Logo nos
primeiros dias das férias escolares, todas as manhãs, antes mesmo das oito
horas, lá estava o filho do vizinho berrando no portão, chamando meu filho. Não
contente em me acordar, ficavam o resto do dia virando a casa de cabeças para o
ar e apostando quem me irritava mais.
No terceiro dia
já estava com minha paciência esgotada. Quando ouvi o grito do menino, levantei
rápido, abri porta com força e gritei “cai fora daqui, piá chato!”. Meu filho,
que estava do meu lado, olhou para mim espantado. “Não precisava ter falado com
ele daquele jeito”, disse com uma voz de medo e vergonha. “E você fica quieto,
senão vai ficar de castigo”. Respondi tentando lembrá-lo da minha autoridade de
mãe. Castigo é quase uma palavra mágica. Ela quase sempre põe fim entre uma
discussão entre mãe e filho. Quase. “Mas eu não fiz nada”, retrucou com ares de
injustiçado. E saiu resmungando algo que não entendi direito, mas parecia ter
dito que eu era muito chata.
Não disse
mais nada. Só olhei para ele com aquele olhar de que seja o que for, mãe sempre
tem razão. Aprendi essa verdade inquestionável com a minha mãe. Lembrei-me de
quando ela vivia expulsando minhas amigas que iam me chamar para brincar.
Passei tanta vergonha que prometi para mim mesma que quando fosse mãe não ia
fazer isso com meus filhos. Mas, o tempo passou e agora eu estava na posição
inversa. E aquele menino não tinha nada que ficar me enchendo antes do café da
manhã.
Talvez tenha
exagerado um pouquinho. Depois fiquei pensando que o menino poderia ficar
traumatizado. São tantas coisas que psicólogos e pedagogos colocam nas nossas
cabeças! Fiquei até com medo do pai dele me processar. Na época da minha mãe,
ela chamava minhas amigas de tudo quanto é nome feio e ficava com a consciência
tranquila, mas os tempos são outros. Pensei em falar com o menino. Dizer que
ele podia voltar no dia seguinte, mas não tão cedo. Porém, o moleque não
apareceu mais naquele dia.
Fui dormir
aliviada achando que não acordaria com os gritos dele. Mas, aquela mente
vingativa teve tempo de sobra para elaborar um plano maligno contra mim. Reuniu
todos os meninos da vizinhança e os convenceu a acordarem cedo e fazer
companhia a ele. Não, eles não foram chamar o meu filho. Foi bem pior. Era
pouco mais de sete horas, quando acordo com um barulho infernal. Era um tec-tec-tec-tec irritante em frente à
minha casa em meio a conversinhas e risinhos de moleques. Abri a Janela para
espiar. Tinha uma meia dúzia de meninos. Cada um com um objeto pendurado na
mão. Duas bolinhas unidas por um cordão que batiam uma na outra produzindo
aquele som azucrinante.
Resolvi
permitir que todos jogassem videogame na minha casa. Desde que mantivessem
aquele brinquedinho esquecido pelo resto das férias. Mesmo assim, algumas vezes
ainda cheguei a pedir, educadamente, para não traumatizar ninguém, que
enfiassem aquela porcaria no lugar onde o sol não bate, senão eu ia fazê-los
engolir aquelas bolinhas sem direito à agua.
Para a
felicidade das mães, as férias de julho
duram pouco. E nos últimos dias de férias não me lembro de ter ouvido ninguém
usando o tal brinquedo. Não sei se esqueceram das bolinhas ou se eu estava tão
preoocupada com meus problemas sentimentais, políticos, sociais,
trabalhistas... que não me deixei afetar pelo barulhinho chato.
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