Estava no meio da
entrevista. Depois de ter sido bombardeada pela outra professora – a minha
terceira opção – que tinha cara de boazinha, mas era, na verdade, uma
torturadora sem ressentimentos, finalmente ouvi a voz do meu quase futuro
orientador.
__ Gostaria que você falasse um pouco sobre sua atuação como
blogueira.
Hã? Como assim? Ai, meu Deus, ele lê meu blog! Ele vê as
besteiras que escrevo!
Ele ainda complementou a pergunta. Disse algo sobre a minha
relação com a literatura nas redes sociais, eu acho. Não me lembro.
Esperava qualquer pergunta, menos essa. Mas, se ele
perguntou, queria mesmo que eu respondesse. Não me recordo do que disse. Estava
muito nervosa para me lembrar de qualquer coisa que eu tenha falado naquele
momento. Devo ter respondido o óbvio. Só me lembro de ter ficado cutucando minhas
unhas – isso sempre me acalma quando estou impossibilitada de tacar os dedos na
boca e roê-las todas, até sangrar.
Fiquei imaginando que meu orientador – agora oficialmente -
lia meus textos e ficava analisando cada vírgula das minhas crônicas. Parei de
escrever! Melhor deixar que pensem que você é idiota do que publicar seus
textos e não restar dúvidas (ouvi algo parecido em algum lugar).
Na verdade, mais alguns acontecimentos me fizeram fugir da
escrita. Dias antes da entrevista, tinha participado de uma oficina de crônicas
com um escritor famoso e ele me
fez acreditar que meus textos não chegam aos pés dos seus. Talvez sem intenção,
mas fez! A partir desse dia parei de escrever para o jornal que publicava
minhas crônicas toda semana. Decidi ficar
só com o blog. Pelo menos aqui é um espaço para o qual vem quem quer, ao contrário
do jornal onde minhas crônicas saiam junto com outras publicações tão
importantes, como as notas de falecimento.
Outra coisa que me afastou da minha “produção literária” foi
o fato de eu ter parado de lavar a louça. Fiquei um tempo com a mão machucada e
descobri que meu filho, quando pressionado e chantageado, faz esse serviço
direitinho. Deixei que ele continuasse mesmo depois que a mão sarou. Mas o que
isso tem a ver com escrever? Explico. Cada escritor tem sua maneira de
produzir. Alguns se sentam em frente ao computador e escutam Pink Floyd
enquanto olham para a tela em branco; outros fumam e tomam coca-cola
compulsivamente; outros, ainda, só conseguem pensar no silêncio da madrugada. Eu
produzo enquanto lavo louça. Não que eu seja, assim, uma escritora, mas é como
as ideias surgem para mim: ao esfregar os pratos!
Meu filho está viajando e já faz quase um mês que estou
sendo forçada a fazer terapia para curar meu bloqueio criativo. E que se dane
se meu orientador pensar que escrevo besteiras! Quanto ao cronista fodão da Folha e da Uol,
ele não vai ler meus textos mesmo. Acho que estou curada, por enquanto. Filho,
volte logo! Não aguento mais lavar louça.