O bilhete escrito
pelo taxista aparecia na foto junto com R$10,00 e um cartãozinho da empresa de
taxis. A foto imediatamente se espalhou pelas redes sociais chegando a milhares
de pessoas que pareciam não acreditar num gesto tão nobre. No bilhete, o
taxista explicava o porquê dos R$10,00. A cliente teria pago a corrida que
custou R$120,00 com R$150,00 e ele devolveu de troco apenas R$20,00. Estava
pedindo desculpas e devolvendo o restante.
Comovidos com tal atitude, os internautas faziam questão de
compartilhar e comentar elogiando o feito e escrevendo expressões como “Ainda
há esperanças!”. Isso me trouxe à memoria outros casos parecidos que fizeram
sucesso na mídia há algum tempo: o faxineiro que devolveu uma maleta com
dólares que encontrou no aeroporto; o aposentado pernambucano que devolveu
R$160,00 que encontrou no quintal da sua casa; o motorista de ônibus que
encontrou R$70.000,00 e devolveu à passageira... Todos, atos heroicos. Dignos
de “ohhhhs”
Mas por que mesmo que ficamos tão extasiados quando vemos
fatos como esses serem noticiados em rede nacional? Por que consideramos esse
tipo de atitude como um fato extraordinário, um ato heroico? Não estamos
acostumados com a honestidade. Não é o que acontece normalmente, então, quando
acontece, vira notícia! Parece-me que há uma inversão de valores. O que deveria
ser normal, corriqueiro torna-se um fato raro. Crescemos acreditando que é um
processo natural tomar posse do que não nos pertence. E quando alguém resolve
fazer a coisa certa, o que tem de ser feito – devolver aquilo que não é dele –
acaba sendo aclamado herói.
Nosso espanto com atitudes honestas não se limitam às
devoluções de objetos ou dinheiro encontrado. Até uma ajuda sem pedir nada em
troca nos surpreende. O “normal” é
querer levar vantagem em tudo, como manda a famosa Lei de Gerson. Recentemente um amigo ficou espantado por ter
encontrado um policial que não aceitou ser corrompido. E quando se fala em
políticos, então! Nossa comoção é grande ao nos depararmos com algum ato de
honestidade nesse meio. E o motivo é simples: nosso referencial de político é o
antônimo de honesto!
Já que atos de honestidades vão parar na mídia, quem sabe
aqueles que adoram aparecer não se espelham nesses atos e começam a fazer o
mesmo. Se não for por questão de consciência, pelo menos pelos quinze minutos
de fama. Quem sabe isso não vai contagiando as pessoas tão influenciáveis pelas
celebridades!
Espero, sinceramente, que chegue o dia em que atos de
honestidades não mereçam destaques na capa do jornal, nem sejam a matéria
principal do horário nobre, nem tenham milhares de compartilhamentos nas redes
sociais. Não porque eles não aconteçam, mas porque seja algo tão corriqueiro,
trivial, que não precise ser noticiado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário