segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Dieta



Ela estava acabando de se servir na fila do buffet. Já passava do horário habitual do almoço e a fome estava demais. Percebeu que o prato tinha ficado enorme. Restaurante self-service é assim, não adianta pegar só um pouquinho de cada coisa que no final o prato sempre fica gigantesco, mas agora já foi, pensou. Do outro lado da fila, surge, do nada, o Paulão, seu companheiro de academia.
- Carol, você parou com seu regime? Gritou o moço, nada discreto, fazendo todo mundo olhar para Carolina e sua montanha comestível.
A garota, toda sem graça, olhou para seu prato engolindo a culpa pelo fracasso. Agora, a balança revelava o peso da sua gula. Saiu caro. Ficou calculando mentalmente quantas calorias teriam cada grama de tudo o que estava no recipiente. Por alguns instantes pensou em acertar a conta e sair correndo, sem tocar na comida. Comprar algo no mercado e comer no carro, bem escondidinha. Mas aquela mistureba de massas e carnes parecia muito saborosa. Seria um pecado desperdiçar!
Em meio a uma garfada e outra, e aos olhares de condenação do Paulão e de outros conhecidos e desconhecidos que estavam no restaurante (em cidade pequena não se pode nem comer em paz!), tentava entender porque não conseguia levar adiante a porcaria da dieta que já estava na milésima tentativa. Parecia tão simples. Era só seguir o cardápio do dia na agenda do celular: salada verde e frango grelhado para o almoço e, para sobremesa, um copinho de gelatina (diet é claro!). Mas, por que não resistia às massas?
Talvez fosse culpa da genética. Sua mãe passava o dia todo comendo e fazendo comida. Sua vó, além de fazer o que sua mãe fazia brigava com todo mundo para comer o tempo todo! Sorriu ao lembrar da Nona lhe dando bronca: “Mas não ta comendo direito, vai ficar doente, hã!”. E a Bisa então! Era daquelas que achava que para ser belo tinha que ser gordo. Lembrou de quando a Juliana (sua prima) chegou cansada da academia e a Bisa, olhou-a dos pés à cabeça e disse “ta bonita, gorda!”. A menina queria morrer. Fazia um tempão que ela estava tentando perder uns quilinhos e ter que ouvir um comentário desses! Logicamente, a Bisa não entendeu a saída repentina e cabisbaixa da moça. Que bom seria se todos naquele restaurante pensassem como a Bisa!
Enquanto recordava o passado, o prato ficou vazio. Precisava pagar a conta e sair depressa. Ainda tinha que passar comprar os ingredientes para fazer aquele macarrão que prometeu aos amigos. E o Paulão, é claro, não estava na lista dos convidados. Recomeçaria o regime na segunda-feira.

Texto publicado no jornal Correio do Cidadão no dia 17/12/11.
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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ah, então é uma zona!

Era sábado à tarde. Estávamos, minha amiga, eu e nossos filhos, passeando. Paramos em frente a um boteco com umas características meio suspeitas.
_ Desconfio que este lugar é um antro! Disse ela olhando para o bar e para mim.
Meu filho, todo curioso, se aproxima de nós duas e pergunta:
__  O que é um antro?
Olhamos uma para a outra, rimos e ficamos caladas por alguns instantes. Até que ela começou:
__ Antro, Gabriel, é um lugar para onde, geralmente, os homens vão para beber, se divertir... é um lugar onde ficam algumas mulheres não muito descentes, com um comportamento não muito aceito pela sociedade...
E continuou, procurando todo tipo de expressões que explicassem a palavra “antro”. Ficou meia hora tentando fazer o garoto entender, numa linguagem talvez não muito didática, mas que ela acreditava ser apropriada para crianças menores de 10 anos. Agora os três meninos estavam atentos à explicação. Até que, finalmente, o garoto pareceu entender.
__Ah, então é uma zona!
Melhor não subestimar a inteligência das crianças.
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domingo, 18 de setembro de 2011

Não entendo

Ele acabou de completar 8 anos. Recentemente a professora me chamou e me disse: "mãe, não sei o que acontece que o Vitor, ele  fica aéreo na sala, às vezes." Disse também que ele era desorganizado, que o caderno estava feio e que ele vivia perdendo o material. Pediu para que eu procurasse ajuda profissional porque algo devia estar afetando o desempenho dele na escola pois as notas não estavam lá muito altas. Falou também que ele estava deixando de fazer algumas tarefas.
Nenhuma mãe gosta de ouvir comentários assim do seu filho. É lógico que notas altas, comportamento condicionado e organização é o que a maioria dos professores esperam dos seus alunos. Mas o Vitor é diferente. Não quis discutir com a professora. Mas poderia usar o velho bordão usado pelas mães: eu conheço meu filho!
Prefiro que ele seja do jeito que é, mesmo que isso incomode um pouco algumas pessoas. Que goste de rock; que faça um topete diferente no cabelo; que vista a camisa aberta por cima da camiseta; que diga que funk e sertanejo é "paia"; que me questione sobre os astros; o livro de gênese; o por do sol; as invenções do homem; a destruição do meio ambiente; os dinossauros; a descoberta do fogo... mesmo que eu não tenha resposta para nenhuma dessas perguntas.
Prefiro que ele reclame quando tem por tarefa copiar números de 350 a 555 porque sabe que isso é perda de tempo. Prefiro que ele tenha explicações criativas para questões que ninguém mais sabe como resolver. Prefiro ficar pasma refletindo durante alguns minutos e me questionando como não pensei nisso antes, sobre aquela sacada que ele teve e que só os olhos de uma criança esperta conseguem enxergar.
Talvez, nos momentos em que ele estava aéreo na sala de aula, foram os momentos em que ele mais produziu. Talvez daí tenha surgido a ideia desse poeminha que foi escolhido um dos quatro melhores no Festival Poético de Cornélio Procópio.

Não entendo


Mundo, mundo
Flutua no infinito...
Por que? Eu vou saber?
Mundo, mundo
Espaço sem oxigênio
Por que? Eu vou saber?
Planeta imenso, em várias cores
Dá pra entender?
Pessoas diferentes moram nesse mundo
Tem umas doidas... Por que será?
Perderam o pai? Perderam a mãe?
Estão com fome?
Estão com raiva?
Mudo, mundo
Perguntas sem respostas
Estranho... quem  vai saber?

Vitor Koziel
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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Aprendendo a dizer não

Existem pessoas que adoram uma negação. As palavras não e nunca parecem naturalmente fazer parte do vocabulário cotidiano delas. Mesmo quando elas pensam em dizer sim, encontram uma forma de dizer o contrário. Outras, em compensação, sofrem quando precisam usar essas palavrinhas, até quando os livros de autoajuda dizem que é possivel dizer não sem sermos, necessariamente, negativos.
Por falar em livros de autoajuda, acho que foi por causa de um desses que fiquei assim, medrosa. Com medo da reação das pessoas ao ouvirem um NÃO. Às vezes penso que foi um livro autoprejudicial que li quando era adolescente. Dizia esse livro que essa palavrinha jamais deveria ser dita. “Estruture suas frases sempre de forma positiva”, dizia o livro. “Aceite tudo o que a vida te oferecer”, complementava o autor.  Por algum tempo me senti um monge budista. Dizia muito obrigada a tudo. Talvez isso até tenha me ajudado de alguma forma. Aceitar as coisas ruins que te acontecem sem blasfemar é uma forma de superar os obstaculos da vida e acreditar que dias melhores virão. E acredito que isso me deu forças para continuar em muitos momentos que podia ter desistido.
Porém, chega um momento da sua vida em que parece que o mundo te cobra uma atitude mais severa em algumas situações. E isto inclui negar alguns pedidos. Mas é tão difícil para quem aprendeu a vida toda que antes de tudo é necessário se colocar no lugar do outro! É muito desagradável olhar para o seu colega e ver a carinha de frustração quando ele te pede alguma coisa e você diz que não pode ajudá-lo. O problema é que percebemos que poucas pessoas se colocam em nosso lugar para nos responder às nossas solicitaçoes e isso dá uma p*** raiva.
Uma amiga me disse uma vez que o tempo me ensinaria a dizer não sem me sentir culpada. Talvez eu aprenda isso quando estiver de bengalinha. Ou talvez eu aprenda que dizer sim, às vezes, prejudica muito mais que dizer não.


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domingo, 28 de agosto de 2011

Desilusão ortográfico-amorosa

Antigamente (não muito antigamente assim) era mais difícil detectar um defeitinho naquela pessoa aspirante a príncipe encantado: os erros de português. Conversávamos, e se o papo não desse liga, cortávamos logo no início. Mas se a conversa era interessante, alguns detalhes, como não saber a diferença entre mais e mas, acabavam passando despercebidos. Na fala ninguém fica prestando atenção se os Rs do final dos verbos estão sendo desprezados ou se estão falando treis, déis, ou gais. Isso tudo acaba sendo uma questão de sotaque e, nesse caso, variações linguísticas são perfeitamente aceitáveis.
O problema é que agora, em tempos de SMS, facebook, twitter... essa frustração aparece logo de cara. Não há como não perder o tesão por um cara que te manda DM te chamando de  atraenti e diz que “c acabase antes ia te comvida p sai”. Isso sem falar no completo esquecimento ou desconhecimento dos sinais de pontuação  e tantos outros erros ridículos. Não sei como é possível errar tanto em tão pouco espaço, mesmo com corretor ortográfico.
Sei que o internetês está aí e conheço (mais ou menos) a língua usada no ciberespaço. Mas trocar e cortar letras de uma palavra por pura ignorância não faz parte dessa  linguagem moderna da internet.
Não sei até que ponto estou sendo chata. Não quero dar uma de Ferreira Gullar que fica criticando os jornalistas que trocam  "esse" por "este". Até relevo algumas coisas, afinal não somos dicionários ambulantes e como a língua está em constante evolução, sei que algumas formas “erradas” vão acabar sendo aceitas. Porém, algo em mim exige que a pessoa com quem eu tenha pretensões de me relacionar (mesmo que seja a curto prazo) tenha o mínimo de conhecimento da  língua que não permita que ela saia por aí escrevendo uma porção de besteiras. É aquela famosa dor nos olhos que algumas pessoas sentem quando certas palavras aparecem escritas completamente fora do padrão. E minha formação felizmente (ou infelizmente) me deixa entre essas pessoas.
Não adianta ser bonitinho, ter um sorriso meio Tom Cruise e te mostrar foto dirigindo uma Frontier, se na hora de te mandar SMS, diz que quer te “conheser melhor”.
Ps. Plagiei  o termo  “desilusão ortográfico-amorosa” de uma amiga que usou essa expressão recentemente no facebook. Depois fui procurar no google e descobri que tem muita gente sofrendo desse mal.

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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Indecisa? Não, só não tenho certeza.

Estava em um churrasco com amigos do trabalho e, como quase sempre, vi-me subitamente sentada conversando com o chefe. O assunto? Trabalho. Nossa conversa se estendeu por um bom tempo (até o final da festa).  Voltei para casa pensando nas cobranças sobre decisões que teria que tomar.
No caminho, uma pessoa (ela própria é parte das minhas indecisões) falando agora sobre um outro assunto, repete a frase que vinha martelando minha cabeça havia horas: “Você precisa decidir!” Claro. Simples assim. Foi o que respondi.
Outro dia lendo o blog de uma amiga, fiquei aliviada por não ser a única pessoa no mundo com esse “probleminha”. E como as mulheres são indecisas! Os homens, se são, pelo menos disfarçam bem. Ou tentam disfarçar. De vez em quando até nos criticam dizendo que somos complicadas porque não sabemos o que queremos. Será?
Penso que existem dois tipos de pessoas indecisas: aquelas que são excessivamente prudentes, que avaliam demais as possíveis conseqüências da sua decisão e aquelas que demoram a fazer uma escolha por que não querem perder algo (talvez esses dois tipos possam conviver em uma mesma pessoa em momentos diferentes).   
Quando estava no colegial, um amigo que até hoje admiro muito ressaltou essa característica em mim. Tínhamos um afair que ninguém entendia. Uma hora estávamos juntos e no momento seguinte já não estávamos mais e, de repente, estávamos juntos de novo. Lembro dele me acusando com ditados populares “você não sabe se casa ou compra uma bicicleta”. Decidi fazer as duas coisas: casei (não com ele) e comprei a bicicleta. Anos mais tarde me separei e a bicicleta enferrujou porque não usava. Mas isso não vem ao caso.
Ouvi várias vezes que mulheres que já passaram dos 30 são mais decididas. Não tinha a intenção de revelar minha idade, mas, sinto decepcioná-los, não vejo essa premissa como verdadeira.
Quem já não foi acusado mudar de opinião? Eu prefiro me defender dizendo que é consequência da minha evolução e aprendizado contínuos. O mestre Raul concorda comigo (ou eu concordo com ele?) “Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Tem um poema de Cecília Meireles que adoro. Aí vai um trechino para os indecisos:

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Despedida

Soneto da separação

Vinicius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

De repente... os portões se fecham. A porta do carro bate forte, os pneus gritam.
Quando as ideias não se complementam, mas se contradizem. Quando a sensação de culpa é maior que a sensação de aprovação. Quando a aceitação do outro se transforma em cobrança, em exigência de transformação. Quando o que é para te fazer feliz te faz sofrer.... é hora de dizer adeus.
Mas dizer essa palavra é tão difícil. Tão pequena e tão complexa! Acho que não fomos criados para a separação. Construímos vínculos que quando são rompidos nos destroem. Talvez seja por isso que tantas pessoas preferem construir muros.
Mas, aprendemos com o tempo que nossas decepções e frustrações não devem nos impedir de acreditar que vale a pena recomeçar sempre.

Até mais...

Não foi assim que eu sonhei a nossa vida
           
A despedida seria até logo mais
     
Mas a vida não permite ensaios
     
Não há raios antes do trovão
(Humberto Gessinger)

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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Nostalgia

“E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.”


Quase sempre quando me lembro da minha infância vêm à cabeça esses versos de Drummond. Não sei se ele escreveu isso porque temos uma tendência a achar o passado sempre lindo ou se é porque entendeu logo que Robinson Crusoé era um tremendo capitalista, explorador (o pobre do Sexta-Feira sabe bem) e por isso a história desse “náufrago” não é assim tão bonita.
Porém, quase sempre, porque essa coisa de recordação depende da forma como você olha o passado e, eu diria que do momento que você está vivendo quando essas lembranças vêm à tona. Geralmente idealizamos nossa infância, dando um toque romântico às coisas banais.
Minha infância foi uma desgraça. Se fosse contar as passagens tristes em tom pessimista choraríamos todos. Mas, prefiro reinventá-la e dizer que era tudo muito divertido. E acho até que era mesmo. Criança tem dessas coisas de se divertir até nos momentos trágicos. Penso que é essa ingenuidade que torna a infância divertida. O velório da minha vó, por exemplo, para mim foi uma festa: minhas primas todas reunidas para brincarmos de roda e pão com mortadela à vontade (coisa rara naquela época). Além disso, lembro que minha mãe estava tão carinhosa comigo naquele dia!
O meu maior sonho quando era criança era ter televisão. Nossa primeira TV foi comprada quando eu tinha 11 anos. Uma Telefunken  (preto e branca, lógico) que precisávamos ligar uma hora antes da novela para ir esquentando. Mas hoje conto para os meus filhos como era bom não ter TV em casa e repito (quando eles não estão assistindo desenho) algumas histórias que meu pai contava após a janta, sob a luz fosca da lamparina, sempre regadas a chimarrão.
A sensação de não podermos reviver esses momentos, sejam eles tristes ou alegres, é que os torna especiais. Penso que a nostalgia é uma forma de reinventarmos o passado. Adoro essa palavra. Teve uma época que eu achava feia. Não sei por que, mas ela me lembrava enjôo. Passava mal quando lia ou ouvia alguém pronunciando. Hoje faço questão de usá-la sempre que me é conveniente. Acho que a idade nos torna mais sensíveis a momentos nostálgicos.
Igrejinha que eu frequentava quando era criança. Achava um  saco ter que ir todo domingo cedo, ouvir minha mãe cantando no coral desafinado e o padre Estanislau falando uma mistura de polonês com português, mas hoje  considero um lugar mágico, cheio de paz.

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domingo, 15 de maio de 2011

Santos X Corinthians

Jogos do Santos X Corinthians sempre me fazem lembrar uma cena interessante de quando eu era pequena. Numa tarde de domingo como esta, meu pai me pegando no colo e me jogando pro alto, ao som do gol chiado ouvido no radião SEMP (televisão nessa época só os ricos tinham). Gritando como doido, jogava o chapéu no chão e pulava, pulava...Era uma final de campeonato, como a de hoje. Os mais viciados em futebol (e mais velhos) devem se lembrar desse dia em que o Santos levou o título.
Eu, sem entender muito bem, ouvia fogos ali próximo. Morávamos em lugarejo onde o futebol era levado muito a sério. Não tinha muita coisa para se fazer. Então jogar, ouvir os jogos e discutir sobre eles durante a semana era o que tirava os homens da rotina da roça. Meu pai teve seis filhos. Se não fosse o futebol talvez tivesse doze (mãe, por favor, não brigue comigo).
Havia uma rivalidade muito grande entre os torcedores desses dois times. O pior é que eram quase todos parentes. Às vezes brigavam de ficar sem se falar por dias por causa das discussões envolvendo futebol.
Influenciada pela minha mãe, comecei a achar tudo uma grande besteira... Mas aos 16 anos, idade da rebeldia, uma amiga me deu uma camiseta do Corinthians e, para decepção do meu pai, comecei a usá-la. Acho que ela acreditava mesmo que podia salvar uma alma perdida e me levava para ver os jogos. Nos divertíamos muito. Vários amigos meus eram corinthianos e eu comemorava, ou chorava com eles, dependendo do resultado do jogo.
Hoje, assistindo com a minha irmã e rindo muito da nossa falta de conhecimento sobre o assunto. Não levo muito a sério, mas o que eu acho bonito são as amizades criadas através desse esporte. Meu pai foi embora, mas todo mundo no meu bairro conhece o Seu Cassemiro, por causa do futebol.  Sinto muita falta dele nos dias como o de hoje...


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sábado, 14 de maio de 2011

Bicicletinha vermelha


De repente apontou lá na esquina. Pedalando rapidinho sua bicicletinha vermelha. Cabelinhos  voando... Janelinhas à mostra.  Rostinho suado, resultado do esforço para me alcançar.
Logo logo ele vai crescer e o que será da bicicletinha vermelha e desse sorriso capaz de me fazer esquecer a falta de água numa manhã de sábado?
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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Angústia

Estou angustiada. E isso me dá uma vontade enorme de… passar a noite escrevendo. Também de cortar a garganta, mas como não sou nem louca nem corajosa demais, sei que é mais prudente escrever. Sabe um daqueles dias em que temos uma crise suicida, um desejo incontrolável de nos enforcarmos num pé de cebolinha? Então...nunca pensei em morrer dessa forma.
Como sei que meus leitores são ocupados demais (com seus próprios dramas)  e muito provavelmente não pulariam da ponte junto comigo, desisti de listar aqui todas causas da minha angústia. Até porque, o objetivo desse blog é rir e não chorar. Também porque muitos diriam que para uma mulher ficar angustiada basta três letrinhas: TPM (o que não é o meu caso, é claro...eu acho)
Mas, sem querer me tornar enfadonha, preciso dizer o que tem me atormentado as idéias nas últimas 24 horas: descobri que quando eu li Machado de Assis pela primeira vez (lá no Ensino Médio, que na época se chamava segundo grau), não entendi bulhufas do que ele quis dizer em Memórias Póstumas de Brás Cubas e o mais trágico disso é que não li pela segunda vez.
Descobri que não sei consertar o encanamento do banheiro de casa. Essa descoberta se deu de um jeito bem prático: liga-se a torneira no meio da noite e leva-se um banho indesejado. Água saindo por todos os buracos possíveis e com tanta força que parece que alguém desviou o curso das Cataratas do Iguaçu.
Depois disso, descobri que o computador que uso para trabalhar pega vírus quando estou de férias. O pior é que descobri indo lá trabalhar, mesmo estando de férias.  Não há estresse maior que ir trabalhar e não conseguir acessar a Internet. Isso me fez chegar à seguinte conclusão: sou mesmo viciada em trabalho.
Descobri também que já passei da idade de fazer intercâmbio, de acordo com os critérios de um povo aí. Isso me fez chegar a outras conclusões trágicas: estou ficando velha e o único país estrangeiro que conheço é o Paraguai (mas esse nem conta). E, como uma coisa puxa outra, com a idade que tenho, estatisticamente, levando em conta a média de vida da minha família, já vivi metade do que tenho para viver e ainda não patinei no gelo, não visitei a Polônia (país onde meu avô nasceu) e nem fui ao show do U2 (mesmo eles vindo ao Brasil recentemente).
A lista das minhas últimas descobertas frustrantes seria gigantesca. Mas melhor não continuar, porque além de dramática, chata e cansativa, pode ser que eu seja chamada de fofoqueira por expor algumas pessoas que podem ter participado das minhas não-muito-agradáveis últimas horas.
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sábado, 23 de abril de 2011

Depilação

ou desabafos de uma mulher "moderna" - parte II

Foi uma luta e tanto. Eu versus a cera. Até que ela venceu. Pela milésima  vez tentei fazer uma depilação caseira e fui derrotada. Afinal por que mesmo temos de nos depilar? Se fosse para não termos pêlos a natureza tomaria conta disso.
Imagino que em algum momento da história um Homo sapiens do sexo masculino descobriu que as mulheres ficariam melhor (para olhar e para tocar) sem pêlos e a partir daí Homo sapiens do sexo feminino viram uma extrema necessidade de passar por esse ritual masoquista.
Melhor não entrar nos detalhes do custo/benefício da depilação. Não há como evitar. Para nos encaixarmos no perfil de mulher moderna, além das mil e quinhentas coisas que temos de fazer todos os dias para provar para nós mesmas que somos “independentes”, é preciso estarmos lindas e, é claro, depiladas.
Contraditório isso não?! Se nos achamos tão livres... porque temos fazer essa ginástica toda? Confesso que às vezes tenho vontade de fundar um grupo feminista que use o slogan “abaixo a depilação”. 

A propósito, se alguém quiser a receita: http://blog.mcsx.net/receita-para-fazer-cera-de-depilar/

Ps. Mulheres sem paciência, não tentem fazer isso em casa!
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domingo, 10 de abril de 2011

Direção

Ou desabafos de uma mulher "moderna"

O papo com o filho estava muito agradável. Um dos poucos momentos durante a semana que temos para conversar, o que me faz sentir muita culpa, mas tudo bem. Falávamos sobre a escola, sobre os jogos novos, sobre skate, novamente sobre escola: “mãe eu não quero ir à aula de ônibus, a gritaria dos alunos me dá dor de cabeça”.
Como sou uma mãe/mulher democrática pedi a ele que sugerisse o que eu deveria fazer então. “É simples! Compra um carro e leva a gente.” Tinha de ser tão democrática! Aquilo foi como uma chapuletada na minha cara. Comprar um carro e levar os meus dois filhos para a escola, eu mesma. Essa seria a coisa mais certa a se fazer, claro. Mas porque eu ainda não fiz isso?
A compra do carro é o de menos. Como polemizou recentemente o ex-apresentador da RBS, hoje em dia qualquer pobretão tem um carro. O maior problema, pelo menos para mim, é outro: dirigir. Meus filhos não imaginam a frustração que é para uma mulher do século XXI não ter carteira de habilitação. A frase  “não consegui” é como dar uma paulada no próprio crânio. É como ser favorito numa final de campeonato, mas por pressão da torcida, perder de goleada. Os irmãos dizendo que é tão fácil e eu me sentindo uma estúpida. “Você sempre consegue tudo o que quer, como não conseguiu tirar carteira, uma coisa que qualquer ignorante consegue?”
Dizem que o bom mesmo é aprender a dirigir assim que chegar aos 18. Ou até antes (para os que não têm medo da lei). Depois que você tem um pouco mais de juízo e, principalmente, depois que os filhos são como uma extensão da sua própria vida, pegar um carro e sair por aí é impossível sem antes imaginar uma arma na mão que pode ser disparada, involuntariamente, a qualquer momento. Isso deve ser reflexo da internalização da sabedoria popular: você já tirou porte de arma?; mulher no volante, perigo constante e tantas outras que a suposta supremacia masculina inventa para nos tornar estranhamente medrosas.
Os conselhos: não se preocupe, minha vizinha reprovou sete vezes e conseguiu, você também consegue. Fico tão aliviada em ouvir isso! Detalhe: desisti antes de fazer o teste. Nunca fui reprovada em nada!
De uma mulher que já passou dos 30, ter ser próprio carro e, lógico, saber dirigi-lo, é o mínimo que se espera. Dirigir tudo na sua vida, menos uma máquina insolente é o fim!
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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Assaltos em Campo Mourão...

ou o que o medo não faz...

A coisa está mesmo feia na minha city. Li no noticiário sobre mais um assalto no centro da cidade. Agora é assim, virou rotina. A cidade é pequena, mas o número de assaltos é digno de uma metrópole. As vítimas da vez foram dois estudantes. Logo universitários que vivem reclamando que estão sem grana! Os coitados perderam as bicicletas e os bonés, mas imagino que o susto e a raiva é que mais deve ter preocupado esses dois.
Nunca fui assaltada, mas confesso que estou com medo. Antigamente (não tão antigamente assim, porque não sou tão velha) andava sozinha à noite, até mesmo de madrugada e não acontecia o que acontece hoje na minha querida cidade. Lembro que ia para a balada com uma galera, mas no final todo mundo sumia. Não raras vezes, sem carro, sem carona e sem dinheiro para o taxi, voltava para a casa a pé sozinha (quase sempre com o sapato na mão). Triste por estar sozinha, mas não com medo. Hoje nem sonho em fazer isso. Primeiro porque não vou mais a baladas (não tenho mais pique e odeio sertanejo universitário) e depois porque não tenho mais coragem de ficar zumbizando por aí de madrugada.  
Não sou só eu que estou com medo. Esses dias um amigo me contou que estava andando sozinho no calçadão de madrugada (nem ousei perguntar de onde vinha ou para onde estava indo àquelas horas).  A rua estava deserta e escura. Ouviu passos se aproximando dele. Começou a andar mais depressa. Mas a pessoa que lhe seguia também se apressou. Não teve escolha, começou a correr.  O outro também. Sentia que estavam quase lhe alcançando. Podia ouvir a respiração ofegante do seu perseguidor. Virou a esquina. O cara virou também. A cidade continuava silenciosa. A não ser pelos passos de duas pessoas correndo quase no mesmo ritmo. Tentou aumentar a velocidade. Não conseguiu. De repente uma voz sufocada: Ei cara, me espere. Vamos correr juntos. Eu também estou com medo!
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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Parênteses


Adoro parênteses.  Descobri isso hoje quando estava enviando um email e percebi que meu texto estava cheio deles. Não que não tenha visto isso antes, mas é que o texto de hoje me chamou a atenção porque em cada parágrafo tinha uma expressão entre parênteses (quase sempre no final).
Até fiquei preocupada. Tentei cortar alguns. Lembrei de um cara metido a membro da Academia Mourãoense de Letras (não que isso signifique muita coisa, mas o cara se acha a própria reencarnação do Machado de Assis) que dizia que o uso de parênteses empobrece o texto. Li meu texto várias vezes e não consegui descartar os parênteses. Não achei que meu texto estivesse pobre. Vi até certa riqueza nele. Parecia visualmente mais alegre. Cheio de smiles (no final do parágrafo os parênteses parecem uma caretinha... deformada, mas feliz).
Poderia substituir os parênteses por conectivos, usar paráfrases, orações subordinadas sindéticas explicativas (acho que é esse o nome), mas o texto ficaria cheio de vírgulas. Particularmente não gosto de vírgulas. Até gostava, mas meu irmão me disse que vírgulas deixam o texto longo e cansativo e ninguém mais tem tempo para textos longos (embora eu ache isso um absurdo, já que as pessoas têm tempo para tantas coisas inúteis). Segundo ele (meu irmão Sidney) é melhor substituir vírgulas por pontos sempre que possível.  (fiquei muito frustrada porque fui aprender isso alguns anos depois que terminei o curso de Letras e justo com o meu irmão).
Acho que o uso de parênteses é uma característica dos textos femininos. Como mulher adora se meter em tudo, sempre abrimos um parêntese para fazer um comentário enriquecedor, um desabafo ou só uma fofoquinha básica mesmo.
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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Corintianos e palmeirenses

Final de domingo. Sempre a mesma coisa. Vizinhos bêbados falando alto. O assunto: futebol. Volto para minha companheira dominical, a Internet. No twitter, adivinha o que está nos trends? O mesmo assunto que os vizinhos debatiam com tanto entusiasmo. Minha timeline está cheia de posts dos meus amigos corintianos fazendo exatamente a mesma coisa que há três dias os palmeirenses (e os santistas, flamenguistas, são-paulinos, tolimenses... ) tinham feito com eles.
Apesar de não entender quase nada de futebol, não consigo não me afetar com esse clima pós- jogo. Amanhã alguns dos meus amigos estarão tristes no trabalho. Coitados! Não sei se é a derrota do seu time que os deixa assim, ou se é ter que aguentar os comentários debochados dos colegas o dia todo.  Aliás, como as pessoas são criativas quando se trata de sacanear! Usam trocadilhos, viram verdadeiros poetas. Exploram a linguagem da forma mais inspiradora que existe. Maneiras e maneiras de dizer a mesma coisa: seu time levou a pior esse final de semana, então fica quieto que é a nossa vez de dar risada.
Não assisto aos jogos. Mas gosto de saber os resultados. Assim posso fazer uma previsão de como será o clima na segunda-feira. Do mesmo  modo que as mulheres têm o humor afetado por uma alteração hormonal a cada 21 dias, o humor dos homens nas segundas-feiras é determinado pelo placar do final de semana.

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