sábado, 11 de fevereiro de 2012

Primeiro dia de aula

Recém-formada, orgulhosa de ter sido já aprovada em concurso público, chega toda animada para o seu primeiro dia como professora. Um pouco ansiosa, segue direto para a sala da sétima série (depois de algum tempo descobriu porque professores iniciantes sempre ficam com as sétimas séries). Além da ansiedade, o barulho e o empurra-empurra no corredor incomodavam um pouco, mesmo assim ela sorria e seguia com sua pastinha apoiada no peito tentando demonstrar tranquilidade.
Parada na porta, olhava para aquela sala cheia. Aproximadamente quarenta corpos inquietos que arrastavam carteiras e falavam sem parar. Precisava urgentemente de alguma técnica para controlar o medo, mas nessas horas não há muito o que fazer. Depois de alguns minutos, conseguiu, finalmente, que eles percebessem que ela estava na sala. Sim, já havia uma professora no local.
Um tempo para as tradicionais apresentações e toda aquela história estabelecer acordos.  Algumas perguntas engraçadinhas e comentários indignados do tipo “a outra professora não fazia isso”. Mas a indignação foi maior quando ela pegou umas folhas com um texto impresso e saiu distribuindo para a turma. Usaram o argumento de que no primeiro dia professor nenhum “dá aula”. De acordo com eles, na primeira aula “todo mundo só conversa”. Ela explicou que iam ouvir uma música que estava relacionada ao conteúdo que seria trabalhado, apenas para refletir e discutir um pouco sobre o assunto.
Na hora de colocar a música, nada de funcionar o som. Devia ser a tomada. Pediu para um aluno, por favor, chamar alguém da manutenção para ver o que estava acontecendo. Rapidamente apareceu nada menos que o diretor. A professora empalideceu na presença daquele homem que estava visivelmente chateado por terem interrompido seus importantes afazeres por causa de uma tomada que não funcionava. Olhou, mexeu e disse: “vamos tentar a outra tomada!”. Ela tremeu de vergonha. A sala tinha outra tomada. Por que não viu isso antes?
Depois que ouviu os comentários dos alunos sobre a música, pensou que seria melhor se nenhuma tomada tivesse funcionado. Levar MPB para a sétima série ouvir talvez não tivesse sido uma boa idéia. Mas era uma música tão bonita e trazia uma letra riquíssima que daria margem para uma discussão calorosa, lamentava-se. Pelo menos, ficou aliviada ao perceber que dois alunos tinham prestado atenção na música, do início ao fim.
Cinquenta minutos que pareceram uma eternidade. Respirou fundo. Ainda faltavam nove aulas. No final do dia, exausta e sem voz, sentiu vontade de sair de lá correndo, chorando e nunca mais voltar. Mas tentou encontrar forças para continuar, afinal fazia parte de um grupo privilegiado. Uma profissão tão nobre! Era uma das poucas da sua turma da faculdade que já estava atuando na área! Mas quando pensou no salário, sentiu vontade de chorar novamente.

Um comentário:

  1. Todos nós temos sensações de medo ao iniciar nessa profissão que está tão desvalorizada ultimamente. Por isso os que ficam se sacrificam num desafio por amor à arte de ensinar.

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