sábado, 28 de julho de 2012

Grevistas perdidos


Quase todo mundo que está de fora acha que fazer greve é só alegria: folga, festa... Às vezes é isso mesmo, depende da maneira como os fatos são encarados. Uma viagem de protesto à Brasília pode ser vista com um grande sacrifício em nome da categoria, ou uma grande diversão. Como se não bastasse os servidores públicos federais estarem sem rumo por conta da ignorância do governo, alguns ainda se perdem, literalmente, quando tentam fazer algo para pressionar quem deveria dar um direcionamento.
Era quase duas da manhã e o ônibus continuava circulando. Passando por lugares que aparentemente já tinha passado, embora eu não tivesse certeza pois, depois dos últimos acontecimentos, não tinha certeza de mais nada. A confirmação veio do andar de baixo do busão. “O motorista está um pouco perdido”, disse o companheiro que subiu para dar a notícia. Um pouco ou muito perdido, que diferença isso faz mesmo? Pelo menos sabíamos que estávamos em Goiânia, apesar de eu estar achando aquela cidade muito parada para uma capital. Não se via uma alma viva ou um carro na rua!
O ônibus estragou na rodovia. Alguma peça nele estava esquentando demais e o veículo não aguentaria rodar por muito tempo. Diante da situação, paramos para fazer uma assembleia (servidor público adora assembleia) e deliberamos por procurar um hotel em Goiânia. No dia seguinte, arrumariam o carro e seguiríamos viagem. Mas, encontrar um hotel numa cidade desconhecida àquelas horas e que coubesse mais de 30 pessoas não era tarefa das mais fáceis. E ainda tinha de ser um hotel barato.
Perguntaram se os passageiros conheciam alguém em Goiânia que pudesse nos ajudar. Felizmente, várias pessoas responderam que sim. Quando começaram a citar o nome dos conhecidos, percebi que não me eram estranhos: Leonardo, Bruno e Marrone, Jorge e Mateus, Guilherme e Santiago, João Lucas e Marcelo... Inúmeras as opções, mas os apreciadores do rock and roll (a maioria no ônibus) se recusaram a pedir ajuda para duplas sertanejas. E assim continuamos a procurar um hotel.
Comecei a ficar com medo, pois o ônibus estava entrando em uns becos muito estranhos. Passamos em frente a uns “dormitórios” que pareciam cenário de filme de terror. Algo me dizia que se resolvêssemos dormir ali íamos dar de cara com o Jack, o Estripador no meio da madrugada. Acho que era o cansaço!
Agora estávamos em frente a um hotel chamado Cabiúna. O hotel aparentemente era bom, mas não quiseram parar ali porque precisávamos de espaço para 32 pessoas e, segundo uma companheira, ali só cabia “una”. Essa foi mais uma das piadinhas da noite. A galera do busão continuava animada e fazendo piadinha de tudo, o que me fez lembrar de um verso da música do Frejat : “rir de tudo é desespero”.
Depois de muita procura, finalmente um hotel com espaço e preço “adequados”. Não era, assim, um cinco estrelas, mas pelo menos tinha banheiro. O que era muito confortante já que a maioria dos viajantes estava há, pelo menos, três dias sem tomar banho. Estava tão cansada depois da longa viagem de ida, da marcha embaixo do sol escaldante de Brasília e da tentativa frustrada de retorno, que cai na cama e apaguei. Nem ouvi o povo roncando, colegas matando baratas ou incomodados com as pulgas.
No dia seguinte, descobri que Goiânia era legal. Tinha gente! E eles eram simpáticos. Nossa previsão de voltar às 8h se estendeu para as 18h. Alguém deve ter ouvido errado. Acho que teríamos ficado mais uma noite se não fosse pela corajosa companheira que entrou no carro do dono da empresa de transportes e foi conferir in loco o que estava acontecendo com o busão que não ficava pronto nunca. Depois ela ficou conhecida com a primeira dama do transporte goianense, mas isso é outra história.
Foram tantos acontecimentos em Goiânia que até esqueci o que tínhamos ido fazer em Brasília e, quando, finalmente, conseguimos entrar no ônibus para voltar, estava me sentindo como o João do Santo Cristo. Não consegui o que queria. Queria mesmo era falar com a presidenta pra ajudar toda essa gente... Mas, de longe, ela deve ter nos ouvido, porque o barulho foi grande. Ou pelo menos a sua amiga, a Arrogantíssima Ministra do Planejamento, deve ter escutado, já que em frente a esse ministério o barulho foi maior.

Um comentário:

  1. Nossa... acabei de voltar no tempo... faz tempo né??? Acho que não... mas concordo com o Frejat : “rir de tudo é desespero” foi assim que me senti... bjuss

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