segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Reforma

Tentando reformar minha casa velha de madeira que está sendo devorada pelos cupins. Chegam as tabuas novas e os moços começam a descarregar:
__ Moço, mas essas tábuas são muito curtas!
__São de 1,80m, não foi o que a senhora pediu?
__Não. Eu pedi de 2,80m.
Pensei em responder que só seu eu fosse anã moraria em uma casa de 1,80m de altura. Mas fiquei em silêncio.
Devolveram as tábuas no caminhão e levaram de volta prometendo voltar no dia seguinte com as madeiras do tamanho certo.
Minutos depois chega o pedreiro:
__ A senhora lembrou que a janela que a senhora comprou tem que ser para casa de madeira né?
__ Como assim? Tem diferença?
__ Sim, a janela para casa de madeira é mais estreita.
__ Hum... vixi.
Corri para o telefone. Liguei para o depósito:
__ Moço, por favor, aquelas janelas que eu comprei... tem como você trocar por janelas para casa de madeira?
__ Ih, nós não temos esse tipo de janela aqui não. Quase nem existe mais para vender.
__ Então, por favor, avisa o pessoal da entrega para não entregarem. Depois eu vejo o que faço.
Cinco minutos depois, o caminhão do depósito em frente à minha casa.
__ As janelas que a senhora comprou.
Mais uma vez, o caminhão retorna com o material e eu chego à conclusão que é melhor demolir a minha casa e construir uma nova. 
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sem Internet. E agora?


Manhã de domingo. Antes mesmo de tomar café, lá estava eu, ligando o computador.  Era sempre assim aos domingos. Se me perguntarem o porquê, não sei. Simplesmente me habituei a acordar e ir direto para a Internet. Isolada no meu mundinho, mas não isolada do mundo, numa das tantas contradições modernas. Porém, naquele dia, uma luzinha verde estava apagada e, diante da mensagem “não foi possível conectar-se à Internet”, o meu mundo foi encolhendo, encolhendo e ficou do tamanho da minha casa. E agora? Como passar o domingo? Justo o domingo!
Desliga tudo e liga de novo. Informática tem dessas coisas, sem muita explicação, vai que funciona...Nada. Só me restava ligar para o provedor. Com muita paciência e tempo de sobra, porque todo mundo sabe que conseguir falar com alguém que seja uma pessoa de verdade nessas companhias já é tarefa das mais difíceis, e falar com uma pessoa que consiga resolver o seu problema então é para quem tem muita sorte. Mas, enfim, era necessário. Preparei o espírito, respirei fundo, e rezei para que não fossem tão cruéis comigo e me atendessem em menos de duas horas.
Depois de uns 40 minutos digitando todo tipo de número, finalmente uma voz humana! Pediram para eu reiniciar modem e depois, o computador. Engraçado é que eles pedem para você fazer isso tudo novamente, mesmo que você afirme que já fez.  O atendente até que foi simpático, explicou bem didaticamente: “aperta no botãozinho que tem atrás daquele aparelhinho que a senhora disse que está com uma das luzinhas apagadas, espera uns 30 segundos, aperta de novo e espera acender as luzes...”  Pensei que não precisava ele ser tão detalhista. Mas, lembrei que na informática confusões podem acontecer. Já ouvi cada história de amigos que trabalham com suporte técnico que é melhor não subestimar a ignorância do ser humano. Um dos meus amigos me disse que é preciso ser bem específico, pois nunca se sabe quem está do outro lado da linha. Ele me contou que certa vez estava atendo um cliente e disse “fecha a janela”, como o cliente demorou a falar alguma coisa, ele perguntou se estava tudo bem, o cliente respondeu “sim, está, só levantei para fechar a janela, mas já estou de volta, como o senhor descobriu que estava ventando aqui?”. Agora ele usa a expressão “clica no xizinho que está lá em cima no cantinho da tela do seu computador”.
Depois de inúmeros testes, o atendente me disse que eu teria que aguardar a visita de um técnico. Mas como era domingo, ele só viria na segunda. Fiquei perdidinha. Comecei a planejar o meu domingo sem Internet. Pensei em visitar uns amigos. Ainda tinha alguns que não eram virtuais. Quem sabe visitar os parentes? Aquela tia que vive reclamando que nunca apareço. Pensei até em ir à missa! Ou então podia passar o domingo lendo, ou vendo filmes...Talvez plantar flores, fazer artesanato...
Abri a janela para o mundo real e descobri uma linda manhã de sol. Um belo dia para fazer qualquer coisa que não fosse em frente a uma tela de computador. Fazia tempo que não passava um dia tão agradável! Só voltei a sentir falta da Internet quando me deparei com o abominável e entediante silêncio das noites de domingo. 
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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Medo

Sinto medo.
Sim, o medo que paralisa e gela, estátua súbita.
Não o medo adolescente do poema de Bandeira,
Nem o medo ancião que espera pela morte, visita indesejada.
O medo do intervalo é muito mais perigoso.
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Slow Down

Todo mundo sabe que a correria, que a cobrança para fazer um monte de coisas ao mesmo tempo, e as preocupações com o que ainda não aconteceu estão acabando com a saúde de muita gente. Mas por que é tão difícil desacelerar? Ficamos tão envolvidos com algumas coisas que simplesmente não dá para chegar e dizer “cansei, não quero mais brincar disso”.
E por que nos envolvemos tanto? Boa pergunta. Talvez tenhamos que aprender a equilibrar as coisas. Ver o que realmente nos faz bem. Já aprendi, às duras penas, que não se pode ter tudo. Ganha-se prestígio no trabalho, perde-se prestígio na família. Ganha-se mais dinheiro, perde-se o tempo para gastar esse dinheiro com coisas que nos deixam felizes.
Somos constantemente cobrados, em todos os sentidos. Algumas pessoas conseguem dizer “que se dane” (como eu queria ser assim!). Outras não sabem lidar muito bem com críticas e cobranças e ficam arrasadas em pensar que algo pode dar errado e alguém pode culpá-las por isso.
A vida é estranha. Um belo dia você percebe que não dá conta de fazer tudo o que gostaria, mas admitir isso nem pensar. Quando você desiste de algo, você assina um atestado de fraqueza e, por um longo tempo, tem de dar explicações para todo mundo. Quem está de fora nunca vai entender. Para os outros sempre é tão fácil.
Então você vai levando... e percebe que não está fazendo nada direito. Seu corpo dá sinais de que algo não está bem, mas você não liga, porque ficar doente é para os fracos. Até que chega um momento que você sente dificuldade para levantar da cama e sente que ali, na escuridão do seu quarto, e o lugar que você quer ficar para sempre.  Mas não dá. Você sabe que o mundo lá fora precisa de você (como se você fosse insubstituível). E você luta contra isso. Aí, você pensa nos filhos, na casa, no trabalho... e no trabalho de novo (e nas dívidas).  Enfim, quanto mais você tenta, mas você se sente enfraquecida. Até que você é obrigada a pedir socorro. Um dia no hospital e você é obrigada a parar tudo e refletir. Para quê mesmo que serve tudo isso?
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sábado, 14 de janeiro de 2012

Férias



Não quis viajar nessas férias. Pois quando se está com pouco dinheiro melhor nem arriscar. Alguns conseguem se divertir mesmo com a situação precária, outros voltam da viagem mais cansados e estressados.
A experiência da última viagem não tinha sido das melhores. Tentando economizar,  planejou uma viagem barata e só se deu mal. Foi a uma praiazinha suja que tinha mais gente feia por metro quadrado que qualquer outro lugar do mundo. O duro da praia é que não dá nem para disfarçar, a feiura é totalmente exposta. Dividiu com vinte pessoas uma casa onde cabiam cinco. Todo dia tinha briga. Brigavam para fazer comida, para lavar a louça. Brigavam porque uns queriam comer peixe e outros, churrasco; porque os mais velhos queriam dormir e os mais jovens, fazer bagunça... E as famosas  vaquinhas. Vaquinha para a carne, para a cerveja, para o sorvete. Vaquinha até para a melancia.
Pois bem, esse ano, prometeu a si mesma que ia descansar, colocar a casa em ordem e estudar. Como se fosse possível estudar, colocar a casa em ordem e descansar ao mesmo tempo. No primeiro dia, num esforço danado conseguiu ficar na cama até as 9 horas. Habituada a acordar cedo, pensou que estava atrasada quando viu o sol batendo na cortina.  Após o almoço, sentou para assistir TV, mas logo levantou e foi procurar o que fazer. Não estava acostumada a ficar tanto tempo sem fazer nada e, além disso, a televisão está com uma programação cada vez pior.  Respondeu os emails do trabalho e reclamou em voz alta:  “será que esse povo não vê que estou de férias”.
No segundo dia acordou mais cedo. Até porque já estava sentindo dores nas costas por ter dormido demais no dia anterior. Lembrou do seu pai que dizia que a idade vai chegando e não conseguimos mais ficar tanto tempo na cama.  Colocou Creedence para tocar (música sempre a animava, desde que não fosse funk ou sertanejo universitário). Revirou a casa. Arrastou os móveis. Jogou água em tudo. No final do dia estava exausta. Dormiu cedo aquela noite.
A faxina não adiantou muito. No outro dia teve que limpar tudo de novo. Dessa vez se estressou com os filhos que faziam muita bagunça.
Depois de uns três dias preocupada com a organização da casa, decidiu não se deixar afetar pela louça suja que aparecia em cima da mesa (e não em cima da pia) o dia todo; nem pelas meias, calçados e roupas dos filhos espalhados, pedindo desesperadamente que alguém os colocasse nos seus devidos lugares; muito menos pela imundice do banheiro.  Afinal de contas, estava de férias! Despencou no sofá e começou a zapear pelos canais. Minutos depois estava com a consciência pesada. Não dava pra ficar assistindo à programação-culinária das manhãs na TV aberta sabendo que a casa estava uma zona. Além disso, tinha um monte de livros pra ler, mas como estudar num ambiente bagunçado?
Após os quatro primeiros dias de férias, a rotina passou a ser arrumar a casa pela manhã e estudar à tarde. Descansar, só à noite mesmo. Mas estava difícil estudar com o calor infernal de janeiro. Não via a hora de voltar ao trabalho, pelo menos lá tem ar-condicionado.

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Por que mais um sapato rosa?


__ Por que mais um sapato rosa?
Ele foi enfático. Não era mais um sapato. Era mais um sapato rosa. Pensou em responder que aquele tinha ficado perfeito no seu pé, que nao tinha nenhum naquele modelo e que aquela cor não era rosa, era salmão. Mas não disse nada. Não adianta explicar isso aos homens. Eles não entendem a diferença entre rosa e salmão, imagina se vão saber diferençar scarpin, peep toe, chanel, mule... Pensou em dizer também que aquele sapato ficaria ótimo com o seu vestido novo, da mesma cor, que acabara de comprar. Mas não podia dizer isso, por que levaria bronca por ter comprado mais um vestido.
A verdade é que tinha uma queda por sapatos. Admirava as vitrines como as adolescentes admiram os famosos bonitões nas revistas teens. Se visse um modelo que chamasse a atenção, entrava e provava. Se ficasse bem no pé, comprava sem olhar o preço. Mas sempre levava bronca pelas compras.  Na loja que comprou o último sapato,  desabafou com a vendedora e descobriu que não era a única. “A maioria dos homens reclama mesmo quando as mulheres gastam. Mas não liga não, nós trabalhamos como condenadas, temos direito de gastar nosso dinheiro como quisermos”, disse a vendedora, tentando confortá-la. E continuou: “Foi-se o tempo em que as mulheres dependiam da ‘bondade’ dos esposos até para comprar absorvente.”
Concordou. Tinha sido mesmo um ano de muito trabalho. Em todos os sentidos. Mas agora que estava no final, merecia um presente para si mesma. Se dissesse isso ao marido ele ia falar que todos os meses ela se presenteava e nunca era o suficiente. Os homens nunca vão entender o fato das mulheres abrirem o armário socado de roupas e reclamarem que não há nada para vestir ou que não há nenhum sapato que combine com determinada roupa.
Já estava acostumada, quando questionada, usava sempre a mesma resposta irônica
“Afinal, somos nós, mulheres, que sustentamos o capitalismo, não é?.” Ouviu essa frase em uma palestra uma vez. Não que concordasse inteiramente com o palestrante, mas era uma boa saída para encerrar a discussão.
Pouco antes da meia noite, colocou o vestido, calçou os sapatos. Cabelos escovados, maquiagem feita. Estava pronta.  Disseram (o espelho e as amigas) que estava ótima. Na hora da virada, as promessas para o novo ano: passar mais tempo com os filhos, parar de roer unhas e gastar menos em sapatos.

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