Estava em um churrasco com amigos do trabalho e, como quase sempre, vi-me subitamente sentada conversando com o chefe. O assunto? Trabalho. Nossa conversa se estendeu por um bom tempo (até o final da festa). Voltei para casa pensando nas cobranças sobre decisões que teria que tomar.
No caminho, uma pessoa (ela própria é parte das minhas indecisões) falando agora sobre um outro assunto, repete a frase que vinha martelando minha cabeça havia horas: “Você precisa decidir!” Claro. Simples assim. Foi o que respondi.
Outro dia lendo o blog de uma amiga, fiquei aliviada por não ser a única pessoa no mundo com esse “probleminha”. E como as mulheres são indecisas! Os homens, se são, pelo menos disfarçam bem. Ou tentam disfarçar. De vez em quando até nos criticam dizendo que somos complicadas porque não sabemos o que queremos. Será?
Penso que existem dois tipos de pessoas indecisas: aquelas que são excessivamente prudentes, que avaliam demais as possíveis conseqüências da sua decisão e aquelas que demoram a fazer uma escolha por que não querem perder algo (talvez esses dois tipos possam conviver em uma mesma pessoa em momentos diferentes).
Quando estava no colegial, um amigo que até hoje admiro muito ressaltou essa característica em mim. Tínhamos um afair que ninguém entendia. Uma hora estávamos juntos e no momento seguinte já não estávamos mais e, de repente, estávamos juntos de novo. Lembro dele me acusando com ditados populares “você não sabe se casa ou compra uma bicicleta”. Decidi fazer as duas coisas: casei (não com ele) e comprei a bicicleta. Anos mais tarde me separei e a bicicleta enferrujou porque não usava. Mas isso não vem ao caso.
Ouvi várias vezes que mulheres que já passaram dos 30 são mais decididas. Não tinha a intenção de revelar minha idade, mas, sinto decepcioná-los, não vejo essa premissa como verdadeira.
Quem já não foi acusado mudar de opinião? Eu prefiro me defender dizendo que é consequência da minha evolução e aprendizado contínuos. O mestre Raul concorda comigo (ou eu concordo com ele?) “Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Tem um poema de Cecília Meireles que adoro. Aí vai um trechino para os indecisos:
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.