sábado, 14 de janeiro de 2012

Férias



Não quis viajar nessas férias. Pois quando se está com pouco dinheiro melhor nem arriscar. Alguns conseguem se divertir mesmo com a situação precária, outros voltam da viagem mais cansados e estressados.
A experiência da última viagem não tinha sido das melhores. Tentando economizar,  planejou uma viagem barata e só se deu mal. Foi a uma praiazinha suja que tinha mais gente feia por metro quadrado que qualquer outro lugar do mundo. O duro da praia é que não dá nem para disfarçar, a feiura é totalmente exposta. Dividiu com vinte pessoas uma casa onde cabiam cinco. Todo dia tinha briga. Brigavam para fazer comida, para lavar a louça. Brigavam porque uns queriam comer peixe e outros, churrasco; porque os mais velhos queriam dormir e os mais jovens, fazer bagunça... E as famosas  vaquinhas. Vaquinha para a carne, para a cerveja, para o sorvete. Vaquinha até para a melancia.
Pois bem, esse ano, prometeu a si mesma que ia descansar, colocar a casa em ordem e estudar. Como se fosse possível estudar, colocar a casa em ordem e descansar ao mesmo tempo. No primeiro dia, num esforço danado conseguiu ficar na cama até as 9 horas. Habituada a acordar cedo, pensou que estava atrasada quando viu o sol batendo na cortina.  Após o almoço, sentou para assistir TV, mas logo levantou e foi procurar o que fazer. Não estava acostumada a ficar tanto tempo sem fazer nada e, além disso, a televisão está com uma programação cada vez pior.  Respondeu os emails do trabalho e reclamou em voz alta:  “será que esse povo não vê que estou de férias”.
No segundo dia acordou mais cedo. Até porque já estava sentindo dores nas costas por ter dormido demais no dia anterior. Lembrou do seu pai que dizia que a idade vai chegando e não conseguimos mais ficar tanto tempo na cama.  Colocou Creedence para tocar (música sempre a animava, desde que não fosse funk ou sertanejo universitário). Revirou a casa. Arrastou os móveis. Jogou água em tudo. No final do dia estava exausta. Dormiu cedo aquela noite.
A faxina não adiantou muito. No outro dia teve que limpar tudo de novo. Dessa vez se estressou com os filhos que faziam muita bagunça.
Depois de uns três dias preocupada com a organização da casa, decidiu não se deixar afetar pela louça suja que aparecia em cima da mesa (e não em cima da pia) o dia todo; nem pelas meias, calçados e roupas dos filhos espalhados, pedindo desesperadamente que alguém os colocasse nos seus devidos lugares; muito menos pela imundice do banheiro.  Afinal de contas, estava de férias! Despencou no sofá e começou a zapear pelos canais. Minutos depois estava com a consciência pesada. Não dava pra ficar assistindo à programação-culinária das manhãs na TV aberta sabendo que a casa estava uma zona. Além disso, tinha um monte de livros pra ler, mas como estudar num ambiente bagunçado?
Após os quatro primeiros dias de férias, a rotina passou a ser arrumar a casa pela manhã e estudar à tarde. Descansar, só à noite mesmo. Mas estava difícil estudar com o calor infernal de janeiro. Não via a hora de voltar ao trabalho, pelo menos lá tem ar-condicionado.

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