sábado, 31 de março de 2012

A famosa baratinha do RU


Lembram do Joãozinho? Sim, aquele menino levado que vivia atentando a professora no primário. Então, ele cresceu. Cresceu e virou universitário (para espanto de alguns que não acreditavam que ele chegaria lá), mas continua levado.
Como Joãozinho, além de levado, é preguiçoso, ele tem muitas DPs. Não se sabe se é por preguiça de estudar ou é porque ele inferniza tanto a vida dos professores que eles o reprovam de propósito. 
Por causa das DPs, seu tempo para o almoço é curto e a fila do Restaurante Universitário, chamado carinhosamente de RU, vinha incomodando Joãozinho nos últimos dias. Ele precisava fazer algo para diminuir aquela fila gigante.
Pensou, inicialmente, em organizar um motim para tirar os professores de lá. Afinal, dizia ele, professor ganha e bem e não precisar comer no RU, ocupando o lugar dos alunos na fila. Mas ele fez os cálculos e percebeu que mesmo se os professores parassem de freqüentar o RU a fila não diminuiria.
No entanto, alguma coisa ele deveria fazer. Teve uma ideia não muito original, mas que poderia funcionar. Procurou em sua casa uma barata. Encontrou uma bem pequenininha. Na verdade, não era exatamente uma barata. Era, talvez, uma prima distante. Uma criatura menos evoluída da família Blattidae. Mas servia. Não que fosse difícil encontrar uma barata maior na bagunça da sua casa. Aliás, como a mamãe fazia falta! A casa estava uma zona. Aprendeu a duras penas que morar longe de casa não é tão simples como imaginava.
Teve o cuidado de matar o inseto sem esmagá-lo. Enrolou-o num guardanapo e colocou na mochila. Seria simples: na hora do almoço, disfarçadamente, colocaria o bichinho no prato e espalharia a notícia de que tinha uma barata na comida. No dia seguinte, certamente, a fila estaria bem menor e ele poderia almoçar tranquilo.
Chegou a hora do almoço. Nem precisou colocar o inseto no prato. Segurou-o no guardanapo e chamou os amigos para mostrá-lo, dizendo que tinha acabado de tirá-lo do meio da carne. Apesar de a baratinha estar inteirinha e sem nada de molho, eles acreditaram que ela realmente tinha saído do meio da carne cozida do prato de Joãozinho. Tiraram fotos e postaram nas redes sociais. Imediatamente a baratinha estava famosa. Ela ficou tão famosa que virou notícia em rede nacional. Nos dias seguintes, além dos clientes de sempre, o RU recebeu muitos curiosos procurando encontrar mais baratinhas para fotografar e compartilhar. Alguns, mais espertinhos, começaram a trazer rinocerontes, dromedários, dinossauros... mas nenhum fez tanto sucesso quanto à baratinha. O inseto atraiu até a atenção de pesquisadores internacionais que, entre outras constatações, descobriram que a baratinha era, na verdade, uma traça.
 A fila do RU aumentou e Joãozinho não atingiu seu objetivo. Ele ainda teve de aguentar a gozação dos alunos depois que todas as evidências mostraram que a “barata” tinha vindo da sua própria casa.
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sábado, 24 de março de 2012

Futebol de quinta


Ao chegar em casa, deparei-me com um monte de homens na sala hipnotizados em frente à televisão. Eram os amigos do meu irmão que ele tinha convidado para ver o jogo. Depois ele me explicou que aquele jogo só estava passando na TV por assinatura, por isso a homarada estava lá. Mas quinta-feira! Lembro que antes era na quarta, no sábado e no domingo. Agora é na quinta também.
Como sou uma pessoa educada, não reclamei dos copos e garrafas de cerveja espalhados pela sala. Aliás, é impressionante como homem não consegue ver futebol sem beber! Parece que é um ritual sagrado: começa o jogo, abre uma cerveja. É como se o ato de tomar cerveja enquanto assiste ao jogo mandasse energias positiva para os jogadores.
Também não me importei com os palavrões ditos em alto e bom som que não me deixaram dormir antes do fim do jogo. Até acho isso bom. Teoricamente , quando os homens falam bastante palavrão, xingam os jogadores de tudo quanto é nome, é como uma válvula de escape para eles não saírem por aí cometendo atrocidades. Teoricamente, porque isso não está funcionando com algumas torcidas organizadas que fazem questão de mostrar seus instintos primitivos a cada final de jogo.
É engraçado também ouvir as discussões depois do jogo. Alguns felizes com o resultado, outros tristes. Mas todos dando opinião e achando que poderiam ter feito melhor que os caras que estavam lá no campo. 
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domingo, 11 de março de 2012

Cheiro de bolinho de chuva


Passava todas as manhãs naquela rua. Era caminho do trabalho. Entre as modernas casas de alvenaria de arquitetura padronizada, quase na esquina, ficava uma casinha de madeira. Pintada de branco com janelas bordô, quase escondida atrás plantas. Roseiras, copos-de-leite, margaridas e diversas outras espécies de flores que nunca soube que nome tinham, habitavam aquele singelo quintal.
A pequena varanda na entrada da sala tinha uma cadeira de balanço de cada lado. O assoalho com tabuas estreitinhas estava sempre brilhando; as samambaias plantadas em xaxins penduradas por toda a viga que fazia o contorno da área, tinha folhas verdinhas que balançavam delicadamente com o vento.
As trepadeiras que encobriam o muro chegavam ao pilar da varanda. As plantinhas se espalhavam pelo quintal de forma desordenada, numa paisagem irregular, como se crescessem espontaneamente, do jeito que a natureza quer. Pareciam tão felizes ao nascer do dia. Era como se estivessem brincando com o sol que estava despertando preguiçoso.
O caminho do portão até a entrada era demarcado com pedras calhadas numa simetria interessante que iam diminuindo de tamanho conforme se aproximava da varanda.
A primeira vez que reparei naquela casa, talvez tenha sido a primeira vez que passei naquela rua. A pequena casinha me despertou um sentimento familiar. Ela tinha um jeito de casinha de vó. Lembrei-me da minha vozinha e de toda minha infância; da pobre casinha onde Dona Luiza vivia e cuidava das suas plantinhas com amor. Os vasos de latinhas pendurados na parede; a semelhança do quintal com uma mistura de flores e plantas medicinais, as samambaias, o caminho de pedras...
Não consegui mais passar por ali sem observar aquela casinha. Diminuía o passo quando me aproximava e ficava olhando os detalhes do jardim. Uma nova flor que desabrochava, uma borboleta que circulava entre as margaridas... Comecei até a sentir o cheiro de bolinho de chuva, como o da vovó.
Mas, naquela manhã, senti que o caminho para ir ao trabalho nunca mais teria a mesma poesia. Apenas um amontoado de madeira velha cheia de pregos enferrujados e um clarão onde estava a casinha. As plantinhas choravam debaixo das tábuas. Uma das últimas casas de madeira daquele bairro estava destruída.
Tentava imaginar porque tinham demolido a casinha. Talvez um investidor percebeu que seria muito mais lucrativo construir um moderno sobrado naquele terreno (como os da vizinhança); talvez a casinha estivesse sendo destruída pelos cupins; talvez o telhado ficou danificado na última chuva de granizo. Ou talvez a vozinha que morava lá tivesse ido embora e não havia mais ninguém para cuidar das plantinhas nem para fazer bolinho de chuva.
De repente senti uma saudade da vovozinha que não conheci. Fiquei me sentindo culpada por nunca ter entrado lá para tomar chá de erva cidreira, comer bolinho de chuva e ouvir as histórias dela.

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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sim, eu vou ao psiquiatra, e daí?

Tive de retornar ao psiquiatra essa semana. Nada grave, apenas um quadro de ansiedade avançado associado a sintomas de depressão. Mas por que mesmo que eu preciso explicar o motivo de eu ter ido ao psiquiatra? De tanto as pessoas me perguntarem, habituei-me a justificar minha visita à clinica. O duro não é ir ao psiquiatra, é contar para parentes e amigos o que você foi fazer lá.
No início, quando contei que estava indo ao psiquiatra, algumas pessoas me olharam com cara de espanto, como se no momento seguinte eu fosse atear fogo numa nota de cem reais. Outros, olharam com pena, como se dissessem “coitada, parece uma pessoa tão normal” e já me viam numa camisa de força.  Outros chegaram a falar  “nossa, mas você é tão jovem!”, como se só velhos precisassem desse tipo de atendimento médico.
Alguns amigos tentaram me animar com comentários do tipo “como assim, deprimida? Você tem uma vida maravilhosa! Olha quanta criancinha passando fome!  Adolescentes fumando crack! Quanta gente morrendo em terremoto, furação, tsunami...” Aí mesmo foi que eu entrei em desespero e comecei a chorar. Como estava sendo egoísta! E todos os dias acordava me lembrando das criancinhas famintas, dos adolescentes perdidos e das pessoas morrendo. Passava o dia todo mal por ter uma vida maravilhosa enquanto um monte de gente estava abaixo da linha do que consideramos uma vida desgraçada.
Foi meu chefe que me encorajou a procurar um psiquiatra um dia depois de eu ter passado por uma crise que ele percebeu que não era TPM. Ele me chamou num cantinho e me disse que era o que eu deveria fazer, mas tentou me tranquilizar dizendo que não é porque eu ia ao psiquiatra que eu estava louca. Disse que conhecia muitas pessoas normais (companheiros de trabalho, inclusive) que eram pacientes do médico que ele me indicou. Muito confortador!
Minha mãe acha que a minha necessidade de consultar um psiquiatra é proporcional à minha ausência na igreja. Não ouso ir contra os argumentos dela. Acredito naquela história de que praga de mãe pega. Todas as vezes que não segui um conselho da minha mãe o universo conspirou (a favor dela, é claro) e ela não perdeu a oportunidade de, com ares de vitoriosa, olhar para mim e dizer “eu avisei!”. Tenho procurado ir mais à igreja. Até porque ela já me alertou que conhece histórias de pessoas com os mesmos sintomas que eu que cometeram suicídio. Adoro a sinceridade da minha mãe!
Nas primeiras consultas, com medo que alguém me visse e eu tivesse de dar explicações, comecei a sair da clínica como o marido que leva a amante para o motel. É uma clínica conhecida na cidade (muito bonita, diga-se de passagem) e todo mundo sabe que lá atende o Dr. Fulano, psiquiatra e a Dra. Fulana, pediatra. Como não estava com nenhuma criança, claro que só podia ter ido ao psiquiatra.
Já não me incomodo mais com o fato das pessoas saberem que vou ao psiquiatra. Também não ligo de dar explicações sobre meu probleminha. Talvez seja só esquisitice de quem “vai ao psiquiatra” ficar imaginando o que se passa na cabeça das outras pessoas quando elas sabem disso.

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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Vizinhos


Seria bom se pudéssemos escolher também nossos vizinhos quando escolhemos nossa casa. Enquanto isso não é possível, temos que aceitar a vizinhança que vem de brinde junto com o imóvel. Lembro-me de um amigo que comprou uma casa linda, num lugar que ele considerava ideal para criar seu bebezinho que acabara de nascer. Mas, alguns meses depois, teve de colocá-la à venda. Motivo: o vizinho da frente chegava bêbado e gritando toda noite, assim que o casal conseguia fazer o bebê dormir. O cara era do tipo que bebia quando estava feliz para comemorar e bebia quando estava triste para afogar as mágoas. Algumas noites, ficava repetindo “viva o Santos!”; outras, gritava para satã vir buscá-lo. Como a esposa não abria a porta, ele ficava horas berrando até que adormecia na calçada, junto com algum cachorro da rua. Para os demais moradores do bairro, meu amigo ficou conhecido como “o professor que mora em frente à casa do bêbado”.  Felizmente, para toda a vizinhança, o bêbado logo partiu. A cirrose (ou satã?) o levou. Acho que nunca uma morte foi tão comemorada. Fiquei com pena desse homem quando soube da história. Que vida mais desgraçada! Mas fiquei feliz pelo meu amigo que não precisou vender a casa.
Quem nunca pensou num plano macabro para acabar com o morador da casa do lado ou do andar de cima? Colocar ácido sulfúrico na caixa d’água, soltar uma cascavel no quintal, colocar soda cáustica no açúcar da vizinha, por exemplo. Mas, na maioria das vezes, os vizinhos são uma benção. Eles ajudam a cuidar das nossas casas. Cuidam das nossas vidas também, mas tudo na melhor das intenções. Tenho um amigo que parou de me visitar porque começou a se sentir incomodado com as vizinhas na janela cada vez que ele estacionava em frente à minha casa. Tentei explicar que elas tinham um cuidado especial comigo, pois casa onde mora uma mulher sozinha, sabe-se lá que tipo de ameaça pode estar se aproximando do portão. Mas ele não apareceu mais. Acho que não entendeu.
De modo geral, não tenho do que reclamar dos meus vizinhos. Tirando o do lado esquerdo e o do lado direito que competem para ver quem tem o som do carro mais potente e quem ouve a música mais idiota. Com exceção também do Sr. Adolfo, um alemão solitário que reclama de tudo. Aliás, ele faz jus ao nome. Dia desses tive medo que ele colocasse os meninos que jogavam bola na rua numa câmara de gás. Ele faz coleção de bolas que toma dos piás. Ele merece o troféu de vizinho implicante. Reclamou até do barulho do meu salto!
Aprendi que com vizinhos do tipo do Sr. Adolfo temos que usar, literalmente, a política da boa vizinhança. Disse a ele que estou substituindo meus sapatos de salto por sapatilhas de balé. Além disso, quando ele reclama de alguma coisa, digo que conheci uma viúva bonita e simpática e que vou apresentá-la em breve. Isso o mantém ocupado por alguns dias. Quanto aos outros vizinhos, exercício de paciência é o mais recomendável.
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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Alquimista

Não se pode negar que os videogames ensinam muito. Coisas boas e coisas ruins, obviamente. Uma das coisas boas que meus filhos estão aprendendo com o videogame é o Inglês. Que escola de idiomas que nada! Aqui em casa, o professor de Inglês se chama Play Station 2. Apesar de o meu filho sair por aí contando pra todo mundo que a mãe dele sabe Inglês, quem realmente faz com que ele aprenda alguma coisa é o videogame. Já tentei ensinar, mas não dá para competir com os jogos.
Mas eu ajudo. De vez em quando a musiquinha do jogo para e ouço um grito: “mãe, corre aqui”. Pode ter certeza que é para traduzir alguma palavra ou frase que eles não sabem.
Esses dias, o Vitor me chamou e me perguntou o que era Alchemist. Eu respondi de maneira direta: alquimista. O videogame continuou pausado.
__ E o que é Alquimista? Continuou ele.
__ Nossa, é meio complicado o significado dessa palavra! Tem certeza que quer saber?
__ Claro.
Comecei a explicar meio como o wikipedia. Contei que alquimistas eram chamadas as pessoas que estudavam Alquimia, uma ciência antiga que misturava elementos da Química com astrologia, filosofia, magia, etc...que os alquimistas tentaram transformar metal em ouro e criar o Elixir da Vida Longa. Mas não conseguiram.
__ Ainda bem né, mãe.
__ Por que?
__ Já pensou se as pessoas fossem jovens para sempre?! Ninguém ia morrer e iam nascendo mais pessoas e mais pessoas, e a Terra ia ficar tão cheia que não ia ter comida para todo mundo.
Ainda bem digo eu. Que bom que ele entendeu logo o ciclo da vida. Parece tão simples isso: umas pessoas precisam ir para dar lugar às outras. Espero me lembrar disso quando perder alguém que amo. Que bom também que não paramos na simples tradução da palavra Alchemist. Orgulho da mamãe!

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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Primeiro dia de aula

Recém-formada, orgulhosa de ter sido já aprovada em concurso público, chega toda animada para o seu primeiro dia como professora. Um pouco ansiosa, segue direto para a sala da sétima série (depois de algum tempo descobriu porque professores iniciantes sempre ficam com as sétimas séries). Além da ansiedade, o barulho e o empurra-empurra no corredor incomodavam um pouco, mesmo assim ela sorria e seguia com sua pastinha apoiada no peito tentando demonstrar tranquilidade.
Parada na porta, olhava para aquela sala cheia. Aproximadamente quarenta corpos inquietos que arrastavam carteiras e falavam sem parar. Precisava urgentemente de alguma técnica para controlar o medo, mas nessas horas não há muito o que fazer. Depois de alguns minutos, conseguiu, finalmente, que eles percebessem que ela estava na sala. Sim, já havia uma professora no local.
Um tempo para as tradicionais apresentações e toda aquela história estabelecer acordos.  Algumas perguntas engraçadinhas e comentários indignados do tipo “a outra professora não fazia isso”. Mas a indignação foi maior quando ela pegou umas folhas com um texto impresso e saiu distribuindo para a turma. Usaram o argumento de que no primeiro dia professor nenhum “dá aula”. De acordo com eles, na primeira aula “todo mundo só conversa”. Ela explicou que iam ouvir uma música que estava relacionada ao conteúdo que seria trabalhado, apenas para refletir e discutir um pouco sobre o assunto.
Na hora de colocar a música, nada de funcionar o som. Devia ser a tomada. Pediu para um aluno, por favor, chamar alguém da manutenção para ver o que estava acontecendo. Rapidamente apareceu nada menos que o diretor. A professora empalideceu na presença daquele homem que estava visivelmente chateado por terem interrompido seus importantes afazeres por causa de uma tomada que não funcionava. Olhou, mexeu e disse: “vamos tentar a outra tomada!”. Ela tremeu de vergonha. A sala tinha outra tomada. Por que não viu isso antes?
Depois que ouviu os comentários dos alunos sobre a música, pensou que seria melhor se nenhuma tomada tivesse funcionado. Levar MPB para a sétima série ouvir talvez não tivesse sido uma boa idéia. Mas era uma música tão bonita e trazia uma letra riquíssima que daria margem para uma discussão calorosa, lamentava-se. Pelo menos, ficou aliviada ao perceber que dois alunos tinham prestado atenção na música, do início ao fim.
Cinquenta minutos que pareceram uma eternidade. Respirou fundo. Ainda faltavam nove aulas. No final do dia, exausta e sem voz, sentiu vontade de sair de lá correndo, chorando e nunca mais voltar. Mas tentou encontrar forças para continuar, afinal fazia parte de um grupo privilegiado. Uma profissão tão nobre! Era uma das poucas da sua turma da faculdade que já estava atuando na área! Mas quando pensou no salário, sentiu vontade de chorar novamente.
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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Reforma

Tentando reformar minha casa velha de madeira que está sendo devorada pelos cupins. Chegam as tabuas novas e os moços começam a descarregar:
__ Moço, mas essas tábuas são muito curtas!
__São de 1,80m, não foi o que a senhora pediu?
__Não. Eu pedi de 2,80m.
Pensei em responder que só seu eu fosse anã moraria em uma casa de 1,80m de altura. Mas fiquei em silêncio.
Devolveram as tábuas no caminhão e levaram de volta prometendo voltar no dia seguinte com as madeiras do tamanho certo.
Minutos depois chega o pedreiro:
__ A senhora lembrou que a janela que a senhora comprou tem que ser para casa de madeira né?
__ Como assim? Tem diferença?
__ Sim, a janela para casa de madeira é mais estreita.
__ Hum... vixi.
Corri para o telefone. Liguei para o depósito:
__ Moço, por favor, aquelas janelas que eu comprei... tem como você trocar por janelas para casa de madeira?
__ Ih, nós não temos esse tipo de janela aqui não. Quase nem existe mais para vender.
__ Então, por favor, avisa o pessoal da entrega para não entregarem. Depois eu vejo o que faço.
Cinco minutos depois, o caminhão do depósito em frente à minha casa.
__ As janelas que a senhora comprou.
Mais uma vez, o caminhão retorna com o material e eu chego à conclusão que é melhor demolir a minha casa e construir uma nova. 
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sem Internet. E agora?


Manhã de domingo. Antes mesmo de tomar café, lá estava eu, ligando o computador.  Era sempre assim aos domingos. Se me perguntarem o porquê, não sei. Simplesmente me habituei a acordar e ir direto para a Internet. Isolada no meu mundinho, mas não isolada do mundo, numa das tantas contradições modernas. Porém, naquele dia, uma luzinha verde estava apagada e, diante da mensagem “não foi possível conectar-se à Internet”, o meu mundo foi encolhendo, encolhendo e ficou do tamanho da minha casa. E agora? Como passar o domingo? Justo o domingo!
Desliga tudo e liga de novo. Informática tem dessas coisas, sem muita explicação, vai que funciona...Nada. Só me restava ligar para o provedor. Com muita paciência e tempo de sobra, porque todo mundo sabe que conseguir falar com alguém que seja uma pessoa de verdade nessas companhias já é tarefa das mais difíceis, e falar com uma pessoa que consiga resolver o seu problema então é para quem tem muita sorte. Mas, enfim, era necessário. Preparei o espírito, respirei fundo, e rezei para que não fossem tão cruéis comigo e me atendessem em menos de duas horas.
Depois de uns 40 minutos digitando todo tipo de número, finalmente uma voz humana! Pediram para eu reiniciar modem e depois, o computador. Engraçado é que eles pedem para você fazer isso tudo novamente, mesmo que você afirme que já fez.  O atendente até que foi simpático, explicou bem didaticamente: “aperta no botãozinho que tem atrás daquele aparelhinho que a senhora disse que está com uma das luzinhas apagadas, espera uns 30 segundos, aperta de novo e espera acender as luzes...”  Pensei que não precisava ele ser tão detalhista. Mas, lembrei que na informática confusões podem acontecer. Já ouvi cada história de amigos que trabalham com suporte técnico que é melhor não subestimar a ignorância do ser humano. Um dos meus amigos me disse que é preciso ser bem específico, pois nunca se sabe quem está do outro lado da linha. Ele me contou que certa vez estava atendo um cliente e disse “fecha a janela”, como o cliente demorou a falar alguma coisa, ele perguntou se estava tudo bem, o cliente respondeu “sim, está, só levantei para fechar a janela, mas já estou de volta, como o senhor descobriu que estava ventando aqui?”. Agora ele usa a expressão “clica no xizinho que está lá em cima no cantinho da tela do seu computador”.
Depois de inúmeros testes, o atendente me disse que eu teria que aguardar a visita de um técnico. Mas como era domingo, ele só viria na segunda. Fiquei perdidinha. Comecei a planejar o meu domingo sem Internet. Pensei em visitar uns amigos. Ainda tinha alguns que não eram virtuais. Quem sabe visitar os parentes? Aquela tia que vive reclamando que nunca apareço. Pensei até em ir à missa! Ou então podia passar o domingo lendo, ou vendo filmes...Talvez plantar flores, fazer artesanato...
Abri a janela para o mundo real e descobri uma linda manhã de sol. Um belo dia para fazer qualquer coisa que não fosse em frente a uma tela de computador. Fazia tempo que não passava um dia tão agradável! Só voltei a sentir falta da Internet quando me deparei com o abominável e entediante silêncio das noites de domingo. 
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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Medo

Sinto medo.
Sim, o medo que paralisa e gela, estátua súbita.
Não o medo adolescente do poema de Bandeira,
Nem o medo ancião que espera pela morte, visita indesejada.
O medo do intervalo é muito mais perigoso.
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Slow Down

Todo mundo sabe que a correria, que a cobrança para fazer um monte de coisas ao mesmo tempo, e as preocupações com o que ainda não aconteceu estão acabando com a saúde de muita gente. Mas por que é tão difícil desacelerar? Ficamos tão envolvidos com algumas coisas que simplesmente não dá para chegar e dizer “cansei, não quero mais brincar disso”.
E por que nos envolvemos tanto? Boa pergunta. Talvez tenhamos que aprender a equilibrar as coisas. Ver o que realmente nos faz bem. Já aprendi, às duras penas, que não se pode ter tudo. Ganha-se prestígio no trabalho, perde-se prestígio na família. Ganha-se mais dinheiro, perde-se o tempo para gastar esse dinheiro com coisas que nos deixam felizes.
Somos constantemente cobrados, em todos os sentidos. Algumas pessoas conseguem dizer “que se dane” (como eu queria ser assim!). Outras não sabem lidar muito bem com críticas e cobranças e ficam arrasadas em pensar que algo pode dar errado e alguém pode culpá-las por isso.
A vida é estranha. Um belo dia você percebe que não dá conta de fazer tudo o que gostaria, mas admitir isso nem pensar. Quando você desiste de algo, você assina um atestado de fraqueza e, por um longo tempo, tem de dar explicações para todo mundo. Quem está de fora nunca vai entender. Para os outros sempre é tão fácil.
Então você vai levando... e percebe que não está fazendo nada direito. Seu corpo dá sinais de que algo não está bem, mas você não liga, porque ficar doente é para os fracos. Até que chega um momento que você sente dificuldade para levantar da cama e sente que ali, na escuridão do seu quarto, e o lugar que você quer ficar para sempre.  Mas não dá. Você sabe que o mundo lá fora precisa de você (como se você fosse insubstituível). E você luta contra isso. Aí, você pensa nos filhos, na casa, no trabalho... e no trabalho de novo (e nas dívidas).  Enfim, quanto mais você tenta, mas você se sente enfraquecida. Até que você é obrigada a pedir socorro. Um dia no hospital e você é obrigada a parar tudo e refletir. Para quê mesmo que serve tudo isso?
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sábado, 14 de janeiro de 2012

Férias



Não quis viajar nessas férias. Pois quando se está com pouco dinheiro melhor nem arriscar. Alguns conseguem se divertir mesmo com a situação precária, outros voltam da viagem mais cansados e estressados.
A experiência da última viagem não tinha sido das melhores. Tentando economizar,  planejou uma viagem barata e só se deu mal. Foi a uma praiazinha suja que tinha mais gente feia por metro quadrado que qualquer outro lugar do mundo. O duro da praia é que não dá nem para disfarçar, a feiura é totalmente exposta. Dividiu com vinte pessoas uma casa onde cabiam cinco. Todo dia tinha briga. Brigavam para fazer comida, para lavar a louça. Brigavam porque uns queriam comer peixe e outros, churrasco; porque os mais velhos queriam dormir e os mais jovens, fazer bagunça... E as famosas  vaquinhas. Vaquinha para a carne, para a cerveja, para o sorvete. Vaquinha até para a melancia.
Pois bem, esse ano, prometeu a si mesma que ia descansar, colocar a casa em ordem e estudar. Como se fosse possível estudar, colocar a casa em ordem e descansar ao mesmo tempo. No primeiro dia, num esforço danado conseguiu ficar na cama até as 9 horas. Habituada a acordar cedo, pensou que estava atrasada quando viu o sol batendo na cortina.  Após o almoço, sentou para assistir TV, mas logo levantou e foi procurar o que fazer. Não estava acostumada a ficar tanto tempo sem fazer nada e, além disso, a televisão está com uma programação cada vez pior.  Respondeu os emails do trabalho e reclamou em voz alta:  “será que esse povo não vê que estou de férias”.
No segundo dia acordou mais cedo. Até porque já estava sentindo dores nas costas por ter dormido demais no dia anterior. Lembrou do seu pai que dizia que a idade vai chegando e não conseguimos mais ficar tanto tempo na cama.  Colocou Creedence para tocar (música sempre a animava, desde que não fosse funk ou sertanejo universitário). Revirou a casa. Arrastou os móveis. Jogou água em tudo. No final do dia estava exausta. Dormiu cedo aquela noite.
A faxina não adiantou muito. No outro dia teve que limpar tudo de novo. Dessa vez se estressou com os filhos que faziam muita bagunça.
Depois de uns três dias preocupada com a organização da casa, decidiu não se deixar afetar pela louça suja que aparecia em cima da mesa (e não em cima da pia) o dia todo; nem pelas meias, calçados e roupas dos filhos espalhados, pedindo desesperadamente que alguém os colocasse nos seus devidos lugares; muito menos pela imundice do banheiro.  Afinal de contas, estava de férias! Despencou no sofá e começou a zapear pelos canais. Minutos depois estava com a consciência pesada. Não dava pra ficar assistindo à programação-culinária das manhãs na TV aberta sabendo que a casa estava uma zona. Além disso, tinha um monte de livros pra ler, mas como estudar num ambiente bagunçado?
Após os quatro primeiros dias de férias, a rotina passou a ser arrumar a casa pela manhã e estudar à tarde. Descansar, só à noite mesmo. Mas estava difícil estudar com o calor infernal de janeiro. Não via a hora de voltar ao trabalho, pelo menos lá tem ar-condicionado.

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Por que mais um sapato rosa?


__ Por que mais um sapato rosa?
Ele foi enfático. Não era mais um sapato. Era mais um sapato rosa. Pensou em responder que aquele tinha ficado perfeito no seu pé, que nao tinha nenhum naquele modelo e que aquela cor não era rosa, era salmão. Mas não disse nada. Não adianta explicar isso aos homens. Eles não entendem a diferença entre rosa e salmão, imagina se vão saber diferençar scarpin, peep toe, chanel, mule... Pensou em dizer também que aquele sapato ficaria ótimo com o seu vestido novo, da mesma cor, que acabara de comprar. Mas não podia dizer isso, por que levaria bronca por ter comprado mais um vestido.
A verdade é que tinha uma queda por sapatos. Admirava as vitrines como as adolescentes admiram os famosos bonitões nas revistas teens. Se visse um modelo que chamasse a atenção, entrava e provava. Se ficasse bem no pé, comprava sem olhar o preço. Mas sempre levava bronca pelas compras.  Na loja que comprou o último sapato,  desabafou com a vendedora e descobriu que não era a única. “A maioria dos homens reclama mesmo quando as mulheres gastam. Mas não liga não, nós trabalhamos como condenadas, temos direito de gastar nosso dinheiro como quisermos”, disse a vendedora, tentando confortá-la. E continuou: “Foi-se o tempo em que as mulheres dependiam da ‘bondade’ dos esposos até para comprar absorvente.”
Concordou. Tinha sido mesmo um ano de muito trabalho. Em todos os sentidos. Mas agora que estava no final, merecia um presente para si mesma. Se dissesse isso ao marido ele ia falar que todos os meses ela se presenteava e nunca era o suficiente. Os homens nunca vão entender o fato das mulheres abrirem o armário socado de roupas e reclamarem que não há nada para vestir ou que não há nenhum sapato que combine com determinada roupa.
Já estava acostumada, quando questionada, usava sempre a mesma resposta irônica
“Afinal, somos nós, mulheres, que sustentamos o capitalismo, não é?.” Ouviu essa frase em uma palestra uma vez. Não que concordasse inteiramente com o palestrante, mas era uma boa saída para encerrar a discussão.
Pouco antes da meia noite, colocou o vestido, calçou os sapatos. Cabelos escovados, maquiagem feita. Estava pronta.  Disseram (o espelho e as amigas) que estava ótima. Na hora da virada, as promessas para o novo ano: passar mais tempo com os filhos, parar de roer unhas e gastar menos em sapatos.

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Dieta



Ela estava acabando de se servir na fila do buffet. Já passava do horário habitual do almoço e a fome estava demais. Percebeu que o prato tinha ficado enorme. Restaurante self-service é assim, não adianta pegar só um pouquinho de cada coisa que no final o prato sempre fica gigantesco, mas agora já foi, pensou. Do outro lado da fila, surge, do nada, o Paulão, seu companheiro de academia.
- Carol, você parou com seu regime? Gritou o moço, nada discreto, fazendo todo mundo olhar para Carolina e sua montanha comestível.
A garota, toda sem graça, olhou para seu prato engolindo a culpa pelo fracasso. Agora, a balança revelava o peso da sua gula. Saiu caro. Ficou calculando mentalmente quantas calorias teriam cada grama de tudo o que estava no recipiente. Por alguns instantes pensou em acertar a conta e sair correndo, sem tocar na comida. Comprar algo no mercado e comer no carro, bem escondidinha. Mas aquela mistureba de massas e carnes parecia muito saborosa. Seria um pecado desperdiçar!
Em meio a uma garfada e outra, e aos olhares de condenação do Paulão e de outros conhecidos e desconhecidos que estavam no restaurante (em cidade pequena não se pode nem comer em paz!), tentava entender porque não conseguia levar adiante a porcaria da dieta que já estava na milésima tentativa. Parecia tão simples. Era só seguir o cardápio do dia na agenda do celular: salada verde e frango grelhado para o almoço e, para sobremesa, um copinho de gelatina (diet é claro!). Mas, por que não resistia às massas?
Talvez fosse culpa da genética. Sua mãe passava o dia todo comendo e fazendo comida. Sua vó, além de fazer o que sua mãe fazia brigava com todo mundo para comer o tempo todo! Sorriu ao lembrar da Nona lhe dando bronca: “Mas não ta comendo direito, vai ficar doente, hã!”. E a Bisa então! Era daquelas que achava que para ser belo tinha que ser gordo. Lembrou de quando a Juliana (sua prima) chegou cansada da academia e a Bisa, olhou-a dos pés à cabeça e disse “ta bonita, gorda!”. A menina queria morrer. Fazia um tempão que ela estava tentando perder uns quilinhos e ter que ouvir um comentário desses! Logicamente, a Bisa não entendeu a saída repentina e cabisbaixa da moça. Que bom seria se todos naquele restaurante pensassem como a Bisa!
Enquanto recordava o passado, o prato ficou vazio. Precisava pagar a conta e sair depressa. Ainda tinha que passar comprar os ingredientes para fazer aquele macarrão que prometeu aos amigos. E o Paulão, é claro, não estava na lista dos convidados. Recomeçaria o regime na segunda-feira.

Texto publicado no jornal Correio do Cidadão no dia 17/12/11.
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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ah, então é uma zona!

Era sábado à tarde. Estávamos, minha amiga, eu e nossos filhos, passeando. Paramos em frente a um boteco com umas características meio suspeitas.
_ Desconfio que este lugar é um antro! Disse ela olhando para o bar e para mim.
Meu filho, todo curioso, se aproxima de nós duas e pergunta:
__  O que é um antro?
Olhamos uma para a outra, rimos e ficamos caladas por alguns instantes. Até que ela começou:
__ Antro, Gabriel, é um lugar para onde, geralmente, os homens vão para beber, se divertir... é um lugar onde ficam algumas mulheres não muito descentes, com um comportamento não muito aceito pela sociedade...
E continuou, procurando todo tipo de expressões que explicassem a palavra “antro”. Ficou meia hora tentando fazer o garoto entender, numa linguagem talvez não muito didática, mas que ela acreditava ser apropriada para crianças menores de 10 anos. Agora os três meninos estavam atentos à explicação. Até que, finalmente, o garoto pareceu entender.
__Ah, então é uma zona!
Melhor não subestimar a inteligência das crianças.
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domingo, 18 de setembro de 2011

Não entendo

Ele acabou de completar 8 anos. Recentemente a professora me chamou e me disse: "mãe, não sei o que acontece que o Vitor, ele  fica aéreo na sala, às vezes." Disse também que ele era desorganizado, que o caderno estava feio e que ele vivia perdendo o material. Pediu para que eu procurasse ajuda profissional porque algo devia estar afetando o desempenho dele na escola pois as notas não estavam lá muito altas. Falou também que ele estava deixando de fazer algumas tarefas.
Nenhuma mãe gosta de ouvir comentários assim do seu filho. É lógico que notas altas, comportamento condicionado e organização é o que a maioria dos professores esperam dos seus alunos. Mas o Vitor é diferente. Não quis discutir com a professora. Mas poderia usar o velho bordão usado pelas mães: eu conheço meu filho!
Prefiro que ele seja do jeito que é, mesmo que isso incomode um pouco algumas pessoas. Que goste de rock; que faça um topete diferente no cabelo; que vista a camisa aberta por cima da camiseta; que diga que funk e sertanejo é "paia"; que me questione sobre os astros; o livro de gênese; o por do sol; as invenções do homem; a destruição do meio ambiente; os dinossauros; a descoberta do fogo... mesmo que eu não tenha resposta para nenhuma dessas perguntas.
Prefiro que ele reclame quando tem por tarefa copiar números de 350 a 555 porque sabe que isso é perda de tempo. Prefiro que ele tenha explicações criativas para questões que ninguém mais sabe como resolver. Prefiro ficar pasma refletindo durante alguns minutos e me questionando como não pensei nisso antes, sobre aquela sacada que ele teve e que só os olhos de uma criança esperta conseguem enxergar.
Talvez, nos momentos em que ele estava aéreo na sala de aula, foram os momentos em que ele mais produziu. Talvez daí tenha surgido a ideia desse poeminha que foi escolhido um dos quatro melhores no Festival Poético de Cornélio Procópio.

Não entendo


Mundo, mundo
Flutua no infinito...
Por que? Eu vou saber?
Mundo, mundo
Espaço sem oxigênio
Por que? Eu vou saber?
Planeta imenso, em várias cores
Dá pra entender?
Pessoas diferentes moram nesse mundo
Tem umas doidas... Por que será?
Perderam o pai? Perderam a mãe?
Estão com fome?
Estão com raiva?
Mudo, mundo
Perguntas sem respostas
Estranho... quem  vai saber?

Vitor Koziel
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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Aprendendo a dizer não

Existem pessoas que adoram uma negação. As palavras não e nunca parecem naturalmente fazer parte do vocabulário cotidiano delas. Mesmo quando elas pensam em dizer sim, encontram uma forma de dizer o contrário. Outras, em compensação, sofrem quando precisam usar essas palavrinhas, até quando os livros de autoajuda dizem que é possivel dizer não sem sermos, necessariamente, negativos.
Por falar em livros de autoajuda, acho que foi por causa de um desses que fiquei assim, medrosa. Com medo da reação das pessoas ao ouvirem um NÃO. Às vezes penso que foi um livro autoprejudicial que li quando era adolescente. Dizia esse livro que essa palavrinha jamais deveria ser dita. “Estruture suas frases sempre de forma positiva”, dizia o livro. “Aceite tudo o que a vida te oferecer”, complementava o autor.  Por algum tempo me senti um monge budista. Dizia muito obrigada a tudo. Talvez isso até tenha me ajudado de alguma forma. Aceitar as coisas ruins que te acontecem sem blasfemar é uma forma de superar os obstaculos da vida e acreditar que dias melhores virão. E acredito que isso me deu forças para continuar em muitos momentos que podia ter desistido.
Porém, chega um momento da sua vida em que parece que o mundo te cobra uma atitude mais severa em algumas situações. E isto inclui negar alguns pedidos. Mas é tão difícil para quem aprendeu a vida toda que antes de tudo é necessário se colocar no lugar do outro! É muito desagradável olhar para o seu colega e ver a carinha de frustração quando ele te pede alguma coisa e você diz que não pode ajudá-lo. O problema é que percebemos que poucas pessoas se colocam em nosso lugar para nos responder às nossas solicitaçoes e isso dá uma p*** raiva.
Uma amiga me disse uma vez que o tempo me ensinaria a dizer não sem me sentir culpada. Talvez eu aprenda isso quando estiver de bengalinha. Ou talvez eu aprenda que dizer sim, às vezes, prejudica muito mais que dizer não.


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domingo, 28 de agosto de 2011

Desilusão ortográfico-amorosa

Antigamente (não muito antigamente assim) era mais difícil detectar um defeitinho naquela pessoa aspirante a príncipe encantado: os erros de português. Conversávamos, e se o papo não desse liga, cortávamos logo no início. Mas se a conversa era interessante, alguns detalhes, como não saber a diferença entre mais e mas, acabavam passando despercebidos. Na fala ninguém fica prestando atenção se os Rs do final dos verbos estão sendo desprezados ou se estão falando treis, déis, ou gais. Isso tudo acaba sendo uma questão de sotaque e, nesse caso, variações linguísticas são perfeitamente aceitáveis.
O problema é que agora, em tempos de SMS, facebook, twitter... essa frustração aparece logo de cara. Não há como não perder o tesão por um cara que te manda DM te chamando de  atraenti e diz que “c acabase antes ia te comvida p sai”. Isso sem falar no completo esquecimento ou desconhecimento dos sinais de pontuação  e tantos outros erros ridículos. Não sei como é possível errar tanto em tão pouco espaço, mesmo com corretor ortográfico.
Sei que o internetês está aí e conheço (mais ou menos) a língua usada no ciberespaço. Mas trocar e cortar letras de uma palavra por pura ignorância não faz parte dessa  linguagem moderna da internet.
Não sei até que ponto estou sendo chata. Não quero dar uma de Ferreira Gullar que fica criticando os jornalistas que trocam  "esse" por "este". Até relevo algumas coisas, afinal não somos dicionários ambulantes e como a língua está em constante evolução, sei que algumas formas “erradas” vão acabar sendo aceitas. Porém, algo em mim exige que a pessoa com quem eu tenha pretensões de me relacionar (mesmo que seja a curto prazo) tenha o mínimo de conhecimento da  língua que não permita que ela saia por aí escrevendo uma porção de besteiras. É aquela famosa dor nos olhos que algumas pessoas sentem quando certas palavras aparecem escritas completamente fora do padrão. E minha formação felizmente (ou infelizmente) me deixa entre essas pessoas.
Não adianta ser bonitinho, ter um sorriso meio Tom Cruise e te mostrar foto dirigindo uma Frontier, se na hora de te mandar SMS, diz que quer te “conheser melhor”.
Ps. Plagiei  o termo  “desilusão ortográfico-amorosa” de uma amiga que usou essa expressão recentemente no facebook. Depois fui procurar no google e descobri que tem muita gente sofrendo desse mal.

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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Indecisa? Não, só não tenho certeza.

Estava em um churrasco com amigos do trabalho e, como quase sempre, vi-me subitamente sentada conversando com o chefe. O assunto? Trabalho. Nossa conversa se estendeu por um bom tempo (até o final da festa).  Voltei para casa pensando nas cobranças sobre decisões que teria que tomar.
No caminho, uma pessoa (ela própria é parte das minhas indecisões) falando agora sobre um outro assunto, repete a frase que vinha martelando minha cabeça havia horas: “Você precisa decidir!” Claro. Simples assim. Foi o que respondi.
Outro dia lendo o blog de uma amiga, fiquei aliviada por não ser a única pessoa no mundo com esse “probleminha”. E como as mulheres são indecisas! Os homens, se são, pelo menos disfarçam bem. Ou tentam disfarçar. De vez em quando até nos criticam dizendo que somos complicadas porque não sabemos o que queremos. Será?
Penso que existem dois tipos de pessoas indecisas: aquelas que são excessivamente prudentes, que avaliam demais as possíveis conseqüências da sua decisão e aquelas que demoram a fazer uma escolha por que não querem perder algo (talvez esses dois tipos possam conviver em uma mesma pessoa em momentos diferentes).   
Quando estava no colegial, um amigo que até hoje admiro muito ressaltou essa característica em mim. Tínhamos um afair que ninguém entendia. Uma hora estávamos juntos e no momento seguinte já não estávamos mais e, de repente, estávamos juntos de novo. Lembro dele me acusando com ditados populares “você não sabe se casa ou compra uma bicicleta”. Decidi fazer as duas coisas: casei (não com ele) e comprei a bicicleta. Anos mais tarde me separei e a bicicleta enferrujou porque não usava. Mas isso não vem ao caso.
Ouvi várias vezes que mulheres que já passaram dos 30 são mais decididas. Não tinha a intenção de revelar minha idade, mas, sinto decepcioná-los, não vejo essa premissa como verdadeira.
Quem já não foi acusado mudar de opinião? Eu prefiro me defender dizendo que é consequência da minha evolução e aprendizado contínuos. O mestre Raul concorda comigo (ou eu concordo com ele?) “Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Tem um poema de Cecília Meireles que adoro. Aí vai um trechino para os indecisos:

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Despedida

Soneto da separação

Vinicius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

De repente... os portões se fecham. A porta do carro bate forte, os pneus gritam.
Quando as ideias não se complementam, mas se contradizem. Quando a sensação de culpa é maior que a sensação de aprovação. Quando a aceitação do outro se transforma em cobrança, em exigência de transformação. Quando o que é para te fazer feliz te faz sofrer.... é hora de dizer adeus.
Mas dizer essa palavra é tão difícil. Tão pequena e tão complexa! Acho que não fomos criados para a separação. Construímos vínculos que quando são rompidos nos destroem. Talvez seja por isso que tantas pessoas preferem construir muros.
Mas, aprendemos com o tempo que nossas decepções e frustrações não devem nos impedir de acreditar que vale a pena recomeçar sempre.

Até mais...

Não foi assim que eu sonhei a nossa vida
           
A despedida seria até logo mais
     
Mas a vida não permite ensaios
     
Não há raios antes do trovão
(Humberto Gessinger)

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