sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Desabafo - As mães são culpadas



Duas mulheres, no ponto de ônibus, conversavam sobre filhos. O quanto eles dão trabalho. O quanto são exigentes. A pauta do momento era a compra do material escolar. Uma delas disse, com ares de reclamação e ao mesmo tempo de ostentação, que gastou horrores. Fiquei chocada quando ela contou que pagou na mochila, para a filhinha de seis anos, o preço da lista inteira de material que comprei para os meus dois filhos. Por que uma mochila tão cara? Não era uma mochila qualquer, segundo ela. Era da personagem que é a moda desse ano.
Mochila: uma espécie de saco, geralmente feita em lona, costurada, com zíper, algumas divisórias e alças; serve para carregar o material escolar (e outras coisas). Mas alguém resolve colocar a foto de um personagem ou algum símbolo esquisito que todo mundo já viu por aí, e o objeto ganha valor, o preço vai lá nas alturas, trocentas vezes mais que uma mochila sem dezenhozinho famoso, mas que serve para os mesmos fins.
A filhinha não aceitaria se fosse outra mochila. Tinha de ser aquela! A outra ouviu e tentou fazer de conta que o problema dela era ainda maior. O filhinho mal sabe falar, mas já exige as coisinhas dele. Coisinhas de personagenzinhos também.  
Ali do lado, engolia minha vontade de me meter na conversa. Como assim exige? Não aceitaria outra? Desde quando os filhos é que dão ordens às mães para comprarem o que eles querem? Infelizmente, a julgar pelo que tenho visto, faz um bom tempo que isso vem acontecendo e a coisa só tem piorado. O que mais me incomoda é a naturalidade como as mães falam disso e, pela forma como se expressam, vêem nessa atitude certo status. “Olhem só, faço parte do grupo de mães que compram as mochilas mais caras para suas filhas. Eu sou foda!”. E mais. “Não vou deixar que a minha filha faça parte do grupo de filhas que tem as mães que não compram mochilas da moda!”
Fico indignada quando vou ao comércio e vejo crianças birrentas e pais e mães fazendo todas as vontades dos reizinhos. Sou mãe e, certamente, tanto eu quanto meus filhos somos influenciados pelo mundo consumista. É difícil sair ileso desse bombardeio capitalista. Mas, não sei se é porque sou “a cara da pobreza” ou é reflexo do “bulling” que sofri quando era adolescente e não tinha nada igual ao que os outros tinham (e não me fez falta) que me revolto quando vejo a necessidade mortal que os pais de hoje tem de atender as exigências dos filhos, mesmo que fiquem endividados. Criar um filho já não é tarefa fácil. Torna-se bem mais complicado quando deixamos que ele dite as regras.
Sei o quanto é difícil ignorar os comerciais bonitinhos nos intervalos dos desenhos animados. Sei como é seu filho chegar te pedir algo e dizer “mas todo mundo tem, mãe”. Felizmente, passei por isso poucas vezes, mas sei. A resposta, bem clichê: você não é todo mundo! É isso que tenho procurado passar aos meus filhos: eles não são todo mundo. Não precisam usar a roupa da marca x (eles já passaram da fase de pedir mochila da galinha pintadinha, ainda bem) para serem especiais. Tem funcionado. E, quando ainda parece que não entenderam o primeiro recado, uso outra tática que funciona perfeitamente. Explico, educadamente, que quando eles estiverem trabalhando e ganhando o dinheirinho suado deles, podem comprar o que quiserem. Por enquanto, quem decide de onde sai e pra onde vai o dinheiro sou eu. Penso que eles não vão me amar menos por causa disso. E também não vão ficar traumatizados por não terem o que todo mundo tem. Muito pelo contrário. Vão aprender a dar mais valor nas pessoas e não nas coisas que elas têm. Pelo menos é o que eu, uma mãe utópica, vivendo num mundo dominado pelo consumismo, espera. 

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