sábado, 14 de abril de 2012

Campus ou Câmpus?



Quando comecei a faculdade, logo na primeira aula de latim, meu professor disse que não era para ficarmos com medo da matéria, pois latim era fácil, segundo ele, era “pura matemática”. Como não se assustar? Escolhi fazer Letras justamente porque não gostava de matemática! Senti que estava no curso errado.
Criei certo preconceito em relação ao latim. O resultado foi um exame nessa disciplina já no primeiro ano do curso. No ano seguinte, descobri que latim era legal (engraçado que o professor era o mesmo). Finalmente consegui entender aquelas declinações e compreender o que era genitivo, ablativo, vocativo e outros nomezinhos que agora já não lembro mais.
Esses dias fui me confessar e enquanto aguardava na fila (sim, existe fila até para se confessar, depois de tanto tempo sem contar meus pecados para o padre, não me lembrava mais que tanta gente o procurava para fazer a mesma coisa) lia um livro chamado “A língua escravizada”. Quando entrei no confessionário com o livro na mão o padre me perguntou do que se tratava a obra. Comecei a explicar, mas ele me interrompeu para me contar com orgulho que falava latim, grego, italiano e até alemão (penso que alemão é muito pior que latim). Disse a ele que tinha estudado latim na faculdade e ele começou a me testar usando umas expressões religiosas nessa língua. Claro que eu não me lembrava de quase nada. Por fim, ele criticou as escolas atuais por não ofertarem mais aula de latim e disse também que a língua portuguesa está cada vez mais “perdida”. Se ele tivesse me deixado explicar o livro, ia dizer que o autor falava justamente da evolução da língua.
Nossa conversa foi tão longa que quando saí do confessionário todos os que estavam na fila ficaram me olhando como se eu fosse a mulher mais pecadora do mundo. Como se eu tivesse deixado Maria Madalena no chinelo. Só não me apedrejaram porque eles também tinham pecados, ou não estariam na fila. Mas o pior é que de tanto ouvir o padre falar, esqueci quais eram os meus pecados. E ainda saí de lá com uma sensação de que teria de voltar outro dia para pedir perdão por ficar pensando que os padres são todos arrogantes.
Mas os padres nem usam tanto as expressões latinas quanto esse pessoal aí do judiciário. Como eles gostam de buscar umas palavrinhas lá no Lácio! Recentemente estava assistindo a uma palestra de um procurador e quase perguntei se não teria tradução simultânea. Acho que a única expressão que entendi foi longa manus (por motivos óbvios)Ao final da palestra, lembrei-me de uma frase que um advogado amigo meu sempre usa: Dura lex, sed lex.

Sinto que o latim anda me perseguindo ultimamente. Fui ler numa rede social a notícia que um professor postou sobre a aprovação de um programa de doutorado na universidade que ele trabalha. Depois de inúmeros comentários dos leitores parabenizando a equipe por ter conseguido tal aprovação, eis que aparece o comentário de outro professor avisando o autor da notícia que a grafia da palavra câmpus estava errada. Segundo ele, deveria ter sido escrito campus (em itálico e sem acento), uma vez que era uma palavra latina. De repente, parece que começaram a dar mais importância para bendita palavra do que para o programa recém-aprovado. A discussão foi longe, mas pelo menos serviu para quem não sabia aprender que as duas formas estão corretas. Por enquanto!

Ps. Em latim: o campus (singular) e os campi (plural). É estranho mas é assim mesmo!
Se quiser usar a forma aportuguesada, use câmpus (tanto no singular quanto no plural).

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