sábado, 20 de outubro de 2012

Desculpa, meus amigos. Não assisto novelas


Então, eu, inocente, acreditava que com a chegada da Internet, TV a cabo com trocentos canais, somado à reclamação geral de falta de tempo até para ir ao mercado, as novelas da Globo estariam com os dias contados.
Doce ilusão!  Isso é como uma praga. Não tem como escapar. Até quem nem tem Globo em casa (por opção) é obrigado a saber o que está acontecendo nas benditas novelas. E um dos motivos é porque toda hora tem um amigo diferente comentando na rede social o “desenrolar da trama”. Fazer o que? Não assisto novelas, mas gosto de redes sociais. Vícios são vícios.
Quando era adolescente adorava os folhetins. Passava boa parte das minhas noites em frente à TV. Sentava às seis e levantava lá pelas dez. Hoje acho que foi uma tremenda perda de tempo. A maioria dos meus amigos discorda, eu imagino, pois até hoje fazem isso.
Quando era criança não sabia o que era novela. Tinha uma vaga ideia do que era televisão.  A primeira novela que vi foi Tieta, quando tinha onze anos. Andava, todas as noites, um bom trecho, cheio de buracos e matos. O caminho iluminado por uma fubica (fubica, pra quem não sabe, é uma espécie de lanterna feita com vela e lata de óleo). Ia com minha vó - eu morava com ela na época - ao sítio vizinho com o único objetivo de ver Tieta. Os donos do sítio eram a elite da região porque tinham TV. Uma Telefunken 14 polegadas, em preto e branco, claro. Na hora da novela, alguém tinha de ficar girando a antena para conseguirmos decifrar alguma imagem em meio aos chuviscos. Mas ficávamos lá estáticos. Extasiados.
No ano seguinte mudei pra cidade. Finalmente, “luz” em casa (não, eu não sou tão velha!). E, entre comprar um fogão novo, uma geladeira, colocar vidros nas janelas de casa, ou comprar um chuveiro que esquentasse direito, decidimos que a televisão era mais urgente.  Pra nossa alegria, meu pai comprou logo o aparelho. Usada, é claro. Tínhamos de ligar uma hora antes da novela pra ela ir esquentando. Mas funcionava. A imagem era até melhor que a da Telefunken da vizinha da minha vó.
As novelas me acompanharam por um bom tempo. Mas, em um determinado momento – nem me lembro quando, acho que foi quando comecei o curso de Letras  – descobri que tinha muita coisa interessante pra se fazer das seis às dez – e todos os dias. Lógico que foi um pouco difícil entender que estudar semântica, linguística, latim, teoria literária, ler romances e poemas poderiam ser mais interessantes. Acho que meus professores tiveram um pouco de culpa pela minha indiferença às novelas hoje. Imaginem que eles viviam repetindo que quem ficava acompanhando novelas era alienado. É, devo ter internalizado isso de alguma forma porque ás vezes me pego dizendo essa frase aos meus filhos.
Hoje, quase não tenho tempo de ver TV. E quando “sobra” um tempinho, tenho uma infinidade de canais à minha disposição (pago, infelizmente) e vejo como um completo desperdício de tempo, dinheiro, visão, audição, e outras coisas mais... assistir às novelas da Globo.
Sorry, my friends! Plagiando a frase do meu irmão: “Às vezes fico sem ter o que conversar. Não assisto novelas!” 
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