domingo, 22 de julho de 2012

Não era uma bolsa qualquer




As letrinhas vermelhas na vitrine da loja com a palavrinha mágica - promoção - me convidavam para entrar. Não era uma loja qualquer. Era aquela loja que tinha umas bolsas lindas que custavam o que o meu salário não era capaz de pagar. Mas agora, dizia o recado na vitrine, as bolsas estavam pela metade do preço. Bolsas, 50% off, era o que estava escrito. Não sei porque, sempre em inglês.
Entrei. Estava mesmo precisando de uma bolsa. Mulher sempre precisa de uma bolsa nova. Aliás, de sapatos também. Fiquei meio perdida dentro daquela loja chique. Lojas chiques não me deixam muito à vontade. A vendedora me olhando com aquele sorriso falso. Pobre, não consegue disfarçar que é pobre. É uma marca que carregamos para todo lugar, como dizia um amigo, até no jeito de andar.
Mesmo pela metade do preço, as bolsas ainda estavam muito caras. Olhei, olhei. Peguei uma para ver com as mãos. Abri, fechei, olhei todas as divisórias. O tamanho era ideal para quem, como eu, enfia tudo e mais um pouco dentro da bolsa. A vendedora disse “essa está muito barata!”. Ela deve ter desconfiado que eu estivesse mesmo procurando a mais barata. E continuou “ela não é uma bolsa qualquer”. E disse a grife da bolsa como se fosse a coisa mais incrível do mundo, e pela metade do preço! Eu tentei fazer uma cara de naturalidade. Não podia deixar que ela percebesse que aquela bolsa custava a metade do meu salário. Sabia que aquela era uma marca famosa. Tinha visto em, pelo menos, dois filmes. Concordei com a vendedora quando ela disse que eu não podia perder aquela oportunidade. Peguei a bolsa novamente. Coloquei no ombro. Olhei para o espelho. Olhei para a bolsa. Depois para a vendedora. Depois, para a bolsa de novo... Aquele momento que antecede uma grande decisão. Não dava mesmo para perder aquela oportunidade. E ainda podia parcelar no cartão de crédito em suaves prestações. Na hora nem me toquei que ficaria um ano pagando a bendita da bolsa. Comprei.
Quando cheguei em casa e fui namorar mais um pouquinho meu novo presentinho, abri o guarda-roupa e descobri que não tinha nada para vestir que combinasse com a bolsa nova. Mas, e daí? Aquela bolsa caríssima tinha obrigação de combinar com tudo. Decidi que ia usá-la com qualquer roupa. Lembrei-me do meu namorado, falando do tal “custo-benefício”. Dizia ele que se uma coisa custa caro, ela tem de ser usada bastante para valer a pena.
A primeira vez que saí com a bolsa nova no meu bairro, doida para que alguém percebesse que eu estava com ela, minha amiga, muito gentilmente, disse que adorou minha bolsa. Mas acabou com a minha alegria quando perguntou se eu tinha comprado no camelô. Ela disse que tinha uma parecida lá. Fiquei com vergonha de dizer onde tinha comprado. Disse a ela que comprei numa lojinha no centro e comecei a me arrepender da minha compra. Depois de uma semana com a bolsa, descobri que ela era pesada demais e que as alças eram muito duras. Devia mesmo era ter comprado a de R$19,00 no camelô, se não gostasse, pelo menos não ia me sentir tão culpada pensando nas 12 prestações que tinha para pagar.
Para ajudar na minha tomada de consciência, olho para a tela do computador e vejo uma citação de Marx que alguém postou na rede social. Era algo sobre como o capitalismo deixa as pessoas endividadas com aquilo que elas não precisam. Tudo bem que Marx disse isso há um tempão, mas ele tinha razão. Tarde demais! Quem sabe me lembre disso da próxima vez.

Um comentário:

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    OBRIGADA PELA ATENÇÃO


    BOM SEMANA E PARABÉNS

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