu não fiz nada”, retrucou com ares de injustiçado. E saiu resmungando algo que não entendi direito, mas parecia ter dito que eu era muito chata.
Não disse mais nada. Só olhei para ele com aquele olhar de que seja o que for, mãe sempre tem razão. Aprendi essa verdade inquestionável com a minha mãe. Lembrei-me de quando ela vivia expulsando minhas amigas que iam me chamar para brincar. Passei tanta vergonha que prometi para mim mesma que quando fosse mãe não ia fazer isso com meus filhos. Mas, o tempo passou e agora eu estava na posição inversa. E aquele menino não tinha nada que ficar me enchendo antes do café da manhã.
Talvez tenha exagerado um pouquinho. Depois fiquei pensando que o menino poderia ficar traumatizado. São tantas coisas que psicólogos e pedagogos colocam nas nossas cabeças! Fiquei até com medo do pai dele me processar. Na época da minha mãe, ela chamava minhas amigas de tudo quanto é nome feio e ficava com a consciência tranquila, mas os tempos são outros. Pensei em falar com o menino. Dizer que ele podia voltar no dia seguinte, mas não tão cedo. Porém, o moleque não apareceu mais naquele dia.
Fui dormir aliviada achando que não acordaria com os gritos dele. Mas, aquela mente vingativa teve tempo de sobra para elaborar um plano maligno contra mim. Reuniu todos os meninos da vizinhança e os convenceu a acordarem cedo e fazer companhia a ele. Não, eles não foram chamar o meu filho. Foi bem pior. Era pouco mais de sete horas, quando acordo com um barulho infernal. Era um tec-tec-tec-tec irritante em frente à minha casa em meio a conversinhas e risinhos de moleques. Abri a Janela para espiar. Tinha uma meia dúzia de meninos. Cada um com um objeto pendurado na mão. Duas bolinhas unidas por um cordão que batiam uma na outra produzindo aquele som azucrinante.
Resolvi permitir que todos jogassem videogame na minha casa. Desde que mantivessem aquele brinquedinho esquecido pelo resto das férias. Mesmo assim, algumas vezes ainda cheguei a pedir, educadamente, para não traumatizar ninguém, que enfiassem aquela porcaria no lugar onde o sol não bate, senão eu ia fazê-los engolir aquelas bolinhas sem direito à agua.
Para a felicidade das mães,  as férias de julho duram pouco. E nos últimos dias de férias não me lembro de ter ouvido ninguém usando o tal brinquedo. Não sei se esqueceram das bolinhas ou se eu estava tão preoocupada com meus problemas sentimentais, políticos, sociais, trabalhistas... que não me deixei afetar pelo barulhinho chato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar neste blog