Duas mulheres, no ponto de ônibus, conversavam sobre filhos.
O quanto eles dão trabalho. O quanto são exigentes. A pauta do momento era a
compra do material escolar. Uma delas disse, com ares de reclamação e ao mesmo
tempo de ostentação, que gastou horrores. Fiquei chocada quando ela contou que
pagou na mochila, para a filhinha de seis anos, o preço da lista inteira de material que comprei para os meus dois
filhos. Por que uma mochila tão cara? Não era uma mochila qualquer, segundo ela.
Era da personagem que é a moda desse ano.
Mochila: uma espécie de saco, geralmente feita em lona,
costurada, com zíper, algumas divisórias e alças; serve para carregar o
material escolar (e outras coisas). Mas alguém resolve colocar a foto de um
personagem ou algum símbolo esquisito que todo mundo já viu por aí, e o objeto
ganha valor, o preço vai lá nas alturas, trocentas vezes mais que uma mochila
sem dezenhozinho famoso, mas que serve para os mesmos fins.
A filhinha não aceitaria se fosse outra mochila. Tinha de
ser aquela! A outra ouviu e tentou fazer de conta que o problema dela era ainda
maior. O filhinho mal sabe falar, mas já exige as coisinhas dele. Coisinhas de personagenzinhos também.
Ali do lado, engolia minha vontade de me meter na conversa. Como
assim exige? Não aceitaria outra? Desde quando os filhos é que dão ordens às
mães para comprarem o que eles querem? Infelizmente, a julgar pelo que tenho
visto, faz um bom tempo que isso vem acontecendo e a coisa só tem piorado. O
que mais me incomoda é a naturalidade como as mães falam disso e, pela forma
como se expressam, vêem nessa atitude certo status.
“Olhem só, faço parte do grupo de mães que compram as mochilas mais caras para
suas filhas. Eu sou foda!”. E mais. “Não vou deixar que a minha filha faça
parte do grupo de filhas que tem as mães que não compram mochilas da moda!”
Fico indignada quando vou ao comércio e vejo crianças birrentas
e pais e mães fazendo todas as vontades dos reizinhos. Sou mãe e, certamente,
tanto eu quanto meus filhos somos influenciados pelo mundo consumista. É difícil
sair ileso desse bombardeio capitalista. Mas, não sei se é porque sou “a cara
da pobreza” ou é reflexo do “bulling”
que sofri quando era adolescente e não tinha nada igual ao que os outros tinham
(e não me fez falta) que me revolto quando vejo a necessidade mortal que os
pais de hoje tem de atender as exigências dos filhos, mesmo que fiquem endividados.
Criar um filho já não é tarefa fácil. Torna-se bem mais complicado quando deixamos
que ele dite as regras.
Sei o quanto é difícil ignorar os comerciais bonitinhos nos
intervalos dos desenhos animados. Sei como é seu filho chegar te pedir algo e
dizer “mas todo mundo tem, mãe”. Felizmente, passei por isso poucas vezes, mas
sei. A resposta, bem clichê: você não é todo mundo! É isso que tenho procurado
passar aos meus filhos: eles não são todo mundo. Não precisam usar a roupa da marca x (eles já passaram da fase de
pedir mochila da galinha pintadinha, ainda bem) para serem especiais. Tem
funcionado. E, quando ainda parece que não entenderam o primeiro recado, uso
outra tática que funciona perfeitamente. Explico, educadamente, que quando eles
estiverem trabalhando e ganhando o dinheirinho suado deles, podem comprar o que
quiserem. Por enquanto, quem decide de onde sai e pra onde vai o dinheiro sou
eu. Penso que eles não vão me amar menos por causa disso. E também não vão ficar
traumatizados por não terem o que todo mundo tem. Muito pelo contrário. Vão
aprender a dar mais valor nas pessoas e não nas coisas que elas têm. Pelo menos
é o que eu, uma mãe utópica, vivendo num mundo dominado pelo consumismo,
espera.