Quando
comecei a faculdade, logo na primeira aula de latim, meu professor disse que
não era para ficarmos com medo da matéria, pois latim era fácil, segundo ele,
era “pura matemática”. Como não se assustar? Escolhi fazer Letras justamente
porque não gostava de matemática! Senti que estava no curso errado.
Criei
certo preconceito em relação ao latim. O resultado foi um exame nessa
disciplina já no primeiro ano do curso. No ano seguinte, descobri que latim era
legal (engraçado que o professor era o mesmo). Finalmente consegui entender
aquelas declinações e compreender o que era genitivo, ablativo, vocativo e
outros nomezinhos que agora já não lembro mais.
Esses
dias fui me confessar e enquanto aguardava na fila (sim, existe fila até para
se confessar, depois de tanto tempo sem contar meus pecados para o padre, não
me lembrava mais que tanta gente o procurava para fazer a mesma coisa) lia um
livro chamado “A língua escravizada”. Quando entrei no confessionário com o
livro na mão o padre me perguntou do que se tratava a obra. Comecei a explicar,
mas ele me interrompeu para me contar com orgulho que falava latim, grego,
italiano e até alemão (penso que alemão é muito pior que latim). Disse a ele
que tinha estudado latim na faculdade e ele começou a me testar usando umas
expressões religiosas nessa língua. Claro que eu não me lembrava de quase nada.
Por fim, ele criticou as escolas atuais por não ofertarem mais aula de latim e
disse também que a língua portuguesa está cada vez mais “perdida”. Se ele
tivesse me deixado explicar o livro, ia dizer que o autor falava justamente da
evolução da língua.
Nossa
conversa foi tão longa que quando saí do confessionário todos os que estavam na
fila ficaram me olhando como se eu fosse a mulher mais pecadora do mundo. Como
se eu tivesse deixado Maria Madalena no chinelo. Só não me apedrejaram porque
eles também tinham pecados, ou não estariam na fila. Mas o pior é que de tanto
ouvir o padre falar, esqueci quais eram os meus pecados. E ainda saí de lá com
uma sensação de que teria de voltar outro dia para pedir perdão por ficar
pensando que os padres são todos arrogantes.
Mas os padres nem usam tanto as expressões latinas quanto esse pessoal aí
do judiciário. Como eles gostam de buscar umas palavrinhas lá no Lácio!
Recentemente estava assistindo a uma palestra de um procurador e quase
perguntei se não teria tradução simultânea. Acho que a única expressão que
entendi foi longa manus (por motivos óbvios). Ao
final da palestra, lembrei-me de uma frase que um advogado amigo meu sempre
usa: Dura lex, sed lex.
Sinto que o latim anda me perseguindo ultimamente. Fui ler numa rede
social a notícia que um professor postou sobre a aprovação de um programa de
doutorado na universidade que ele trabalha. Depois de inúmeros comentários dos
leitores parabenizando a equipe por ter conseguido tal aprovação, eis que
aparece o comentário de outro professor avisando o autor da notícia que a
grafia da palavra câmpus estava errada. Segundo ele, deveria ter sido escrito campus (em
itálico e sem acento), uma vez que era uma palavra latina. De repente, parece
que começaram a dar mais importância para bendita palavra do que para o
programa recém-aprovado. A discussão foi longe, mas pelo menos serviu para quem
não sabia aprender que as duas formas estão corretas. Por enquanto!
Ps. Em latim: o campus (singular) e os campi (plural). É estranho mas é assim mesmo!
Se quiser usar a forma aportuguesada, use câmpus (tanto no singular quanto no plural).
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